ELA por ELA

VERA LÚCIA DE ARAÚJO NUNES

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 14-03-2022 10:06 | 1070
Vera Lúcia de Araújo Nunes
Vera Lúcia de Araújo Nunes Foto: Arquivo

Agilidade, seriedade, competência. Quem vê Vera Lúcia de Araújo Nunes atrás do balcão de um dos mais tradicionais estabelecimentos comerciais da cidade, talvez não imagine a pessoa bem humorada, espirituosa e, em suas próprias palavras, atrapalhada, que ela é. Também poucos a reconhecem por seu nome oficial, mas bastou mencionar Vera da Chopani que seus clientes e amigos abrem um largo sorriso. Nesta semana do Dia Internacional da Mulher, Vera é a escolhida para representar todas as guerreiras que, com suas lutas e conquistas, certamente fazem do mundo um lugar melhor. Aos 67 anos muito bem vividos, Vera compartilha sua trajetória de muito trabalho e realizações.

Vera, nos conte sobre suas origens. Algum fato especial marcou sua infância? 
Nasci em Mauá, no ABC paulista. Sou a penúltima de sete irmãos. Nossos pais já são falecidos. Meu pai, Celso Augusto Antunes, faleceu quando eu ainda era criança. E minha mãe, Maria Amaziles de Araújo faleceu há alguns anos, já aqui em Paraíso. Tive uma infância tranquila, de brincar na rua até tarde... Me recordo que nos mudamos para um bairro novo e me marcou os tratores trabalhando e os trens maria-fumaça que passavam por lá! Era pequena e ficava assustada com aquilo, morria de medo! (risos)

Que lembrança você guarda do tempo de escola?
Lembro bem da primeira professora, Dona Maria Eunice! E me recordo também do curso de datilografia, requisito básico para jovens daquela época. Tempo bom!

Como se deu sua vinda para Guaxupé e posteriormente para São Sebastião do Paraíso?
Já estava casada e tínhamos uma padaria em Mauá. Sofremos diversos assaltos e ficamos com vontade de nos mudar. Daí nosso compadre nos falou sobre Guaxupé. Fomos conhecer, gostamos da cidade, nos mudamos e montamos uma excelente padaria lá, a Panificadora Rainha, em sociedade com meu cunhado. Depois de algum tempo meu esposo quis mudar para Paraíso e montar outra padaria aqui, mas ele veio a falecer. Daí fiquei mais um tempo em Guaxupé, mas continuei com esse desejo, me mudei para Paraíso e durante aproximadamente dois anos fui proprietária da Panificadora Rainha, que ficava ao lado do Edifício Ouro Verde.

Como foi o início de sua vida profissional?
Aos 17, 18 anos fui balconista de padaria antes de ter minha própria panificadora. A vida atrás do balcão! (risos)

Gosta de lidar com o público?
Muito! É bom demais! A gente é amiga, conselheira, psicóloga... Quando o tempo permite, sento com os clientes e converso. Percebemos que muitos necessitam de atenção. Eu adoro!

Como surgiu a oportunidade de trabalhar em um dos estabelecimentos mais tradicionais da cidade, a Chopani?
Ainda estava com a padaria, mas já cansada. Meu genro ficou sabendo que estavam precisando de uma pessoa com minhas características e me indicou. Fiquei enrolando e não fui lá pra conversar. Daí ficaram me ligando e lá se vãos quase 30 anos. Ali é uma família! Sou muito grata ao Márcio, ao Carlinhos, tinha muita amizade com o saudoso garçom Marquinho, tão querido por todos e que vivia me pregando peças! (risos) Nosso slogan é Chopani faz amigos e histórias, uma grande verdade.

