POLEPOSITION

Tacada de mestre e a chiadeira

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 13-03-2022 08:41 | 2412
A entrada de ar lateral da Mercedes ficou minúscula e surpreendeu até quem fez o regulamento
A entrada de ar lateral da Mercedes ficou minúscula e surpreendeu até quem fez o regulamento Foto: F1 / Reprodução

A pré-temporada da F1 termina hoje, o campeonato começa no próximo final de semana lá mesmo no Bahrein onde as equipes estão reunidas desde a quinta-feira, mas nem começou e já tem polêmica no ar. A Mercedes levou uma nova atualização do modelo W13, totalmente distinto do que treinou semana passada na Espanha, ao ponto de surpreender Ross Brawn, um dos idealizadores do novo regulamento deste ano.

A principal mudança nos carros de Lewis Hamilton, e seu novo companheiro de equipe, George Russell, está nos sidepods, as caixas de entrada de ar e dos radiadores nas laterais do carro (destaque na foto). O da Mercedes ficou minúsculo, e causou chiadeira no paddock do Circuito de Sakhir, palco da primeira corrida do ano.

O projeto foi tão significativo que Brawn reconheceu “não há dúvidas de que não antecipamos o conceito da Mercedes, é uma interpretação muito extrema do regulamento”.

Ross Brawn que foi diretor-técnico da Benetton e da Ferrari nos tempos de Michael Schumacher, e campeão com a extinta equipe que levava seu sobrenome, em 2009, é um dos diretores da Liberty Media, dona dos direitos comerciais da F1, e quem montou uma equipe técnica para elaborar o novo regulamento desse ano que resgata um velho conceito que existiu na F1 entre o final dos anos 70 e começo dos 80, o chamado “efeito-solo”, onde a principal geração de pressão aerodinâmica, a força que empurra o carro contra o solo, grudando-o no asfalto vem do assoalho, reduzindo o desempenho das asas dianteira e traseira.

O objetivo do novo regulamento é reduzir a turbulência do ar gerada pelo carro que vai à frente, a fim de tornar possível o carro que vem atrás de se aproximar do da frente. Na prática, é tornar menos difícil as ultrapassagens. Mas para isso foi preciso partir do zero. Todos os projetistas tiveram que iniciar seus projetos a partir de uma página em branco de computador. Não foi utilizado um parafuso sequer dos carros do ano passado, e diante das amarras que a equipe técnica liderada por Ross Brawn impôs em anos de estudo até que o regulamento ficasse pronto, houve quem dissesse que se todos os carros fossem pintados de uma mesma cor, ninguém saberia distinguir de qual equipe seria.

Mas para o bem dos fãs e da própria F1 isso não aconteceu, e o que se viu desde a primeira sessão de testes de pré-temporada realizada no mês passado, na Espanha, foi uma variedade de projetos como há muito não se via na F1. “Por mais que você tente fechar todas as opções e, acredite, fechamos centenas delas, a inovação na F1 é sempre extrema”, disse Brawn em entrevista no Bahrein.

A tacada de mestre dos projetistas da Mercedes foi encontrar brechas no regulamento que permitiu reduzir a largura da carroceria do carro, ampliando a área livre para o ar passar sobre o assoalho, e consequentemente ter um melhor desempenho aerodinâmico. O carro da Mercedes foi aprovado pelos técnicos da Federação Internacional de Automobilismo, mas diante da chiadeira de outras equipes, pode até levar a entidade a emitir alguma diretiva técnica para analisar melhor o modelo W13.

Toto Wolff, chefe da equipe, não se mostrou preocupado com os questionamentos levantados pelos adversários perante a inovação de seus carros, mas há uma regra na F1 em que caso 80% das equipes se mostrarem contrária a alguma solução implantada em um carro, a mesma pode ser impedida de ser usada, o que seria a essa altura, um duro golpe na Mercedes.

Até o fechamento desta coluna o zun-zun-zun era grande, o que é comum na F1 sempre que alguém traz uma solução inovadora e não há tempo hábil de ser copiado. Mas pode anotar: quando a Mercedes for para a pista na primeira sessão de treinos livres para o GP do Bahrein na próxima sexta-feira, vai chover protestos e questionamentos na sala dos comissários da FIA.