O semáforo fecha. Da janela do seu carro você vê um senhorzinho encurvado, com panos em um braço e uma placa no outro onde se lê em letras garrafais: “04 PANOS DE LIMPEZA R$ 10,00”. Quem é este homem? Por que ele está ali? Pense em uma pessoa com história. Agora multiplique por dez. Trabalhador rural, domador de burros e cavalos, mestre de obras, carpinteiro, furador de poços, comerciante, vendedor ambulante... Nosso entrevistado já foi ao fundo do poço, literalmente! Do fundo de uma cisterna, foi socorrido com a ajuda de um menino. Menino por sinal é o espírito de Antônio Horácio de Oliveira. Aos 87 anos, recém completados no último dia seis de abril, Antônio é um ser curioso, bom de papo e muito temente a Deus. Também conhecido por Senhor Antônio dos Panos ou Nenzico na intimidade, eis um grande exemplo de ser humano. Seu sobrenome também poderia ser trabalho e é por essa força que o move que Antônio é o escolhido do JS para homenagear todos os trabalhadores neste 1º de maio.
Senhor Antônio, nos conte sobre suas origens. O senhor começou a trabalhar muito cedo, certo?
Nasci na Fazenda Tamborete, em Capitólio. Sou o nono dos 12 filhos de Horácio Alves de Oliveira e Maria Joana de Jesus. A fazenda era de meu pai e lá aprendi a lida desde pequeno. Aos sete anos comecei a trabalhar ferroando bezerro, guardando no curral. Aos nove peguei a enxada, carpia tudo por lá. Com 13 já trabalhava igual um homem adulto. Com 14 amansava cavalo, burro e montava em rodeio!
Além da labuta na roça, que outras atividades o senhor exerceu?
Nossa, já fiz de tudo que você pensar! Aprendi a fazer casa de adobe, me tornei mestre de obras. Aos 24 anos deixei a fazenda do meu pai e passei a ganhar dinheiro administrando as fazendas dos outros, pois já sabia muito sobre a terra.
O senhor é aposentado?
Sou aposentado como mestre de obras. Trabalhei em construtora aqui em Paraíso, mas era para ter me aposentado melhor, fui prejudicado, mas não reclamo, só agradeço. O trabalho pra mim é tudo! Detesto gente preguiçosa e olha que tem até na minha família. Meus pais e avós me ensinaram o valor do trabalho e do respeito.
O que o levou a vender panos nas ruas da cidade?
Essa história começa em Guarulhos, quando fui visitar uma sobrinha. Perto da casa dela tem uma fábrica de panos. Fui conhecer e o dono era de Guaranésia. Na época eu morava em Ribeirão Preto. Comprei 100 panos e fui pra rua. Em pouco tempo vendi tudo e comprei mais 100. Quando voltei pra casa descobri que o Paulo, o dono da fábrica, estava montando outra lá em Ribeirão. Comecei vendendo também para ajudar as casas de recuperação que eu tomei conta. Não gosto de ficar parado, mas o médicos pediram pra eu dar uma segurada.
Já vivenciou alguma situação desagradável na rua ou as pessoas são educadas com o senhor?
Graças a Deus nunca fui maltratado. E olha que sou muito franco, falo o que precisa ser falado! (risos)
Nos conte sobre a família que constituiu.
Me casei com Umbelina aos 20 anos, ainda em Capitólio. Tivemos quatro filhos, 14 netos, cinco bisnetos e um tataraneto. Minha esposa cuidou dos meus pais. Minha mãe em especial, era muito ligada a ela. Com o tempo nos separamos e depois fiquei viúvo. Mas ficou a gratidão por tudo. Amo meus filhos e toda família!
Amanhã celebraremos o Dia do Trabalho e do Trabalhador. Qual a importância do trabalho na sua vida?
Me sinto feliz em trabalhar. O trabalho dá ânimo, saúde, coragem e dignidade. Traz tudo que a gente precisa, um bom nome... Qualquer trabalho é exemplo. Todos são importantes. Mas pra falar de trabalho, o homem do campo tem que vir primeiro. Todos dependem dele e precisaria de mais valor!
Como veio parar em São Sebastião do Paraíso?
Aos 11 anos conheci a cidade, acompanhando minha mãe em um tratamento médico. Fiquei hospedado no Minas Hotel, perto da Estação. A Santa Casa era pequena, muito diferente do que é hoje... Ela foi tratada pelo Dr. Urias e enquanto estava internada eu rodava a cidade toda. Dizem que quem toma a água daqui sempre volta. Pois eu morei aqui por 17 vezes.
Recentemente nossa cidade completou seu bicentenário. Que presente gostaria de dar para Paraíso?
Há cinco anos estou direto aqui. A cidade cresceu muito, pra mim já passou há muito tempo de 100 mil habitantes. Waldir Marcolini foi o maior de todos! O prefeito Marcelo está fazendo um bom trabalho, cabe a ele saber dialogar, pedir para conseguir mais. Acho que a cidade precisa de mais faculdade. Todos ganham, o comércio, tudo movimenta. Agora tem uma nova, mas penso que onde era o antigo fórum deveria ter outra. Esse seria o melhor presente!
O que deseja para o trabalhador paraisense?
Eu desejo para todo trabalhador, do juiz ao catador de lixo, do policial ao professor, muita saúde, felicidade e um forte abraço! Que Deus abençoe os empresários e comerciantes, que dão empregos. Todos crescem juntos!
E para aqueles que estão desempregados. Poderia dar algum conselho ou incentivo?
Muita coragem! O trabalho não bate na porta de ninguém. Se a firma quebrou e você perdeu o emprego, seja corajoso. Quem faz o patrão é o empregado. Se for um bom funcionário terá um carta de apresentação, tente se encaixar em outro trabalho, aprenda algo novo.
O que costuma fazer nas horas de folga?
Quando era mais novo gostava de sair pra comprar cavalo, burro... Agora quando não estou lendo a Bíblia, um jornal, gosto de escrever sobre o que vejo de interessante. Tenho um monte de agenda e vou anotando tudo. Daí passo aquela informação para uma pessoa amiga, um desempregado. Também levo a palavra. Me sinto bem em ajudar!
Senhor Antônio, qual o balanço faz da sua caminhada até aqui? Faria algo diferente?
Em tudo que já passei, que peguei para fazer, consegui. Muitas vezes com dificuldade, mas Deus me deu sabedoria para fazer muita coisa. E gosto de fazer bem feito! O que me deixa mais feliz é que conheci a palavra de Deus e posso falar sobre o amor Dele para toda criatura. Temos a obrigação de visitar a família, os amigos. E sou um abençoado pois tenho as portas abertas em todos os lugares. Cuidar um dos outros é a verdadeira escola!