Qual o segredo para agradar os clientes?
Olha, trabalhar em comércio, ainda mais em padaria, restaurante, e quando entrei na Chopani ainda havia os dois, (daí o nome Choperia e Panificadora), não é fácil. Não temos final de semana, feriado. De vez em quando bate o cansaço, um stress, daí tiramos uma folga e logo estamos refeitos, cheios de energia para continuar. Mas o segredo é carisma, educação e gostar do que faz. E realmente gosto. Se preciso vou até pra cozinha. Tem freguês sisudo, que não gosta de conversa, mas aos poucos a gente começa a conversar, estabelece uma amizade e conseguimos desamarrar a cara dele! (risos)

Tendo escolhido Paraíso para viver, o que você considera que a cidade tem de melhor e o que poderia melhorar?
No começo a gente estranha, a adaptação leva um tempo. Mas fui muito bem acolhida! Não sei o que pode melhorar, pra mim aqui é um Paraíso! Me sinto daqui, paraisense de coração! Afinal foi o lugar em que vivi a maior parte da minha vida. Aqui é minha casa.

Nos conte sobre a família que constituiu.
Minhas filhas, Débora e Elaine, são maravilhosas! Meus genros são os filhos que não tive. Fazem tudo por mim! E meus netos, Lucas, Pedro Henrique e Laura são minhas razões de viver! Laura, faz aniversário hoje e desejo a ela e a todos os netos o melhor da vida. Minha família é tudo pra mim!

O que costuma fazer nas horas de folga? Tem algum hobby?
Sou mais caseira. Adoro cozinhar! Faço pão e o Carlinhos (Chopani) adora, sempre me pede! Além da relação profissional somos amigos, tomamos café. É como um irmão, um pai. E também gosto de música, em especial do cantor Daniel, de quem sou muito fã! Já fui a vários shows, gravação de DVD. Um artista e pessoa admirável! E da nova geração indico a dupla de ciganos Edy Britto & Samuel, excelentes!

Mesmo após a aposentadoria você optou por continuar trabalhando. Qual a maior motivação?
Gosto do que faço, dos patrões, clientes e não quis ficar em casa. Os clientes/amigos têm total confiança em nosso trabalho. E agora como é esporádico, ficou mais tranquilo. Quando fazemos o que gostamos não sentimos. Quando me aposentei em dezembro de 2019 recebi uma placa linda que guardo com muito carinho. Ela tem os dizeres: “Querida Vera, tivemos a honra de contar com a sua dedicação, comprometimento e cumplicidade durante 27 anos. Você é parte importante da nossa história. Receba os sinceros agradecimentos da Equipe Chopani”. É uma relação de muita cumplicidade. Não há pagamento melhor!

Você demonstra ser uma pessoa muito séria e rígida. É isso mesmo?
Totalmente ao contrário! Sou muito atrapalhada! Em minha primeira viagem de avião, para o Sul, quis descer do avião igual aos artistas, mas me atrapalhei ao calçar os sapatos e desci com eles em pés trocados. Quase morri de vergonha! Já quebrei caixa eletrônico, sem querer claro! (risos). 

No último dia 8 foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Crê que vocês já conquistaram tudo?
Ainda não. Os salários são desiguais, em muitas áreas ainda somos deixadas de lado. Trabalhamos fora e em casa. Mas vale a pena ser mulher e lutar. Parabéns para nós! Tínhamos que ser mais valorizadas, afinal todos nasceram de uma mulher. A mulher merece tudo!

Você é uma mulher de fé?
Muita! Sou católica e devotíssima de Nossa Senhora. Também tenho meus Anjos de Guarda. Na nossa vida passamos por perrengues, momentos difíceis, por exemplo saúde dos filhos quando criança, e o que nos sustenta é a fé.

Vera, qual o balanço você faz de sua trajetória? Algum sonho a realizar?
Valeu a pena! Abrimos mão de algumas coisas, principalmente pelos filhos, mas não faria nada diferente. Em relação a sonho, gosto muito de viajar, conviver com outras pessoas e culturas, conhecer novas comidas, volto renovada! Morro de vontade de conhecer a Terra Santa e o Egito. E também o Daniel! (risos).

Para encerrar, gostaria de dizer o quanto estou grata e honrada por poder compartilhar com vocês um pouco da minha história. Senti também que pude representar um pouco essas guerreiras que somos nós mulheres, já que estamos na semana do Dia das Mulheres, e tudo isso se deu ainda quando estou encerrando uma etapa da minha vida, com a chegada da aposentadoria. Fechei esta etapa com chave de ouro! Muito obrigada a vocês do Jornal do Sudoeste.