George Russell esperou tanto pelo melhor carro da F1 e justamente na sua vez a Mercedes errou a mão no projeto do modelo W13 depois de oito anos de domínio absoluto.
Não, Russell não disse isso, mas me lembrou de uma frase que está no livro “Imola 94”, do jornalista Flavio Gomes, em que relata um resmungo de Ayrton Senna após testar a Williams FW16 em 1994. Era o carro dos sonhos de Senna que havia trocado a McLaren, mas assim como esse ano, diante de uma grande mudança de regulamento, a Williams errou no projeto. “Bem na minha vez c**** no carro”, teria dito Senna, aborrecido com o desempenho do carro com o qual alguns meses depois perderia a vida em Imola.
Russell passou os últimos três anos se arrastando com a Williams e ao mesmo tempo se destacava com o pior carro do grid. Nas poucas vezes em que teve a chance, avançou nas classificações e nas corridas. O ponto alto foi no ano passado com o 2º lugar no grid para o GP da Bélgica e a mesma posição na corrida que teve apenas duas voltas atrás do Safety Car por causa de chuva. Mas sua marca já estava gravada; Russell é uma estrela em ascensão da F1. E muita gente no paddock da F1 se perguntava por que tanto talento desperdiçado na Williams, até que finalmente surgiu a esperada vaga na Mercedes, da qual fazia parte da academia de formação de jovens pilotos.
E eis que bem na sua vez a Mercedes errou no projeto. Mas por outro lado não apaga o brilho do jovem inglês de 24 anos que chegou com a difícil missão de ter Lewis Hamilton como companheiro de equipe.
Se num primeiro momento fazia sentido imaginar que Russell estaria lá para aprender com Hamilton, os contornos que a vida dá mudaram o curso e é Russell quem está dando trabalho para Hamilton. Não que o heptacampeão esteja desmotivado ou já pensando na aposentadoria que não deve estar tão longe, mas nesse começo de campeonato ele tem sofrido mais com o comportamento na pista do problemático carro da Mercedes do que o novo companheiro de equipe.
É verdade que Russell tem dado mais sorte do que Hamilton tanto nas estratégias de corrida como também estar no lugar certo e na hora certa. Na Austrália ele deu sorte de trocar os pneus no exato momento em que o Safety Car entrou na pista e terminou em 3º, uma posição à frente de Hamilton.
Em Ímola ele largou de 11º e ganhou várias posições na confusão que se formou do toque de Daniel Ricciardo em Carlos Sainz na primeira volta e terminou em 4º, enquanto Hamilton passou a corrida inteira em 14º atrás de carros mais lentos que não conseguia ultrapassar.
Domingo passado, mais uma vez Russell deu sorte de trocar pneus durante um Safety Car provocado pela batida entre Lando Norris e Pierre Gasly, mas não se pode tirar os méritos de sua de leitura de corrida. Já no limite de sua janela para troca de pneus, Russell questionou seu engenheiro se não podia esperar mais um pouco na pista, apostando num Safety Car. Dito e feito. Poucas voltas depois o carro de segurança entrou na pista e Russell pode fazer a troca e terminar em 5º, novamente à frente de Hamilton, mesmo tendo largado de 12º enquanto Lewis largou de 6º.
Entre consistência, visão de corrida e sorte, Russell é o único piloto até aqui a terminar todas as cinco corridas disputadas entre os cinco primeiros colocados, o que o coloca na 4ª posição do campeonato com 59 pontos, 23 a mais que Hamilton (6º).
O líder do campeonato é Charles Leclerc com 104 pontos, seguido de Max Verstappen cada vez mais perto com 85.