Há uma grande expectativa em torno dos novos carros da F1 por conta da enorme mudança de regulamento que os tornam totalmente diferentes de seus antecessores. Os que já foram apresentados até aqui mostraram um designer futurista, livres dos apêndices aerodinâmicos e muito mais bonitos.
O regulamento prevê a volta do chamado efeito-solo, um conceito que existiu no passado e foi banido a partir de 1983 por questões de segurança. Não que a F1 tenha engatado marcha à ré ao resgatar um conceito banido há quase quarenta anos. Mas é a concretização de intensos estudos para tentar melhorar as disputas nas pistas e proporcionar mais ultrapassagens.
Mas para isso era preciso mudar o conceito aerodinâmico dos carros. Em resumo, tirar boa parte da função das asas dianteira e traseira e transferir para o assoalho como a principal fonte de geração de pressão aerodinâmica, a força que gruda o carro no asfalto.
Mas por que essa mudança? Porque com o modelo de carros usados até o ano passado, tornava-se quase impossível o carro de trás seguir o da frente de perto para fazer a ultrapassagem. Quanto mais o carro que vinha atrás se aproximava do da frente, mas ele perdia sustentação aerodinâmica (aderência), dificultando as ultrapassagens.
Uma solução para amenizar o problema foi a introdução do DRS, a asa móvel, há alguns anos. Mas ela facilitava apenas na reta. O DRS será banido aos poucos, mas por enquanto continuará presente nos carros desse ano. Para se ter uma ideia do que o novo regulamento propõe, até o ano passado, a 20 metros de distância, o carro de trás perdia 35% da pressão aerodinâmica; agora à mesma distância, o de trás perderá apenas 4%; a 10 metros do adversário, a perda era de 47% e agora será de 18%. A partir de agora será possível que o piloto que vem atrás consiga contornar uma curva embutido na caixa de câmbio do adversário que vai à sua frente para pegar o vácuo e fazer a ultrapassagem na reta.
A geração de pressão aerodinâmica vinda do assoalho dos carros os tornará muito mais velozes em curvas. E dentre as muitas mudanças, estão também as novas rodas de 18 polegadas em substituição às de 13 polegadas usadas até o ano passado. Os pneus terão perfil mais baixo, e as rodas serão cobertas com calotas para que o ar gerado em torno delas não crie turbulência para o carro que vem atrás.
E a história está cheia de exemplos de quando há uma grande mudança de regulamento, a relação de forças da F1 pode mudar significativamente. Ao final da temporada passada Mercedes, Red Bull, Ferrari e McLaren fecharam o Mundial de Construtores nessa ordem. A Mercedes venceu o 8º campeonato seguido entre as equipes, um recorde na F1. Não será surpresa se essa ordem se inverter quando a temporada começar no próximo dia 20 de março no Bahrein. Como também não será surpresa se uma equipe do meio do pelotão entender melhor as regras e fazer um carro superior aos demais.
Todos os projetistas partiram de uma página em branco no projeto de seus carros. As mesmas chances que o time de projetistas liderados por James Allison da Mercedes tem com as novas regras, os da Haas, lanterna do campeonato do ano passado, liderados por Simone Resta, também têm. É claro que não se pode comparar o poderio da Mercedes com a Haas, ainda que todas as equipes tenham que trabalhar dentro do teto orçamentário de US$140 milhões. Essa é mais uma regra que punirá as equipes com mais dinheiro para gastar. Mas todos começam partindo do zero em seus projetos e o regulamento criou amarras para evitar ao máximo que os projetistas consigam burlar as regras.
A semana foi agitada com os lançamentos dos novos carros, da Haas, Red Bull, Aston Martin e McLaren. Na próxima semana será a vez de Alpha Tauri, Williams, Ferrari e Mercedes. Mas a ordem é esconder ao máximo seus segredos até o GP do Bahrein.