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NEUSA MIRANDA

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 05-06-2022 10:02 | 1108
Neusa Miranda
Neusa Miranda Foto: Acervo pessoal

Natural da querida cidade vizinha de Jacuí, Neusa Miranda tem uma história de muita luta e superação. Ainda jovem casou-se e estabeleceu-se em Uberlândia, cidade do Triângulo Mineiro onde viveu por 16 anos. Lá, concomitante às tarefas domésticas, trabalhou muito, inclusive vendendo deliciosos doces feitos por ela mesma. Após divorciar-se, nossa entrevistada guerreira mudou-se com a cara e a coragem para São Paulo, cidade que só conhecia pela televisão. Ao lado dos filhos, Lígia Regina e Elvson Cezar, à época ainda adolescentes, e com muito trabalho e união de todos, Neusa viveu 18 anos na capital paulista. De volta ao interior por influência dos filhos, Neusa estabeleceu-se em São Sebastião do Paraíso onde, há oito anos, comanda a charmosa Cantina Panela Quente. Confira a trajetória de uma mulher brasileira que, aos 63 anos, tem muita disposição, garra e talento para alcançar seus objetivos e realizar seus sonhos.

Neusa como foram os primeiros anos em Jacuí? 
Nasci na zona rural de Jacuí, sendo a segunda dos sete filhos do casal Lázaro de Souza Miranda e da minha saudosa mãezinha Júlia Pereira Miranda. Tive uma infância boa, mas as coisas eram muito mais difíceis do que hoje. Não tínhamos nem energia elétrica, tudo era manual. Mas havia fartura de frutas, legumes, verduras, leite... Tudo que comíamos era produzido lá! 

Ainda jovem a senhora casou e se mudou de cidade. Como foi sair de uma lugar pequeno e ir para um grande centro como Uberlândia?
O mais difícil nem foi me adaptar à cidade grande. A distância e a saudade dos pais, irmãos e familiares era o pior. Uberlândia é uma cidade maravilhosa, mas sentia muita falta da família. Depois meus irmãos foram se mudando para Uberlândia também e alguns ainda estão por lá.

Após 16 anos em Uberlândia a senhora se separou e mudou-se com seus filhos para São Paulo. Como foi enfrentar esse novo desafio?
Me separei e não dava para continuar em Uberlândia nem voltar para cá. Nunca tinha ido a São Paulo, só conhecia pela televisão. Com os dois filhos, a cara e a coragem, aceitei o convite de uma prima e me mandei. Não tive nenhuma ajuda do pai dos meus filhos, mas no dia seguinte à minha chegada já consegui trabalho. E tive muito apoio da família, meu irmão por exemplo me ajudou um bom tempo com o aluguel.

Quais trabalhos a senhora exerceu por lá?
Trabalhei em casa de família, em restaurantes... Durante um tempo vendia lanches, cachorro-quente, próximo à minha casa, após trabalhar o dia todo fora. Teve período em que ficava a semana toda na casa da patroa e voltava só aos finais de semana para minha casa... Meu filho começou a trabalhar aos 13 anos e minha filha aos 15. Lembro-me bem do primeiro trabalho do meu filho, distribuindo panfletos de supermercado. Os japoneses sempre foram muito inteligentes, atentos, e um senhor japonês da nossa convivência viu o potencial do meu filho e deu uma oportunidade melhor de trabalho para ele.

Sente falta de algo da Terra da Garoa?
Sinto falta daquele movimento, do agito. Aqui a gente chega no ponto de ônibus e quase não tem ninguém. Sinto falta dos pontos de ônibus cheios (risos). Claro que o sossego e tranquilidade aqui também são bons, mas me adaptei muito bem a São Paulo.

O que a motivou a voltar para o interior?
Primeiro meu filho se mudou para Franca, cidade muito boa também! Lá ele trabalhou como segurança. Depois meu genro se aposentou como motorista de ônibus e quis vir para o interior. Vieram para São Sebastião do Paraíso. Com todos fora, também decidi voltar, para ficar perto da família que é toda de Jacuí. Depois meu filho e uma irmã também vieram para Paraíso.

