Lewis Hamilton tem vivido dias agitados dentro e fora das pistas. No domingo ele deixou Melbourne após terminar em 4º o GP da Austrália, voou para a Malásia num evento promocional da Petronas, parceira e fornecedora de combustível da Mercedes; Fez um rápido pit stop em Londres, na terça à noite desembarcou em São Paulo, e na quarta-feira deu uma palestra motivacional em um evento de transformação e tecnologia digital.
Contou sua história, das dificuldades que enfrentou na vida para levar adiante o sonho de ser piloto, do pai que precisou trabalhar em quatro empregos para lhe bancar no kart, do bullying que sofreu na escola por ser negro, do racismo, de diversidade no esporte. Falou também de saúde mental, que como uma pessoa qualquer, “há dias em que acho que não sou bom o suficiente”. Seus negócios fora das pistas também estavam na pauta, e proferiu uma frase que diz muito: “Não existe alta performance sem riscos”.
Com cerca de 8 mil pessoas presentes ao evento, Hamilton disse que nunca havia falado para tantas pessoas, e postou em suas redes sociais, “Há um pouco de Brasil em mim”! A cereja do bolo foi quando disse em tom de brincadeira, “estou esperando o meu passaporte brasileiro”!
Vozes presentes ao evento disseram que a plateia foi ao delírio. Hamilton foi aplaudido de pé. E como não é surpresa para ninguém, não faltou menção ao seu ídolo declarado, Ayrton Senna. Hamilton disse que quando criança, assistia todos os dias vídeos das corridas de Senna, e que na primeira vez que veio ao Brasil, em 2007, seu primeiro ano na F1, se sentiu muito próximo de Senna.
Hamilton não precisa de marketing. Com 7 títulos mundiais de F1, recordista absoluto de pole positions e de vitórias (103 cada), tem história, fama e carisma suficientes para precisar fazer média. O que ele fez em Interlagos no ano passado ao desfilar com a bandeira do Brasil depois de uma vitória épica, e subir ao pódio enrolado à bandeira, não foi para agradar ninguém ou conquistar torcida, e o que disse na palestra a respeito do Brasil não foi apenas para arrancar aplausos. No fundo, ele se sente confortável aqui, se sente em casa. Então, que seja sempre bem-vindo, Hamilton!
Em sua décima sexta temporada na F1 ele disse manter a mesma gana de sempre. Mas o campeonato começou complicado para o heptacampeão, que perdeu o 8º título no ano passado nos metros finais da última volta do GP de Abu Dhabi numa controversa decisão marcada por falhas do ex-diretor de prova, Michael Masi. O carro da Mercedes deste ano nasceu com problemas aerodinâmicos que resultaram na perda da hegemonia do time alemão que vinha dominando a F1 desde 2014. Foram oito títulos consecutivos da Mercedes e quem olha apenas para a classificação do campeonato de Construtores e vê a equipe na vice-liderança, atrás da Ferrari, pode ter a falsa impressão de que a Mercedes esteja no páreo. Isso tem mais a ver com os três abandonos da Red Bull (dois de Verstappen e um de Sergio Pérez) em três corridas disputadas até aqui.
A diferença de 39 pontos que separa a Mercedes da Ferrari mostra que a equipe de Hamilton e George Russell já não tem a mesma força de antes por conta das mudanças de regulamento. Mas estamos falando de Mercedes, então, não se pode subestimar sua capacidade de reação.
Após três corridas, Hamilton ocupa a 5ª posição no campeonato com 28 pontos. O líder é Charles Leclerc da Ferrari com 71 pontos, seguido pelo novo companheiro de Hamilton, George Russell com 37, também em função dos abandonos de Verstappen e Carlos Sainz, na Austrália. Mas Hamilton falou de superação e motivação na palestra. E o campeonato é longo, estamos apenas na terceira de 23 corridas.