Você partiu no trem da saudade há um ano. Deixou a mala das lembranças na sala. Dentro do baú das recordações tem a memória a voar livre no céu do pensamento.
O porta-retratos na sala é um chamariz de lembranças. É o ativador de recordações.
Ainda tem você na sala. Com aquela fala apressada. O caminhar seria da mesma forma. A leve ansiedade borbulhante em você. Tudo tinha que ser muito rápido. Não podia esperar.
No velório, época de covid-19, com limitação de pessoas para entrar, faziam fila para despedir do seu jeito menino de ser.
Levou a vida de uma maneira peculiar. Fazia a diferença com seu jeito singular e engraçado. Fazia piada com tudo. Era muito crítico.
A sua partida ensinou-me sobre a brevidade da vida. Você deixou muita coisa por fazer ainda. Não deu tempo. O trem da partida chegou antes. Você nunca imaginava que o seu bilhete de embarque tinha chegado. Antes de se esperar. Sem avisar.
Você foi sem levar nada. Tudo foi uma surpresa. O inesperado o abraçou e levou com leveza. Sem planos. Foi-se. Como quem brinca com a saudade em um porta-retratos.
Ainda recordo da mamãe a fazer um almoço especial para você. Do Iran o chamando para ir para Brasília. Do Jean carregando a caminhonete para o levar em algum lugar.
Não deu tempo. O tempo acabou. Ainda está na sala a sua mala das lembranças. O baú das recordações está cheio.
Recordo quando liguei e lhe perguntei onde estava. Você estava no ônibus urbano a andar. Ao questionar o motivo, você responde que idoso não paga a passagem. Estava a passeio.
É. Realmente, nós somos passageiros nessa vida e nada mais.
Ivan Maldi é psicólogo efetivo no município de Pratápolis, membro efetivo da Academia Paraisense de Cultura