PARAÍSO 200 ANOS

Samuel da Cocheira

Por: Redação | Categoria: Cultura | 25-10-2021 10:52 | 331
Foto: Arquivo

Feitos importantes para nossa comunidade, levados a efeito por figuras ilustres de nossa sociedade no decorrer desses últimos 100 anos, certamente, estarão sendo relembrados pelas diversas mídias nas comemorações do bicentenário.

Por outro lado, milhares de personagens simples que também tiveram papel importante na construção de nossa história terão seus nomes relegados ao fundo do baú do esquecimento.

No afã de tentar amenizar essa injusta realidade, incumbi-me de eleger um representante desse segundo grupo para fazer dele notícia no contexto das comemorações. - Samuel da Cocheira era sua alcunha.

Os viventes, paraisenses de 80 anos ou mais, haverão de se lembrar do Samuel e da sua atividade no âmbito da sociedade. Ele, no decorrer das décadas de 1930 a 1940, além de ferrador de cavalos, mantinha uma cocheira na Avenida Dr. Delfim Moreira situada nas proximidades da esquina com a rua Genaro Joele.

Nesse período, era comum os habitantes do meio rural virem à cidade montados em cavalos, assim como era comum, em algumas fazendas de médio e/ou grande porte haverem carroções puxados por quatro ou seis burros. E esses animais tinham que ter seus cascos protegidos por ferraduras.

O Samuel, além de dar manutenção às ferraduras dos cavalos e burros do município, hospedava também esses em sua cocheira em suas vindas à cidade.

Em todas as manhãs, assim que clareava o dia, Samuel era visto numa carroça puxada por dois equinos subindo a cava (uma estrada antiga ladeada por barrancos de três metros de altura) que levava até o pico da serrinha, onde havia uma grande área coberta por capim gordura.

Pouco tempo depois Samuel descia a serra, assentado sobre uma enorme carga de capim gordura em sua carroça. Isso era o alimento dos animais que hospedava em sua cocheira.

No início da década de 1940, com o acirramento da Segunda Guerra mundial e a consequente interrupção da importação de gasolina houve um aumento significativo do uso de animais de sela por parte dos ruralistas em suas necessidades de irem e virem à cidade. Com reflexos até na economia do município, nesse tempo foi crucial o trabalho desenvolvido por Samuel.

Do outro lado da avenida, quase defronte à cocheira, via-se a casa de outro personagem, simples, mas famoso por sua elegância na capacidade de exercer a atividade de leiloeiro, o Sr. Artur Pires de Morais. Essa casa ainda resiste de pé e é habitada por sua filha caçula, a professora aposentada da Escola Municipal Interventor Noraldino Lima, Adelina Morais,

A esses e muitos outros que contribuíram, anonimamente, para o desenvolvimento de Paraíso, o nosso sincero tributo.

Clarindo Anacleto de Pádua Netto
Membro Efetivo da Academia Paraisense de Cultura