POLEPOSITION

Vale a pena correr em Jeddah?

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 03-04-2022 04:21 | 824
Em pista perigosa, Verstappen e Leclerc protagonizaram duelo empolgante pela vitória no GP da Arábia Saudita
Em pista perigosa, Verstappen e Leclerc protagonizaram duelo empolgante pela vitória no GP da Arábia Saudita Foto: Sutton

O Circuito Corniche, em Jeddah, não é pista de corrida na minha opinião. As duas experiências no curto espaço de três meses entre uma corrida e outra, na Arábia Saudita, já deram para sentir que a F1 está brincando com a sorte nesse circuito de rua de altíssima velocidade, com 27 curvas, muitas delas cegas, sem área de escape e cercado por muros de todos os lados. Os destroços do que sobrou da Haas de Mick Schumacher durante a classificação de sábado  é a prova de que quando se bate nessa pista traiçoeira, o estrago é grande, e as consequências podem ser incalculáveis. A batida violenta do filho do heptacampeão, Michael Schumacher, foi de 33G de força. Felizmente Mick saiu ileso - por recomendação médica não correu no domingo -, mas poderia ter sido pior.

No ano passado a corrida foi tensa por conta dos riscos em que os pilotos estão expostos nesse longo traçado de 6.174 metros. As melhorias feitas para esse ano foram imperceptíveis, e o pouco que fizeram não acrescentou muita coisa para assegurar maior segurança de um traçado com média horária de absurdos 242 km/h em se tratando de circuito de rua e velocidades máximas acima dos 330 km/h.

Em dezembro passado, na estreia do GP da Arábia Saudita no calendário da F1, o mesmo Mick Schumacher também bateu forte durante a corrida, provocando uma bandeira vermelha para reconstrução da barreira de proteção. A paralisação da classificação do último sábado demorou longos 57 minutos para limpeza da pista e reconstrução das barreiras de proteção. Só para retirar Mick Schumacher do carro, foram 9 minutos de angústia.

E a equipe norte-americana tem mais que agradecer por seus pilotos terem escapado com vida de duas tragédias no Oriente Médio em menos de dois anos. A outra foi com Romain Grosjean que sobreviveu apenas com queimaduras nas mãos depois de um terrível acidente no Bahrein, quando o carro do hoje piloto da Andretti, na F-Indy, explodiu no guard-rail e Grosjean saiu milagrosamente do meio do fogo.

E não bastasse o perigo na pista, o GP da Arábia Saudita começou tenso na sexta-feira com o atentado terrorista a um reservatório de combustível da estatal Aramco, principal patrocinadora da F1, que causou uma explosão gigantesca há 12 km de distância, levando dirigentes, chefes de equipes e pilotos a discutirem a possibilidade de cancelamento da corrida, coisa que não aconteceu diante da pressão dos milhões de dólares que estavam envolvidos no evento.

O GP da Arábia Saudita é um dos mais bem pagos da F1, e autoridades locais deram garantia de segurança, mas por outro lado os pilotos reclamavam da falta de segurança da pista.

Pelo menos a corrida foi boa, com belas disputas, a principal delas de tirar o fôlego entre Charles Leclerc e Max Verstappen que venceu a prova depois de ultrapassar o monegasco da Ferrari na última volta. Em duas corridas, os dois protagonizaram duelos de gigantes, que resultaram em 11 trocas de posição pela liderança. E o mais legal, tudo dentro da lealdade sem jamais um deixar de dar espaço suficiente para o outro na pista.

O novo regulamento da F1 mexeu com a relação de forças. A Ferrari renasceu, a Mercedes perdeu rendimento, a McLaren andou para trás, e a Haas que ninguém apostava um tostão furado está sendo a sensação até aqui, pontuando nas duas provas disputadas. E muita coisa ainda pode acontecer já que estamos apenas na segunda etapa de 23.

Charles Leclerc lidera entre os pilotos com 45 pontos contra 33 de Carlos Sainz e 25 de Verstappen. Entre os construtores, a Ferrari é líder com 78 pontos contra 38 da Mercedes e 37 da Red Bull.