O título faz parte da gíria que está na moda quando alguma coisa dá errado. Quem não aguentava mais o domínio da Mercedes na F1 pode comemorar a má fase da equipe alemã que no ano passado venceu pela 8ª vez seguida o Mundial de Construtores e Lewis Hamilton perdeu o que seria seu 8º título nos metros finais do GP de Abu Dhabi.
A história mudou. “Estou fora do campeonato e não há dúvida sobre isso”, disse Lewis Hamilton após o desastroso GP da Emilia Romagna, quando virou retardatário.
O rádio do chefe da Mercedes, Toto Wolff, para Hamilton, pedindo desculpas pelo carro inguiável, é emblemático. A verdade é que a Mercedes errou no projeto do modelo W13 que ficou na mira de protesto dos adversários quando apareceu para a última sessão de testes de pré-temporada com atualizações que causaram reboliço no paddock do Circuito de Sakhir com o minúsculo sidepods, aquela caixa na lateral de entrada de ar que acomoda os radiadores. Era algo totalmente diferente de tudo que os outros projetistas tinham pensado. Mas também era uma incógnita; não havia meio termo: ou daria muito certo, ou muito errado. Deu errado. ‘Deu ruim’ para a Mercedes.
Antes da corrida de domingo, Hamilton comparou o W13 da Mercedes ao MP4/24 da McLaren de 2009, que segundo ele foi o pior carro que já pilotou na F1. O heptacampeão revelou ao site inglês ‘Autosport’, que naquele ano os aerodinâmicistas da McLaren subestimaram o regulamento que reduzia em 50% a pressão aerodinâmica dos carros, convencidos de que haviam atingido o objetivo proposto pelo regulamento, mas quando começou a pré-temporada, todos os adversários tinham mais pressão aerodinâmica (força que empurra o carro contra o solo, grudando-o no asfalto) que a McLaren.
Até a metade do campeonato de 2009 Hamilton havia conseguido apenas um 4º, 6º e 8º lugares. Mas a equipe reagiu e na segunda metade ele obteve duas vitórias, um 2º, dois 3º lugares e quatro pole positions. Terminou o ano em 5º com 49 pontos.
Hamilton frisou que a Mercedes não subestimou o regulamento deste ano, mas os testes em túnel de vento apontam uma direção e na pista a resposta tem sido outra.
Um dos maiores problemas que a Mercedes enfrenta é com o chamado ‘porpoising’, um fenômeno em que o fluxo de ar sob o carro é interrompido quando passa sobre irregularidades do asfalto, o que faz com que o carro quique intensamente e como consequência ocorre a perda de velocidade e equilíbrio, além de causar desconforto ao piloto.
Todas as equipes sofrem desse fenômeno, umas mais, outras menos, por causa do efeito-solo, mas a Mercedes sente mais os efeitos. George Russell disse que sentiu dores pelo corpo após a corrida de Imola de tanto que o carro pulava.
Para amenizar o problema a Mercedes tem andado com a altura do assoalho mais elevada em relação ao asfalto, o que compromete a velocidade de reta. Quanto mais rente ao chão, mais pressão aerodinâmica será gerada por esses novos carros.
Em outras palavras, a Mercedes tem um carro lento, difícil de aquecer os pneus e instável. Hamilton passou mais da metade do GP da Emilia Romagna empacado atrás de Pierre Gasly sem conseguir ultrapassar. Terminou em 13º.
Apesar das deficiências do carro, o desempenho de George Russell tem sido melhor que o de Hamilton e é o único piloto até aqui a terminar todas as corridas entre os 5 primeiros.
O jovem britânico ocupa a 4ª posição com 49 pontos. Já Hamilton tem sofrido mais com as instabilidades do W13 e é apenas o 7º colocado com 28 pontos. O líder do campeonato é Charles Leclerc, da Ferrari, com 86, mas jogou fora pontos importantes em Imola que assistiu à epopeia de Max Verstappen (Red Bull), pole position, vencedor da sprint de sábado e da corrida principal do domingo.