Seus pais tiveram um longo e feliz casamento de 61 anos. A senhora faz ideia de qual a receita para uma relação dar tão certo?
Realmente eles tiveram uma linda história que nem todos conseguem viver. Eu acho que o segredo é amor e acima de tudo respeito. Nunca os vi discutirem, se ofenderem, não tinham divergências. Minha mãe era muito trabalhadora e justa. Partiu há três anos... Meu pai está com 93 anos e aceita tudo muito bem. Come o que oferecemos, vai pra casa dos filhos, tudo está bom pra ele. Trabalharam muito na roça, plantavam café, arroz, feijão, milho, tinham as vaquinhas leiteiras... A gente era feliz e não sabia!

A senhora tem raízes na nossa querida cidade vizinha de Jacuí que hoje tem uma professora como prefeita (a Di Professora). Acha que as mulheres estão tendo seu valor reconhecido e ocupando seus merecidos espaços?
Lógico! Não conheço a prefeita pessoalmente, mas penso que temos a mesma capacidade que os homens. A mulher pode tudo! Fico muito triste quando a mulher precisa fugir e muitas vezes perdem a vida. A gente dobra o turno, trabalhamos fora e em casa, cuidamos do lar, do marido e dos filhos, muitas vezes sem ajuda. E vem um cafajeste querendo maltratar. Tem que acabar isso!

Por que a senhora acha que uma parte dos homens têm dificuldade em ver as conquistas de suas companheiras? 
Machismo! A bebida também acaba com casamento, família, prejudica até os vizinhos e todos em volta. Não aceitar as conquistas da companheira é triste!

Como surgiu a Cantina Panela Quente? E qual o segredo para agradar o paladar do cliente?
Em São Paulo trabalhei em alguns restaurantes. Coisa chique, cara e só um “sujinho” no prato! (risos) Quando cheguei, trabalhei um tempo em outra cantina aqui em Paraíso. Primeiro pensei em abrir uma lanchonete para servir bolo caseiro, café com leite, atender a quem está na correria do trabalho. Daí fui incentivada por minha irmã a abrir uma cantina também. Fiquei dois anos em outro local e há seis estou neste ponto na Avenida Central, próximo ao Supermercado Reis. Todo dia peço a Deus para guiar minhas mãos sagradas e fazer o melhor para o freguês, esse é o segredo! Tenho uma boa clientela, boa vizinhança também, um fala para o outro, o Reis mesmo do supermercado sempre me indica!

O que a família representa pra senhora?
Família é tudo! Meus filhos e netos são minha paixão. Tenho a Lígia Regina, que me deu dois netos. A Tauana está com 19 anos e me ajuda aqui na cantina. Depois tem o Matheus de 17, também da Lígia. E o El-vson Cezar me deu o Pedrinho que está com 11 anos. Genro e nora também são como filhos! Tenho dó de quem não gosta de sua família. Fui muito ajudada pela minha família, meus irmãos... Claro que toda relação tem altos e baixos, mas não guardo raiva de nada. Somos unidos demais!

A senhora é uma mulher de fé?
Sou mulher de muita fé! Uma pessoa sair de Uberlândia, com dois filhos menores, sem apoio e encarar São Paulo, só com muita fé! Com minha fé e força de vontade que vem do nosso Deus Vivo! Sozinha não teria essa força.

Qual seu maior sonho?
Ter minha casinha. Sou aposentada, mas não posso parar de trabalhar. Não precisa ser uma casa chiquetosa! (risos) E vou conquistá-la! Peço a Deus e faço minha parte. Também estou aqui pelos filhos e netos. Estou aqui por eles e os amo de paixão!

Dona Neusa, deixe uma mensagem para as mulheres que se veem sozinhas e têm que ir à luta.
Primeiro que tenham muita fé! Depois, não pode cruzar os braços e esperar. Erga a cabeça e vá em frente que a poeira abaixa e tudo dá certo! (risos)