“Uma pirueta, duas piruetas, bravo, bravo”! Não, não estamos no picadeiro de um circo. Se bem que poderíamos muito bem nos referir a esta arte milenar para falar de Flávia Alessandra Aizza Tavares. A filha de Denis Tavares e Regiane Aizza Tavares, conhece muito bem este ambiente, assim como seus irmãos Juliana, Wilson e Lucas. Seus pais trazem no sangue e transmitiram o amor pelas artes circenses ao implantarem em São Sebastião do Paraíso o projeto “Circo Social”. Aos 18 anos Flávia Aizza se dedica à ginástica rítmica, talento lapidado em outro projeto social paraisense, o “Projeto Florescer”. Radicada atualmente em Florianópolis, a jovem atleta conta sobre sua rotina de treinos, competições e aspirações, como o grande sonho de chegar à seleção brasileira e se tornar futuramente técnica da modalidade.
Flávia, como foi sua infância? Era daquelas crianças serelepes? Já demonstrava aptidão para a ginástica?
Eu nasci no circo e sempre gostei muito de esportes. Era daquelas crianças que não parava sentada e pensar na ideia era torturante, sendo até motivo de preocupação por parte dos meus pais pois eu sempre dava um jeito de estar em movimento e me irritava facilmente quando era impedida de subir em alguma árvore ou pular de alguma mesa. Acho que dei bastante trabalho neste sentido sim, pois era muito arteira!
E como foi o início de sua vida escolar? Algum professor em especial a marcou? Gostava de praticar atividade física?
Eu gostava muito de estar na escola e de conviver com meus colegas, não tive nenhum problema no meu percurso escolar. Tive excelentes professores ao longo da minha vida escolar e todos eles me marcaram de alguma forma, porém o nosso primeiro salvador a gente nunca esquece, né? Ele (claro!) era o professor de educação física e se chama Reinaldo. Me deu aula no primeiro aninho. Amava mexer meu corpo e entendi desde então que era isso que queria pra minha vida: algo que me mantivesse em movimento.
Como a ginástica rítmica entrou na sua vida?
Como nasci no circo tive o contato com acrobacias muito cedo e sempre falavam que eu era uma criança forte e que tinha potencial para a ginástica “da Daiane dos Santos”. Me via naquele esporte, mas nunca tive a oportunidade porque os lugares que ofereciam a modalidade eram distantes. Em um certo dia, estava treinando no circo quando meu pai chega e me diz que eu estava inscrita na ginástica e que começava na segunda-feira. Cheguei para treinar extremamente eufórica com meu novo momento, porém, descobri que não estava fazendo ginástica artística e sim rítmica. Fiquei um pouco decepcionada, mas como não havia treinos para a modalidade que imaginava, fiquei. E foi nessa que me apaixonei de corpo e alma por um esporte que nem queria praticar. Meus primeiros passos na ginástica rítmica foram no Projeto Florescer de São Sebastião do Paraíso. Em 2020 passei a treinar pela FEAC Franca e atualmente pela ADIEE UDESC, em Florianópolis. Me orgulho muito da minha trajetória.
Flávia, o quanto o trabalho de seu pai com o projeto “Circo Social” influenciou na atleta que você é hoje?
Influenciou totalmente! No circo é também exigida uma certa disciplina e compromisso para que seja possível a execução dos números circenses, portanto acredito ter isso muito fixo na minha cabeça, graças ao trabalho do meu pai.
E como surgiu o convite para integrar a equipe ADIEE UDESC – Associação Desportiva Instituto Estadual de Educação? Foi difícil se adaptar à nova vida em Florianópolis?
Fui na cara e na coragem para Florianópolis. Fiz um treino para a equipe onde estou agora e se me adaptasse ficaria nela ou me passariam para uma turma de iniciação. Graças a Deus eu tive a oportunidade de ficar nessa turma e estou muito feliz e com desejo de “quero mais”. Sobre a adaptação em uma capital, em outro estado, com cultura e costumes muito diferentes do lugar em que cresci, posso dizer que foi uma das coisas mais difíceis da minha vida, mas tive a sorte de ter comigo a minha irmã Juliana que me acompanha e compartilha todos os momentos comigo. Tinha voltado ao contato social há pouco tempo (em função do isolamento causado pela pandemia) e foi impactante viver em uma realidade tão diferente. Todos os começos são difíceis, e particularmente esse foi bem intenso, mas graças a Deus tive pessoas como minha antiga técnica Andressa Barbosa e minha família que me ajudaram e sempre me motivam, mesmo à distância, nos dias em que a ansiedade me “assombra”. Aos poucos a minha vida foi ganhando uma rotina. Hoje estou lidando bem com a “nova vida” e estou muito feliz e satisfeita com o caminho que escolhi trilhar.
Quais as principais competições que você já participou e quais foram seus melhores resultados?
Acredito que a última competição sempre vai ter um lugar especial em meu coração, pois procuro a evolução das minhas séries e os resultados são consequência. Por isso vou dizer que foi o torneio Estadual de Santa Catarina. Consegui quarto lugar no aparelho Arco, segundo lugar no aparelho Fita, terceiro lugar no individual geral, segundo lugar no geral por equipe e segundo lugar no conjunto 5 arcos.
Além dos movimentos exigidos nas competições, a ginástica também trabalha muito com a composição visual, figurino, maquiagem, certo? Você se considera muito vaidosa?
Exato, na ginástica é importante que a maquiagem, o collant, o aparelho e música estejam sintonizados. Isso tudo é importante para mim ali, naquele momento de competição, porque faz parte do “todo”. Não me considero vaidosa, não me importo muito no dia a dia pois tudo é muito corrido e chegar no meu objetivo final é a minha prioridade.
Qual a parte mais prazerosa e a mais difícil no seu esporte?
Acredito que o prazer está na dificuldade. Para mim não tem valor conquistar algo simples. Por exemplo, se no treino é pedido para dar um giro, vou chegar em casa e treinar para conseguir dar dois.
Além da ginástica rítmica, o Brasil vem tendo grande destaque na ginástica artística. Você também acompanha essa modalidade? Acha que estas conquistas podem inspirar mais crianças e jovens a praticarem a ginástica?
Não acompanho tanto quanto o meu, mas sou uma grande admiradora. Cada medalha no peito das nossas ginastas, cada matéria que é postada e cada atleta praticando o esporte é uma visibilidade para o mesmo. Tudo isso serve de motivação e inspiração para quem vai iniciar, com toda certeza.
Você tem algum ídolo no esporte?
Sim, tenho vários! Admiro as meninas do meu clube, a Natalia Gaudio que nos representou nas olimpíadas e se aposentou ano passado e também Margarita Mamun, ginasta russa que foi campeã olímpica nos Jogos em 2016.
Paralelo à ginastica, pensa em seguir outra carreira?
Só me vejo nesse esporte e não me vejo fazendo outra coisa.
O que diria para um criança ou jovem que pretende seguir no esporte?
A estrada não é fácil e infelizmente nunca será, mas não há beleza no que é fácil. Não desista do que você quer, faça diferente, seja diferente, não dependa de motivação de nada e ninguém para prosseguir com seu objetivo pois no Brasil você só a terá no dia do atleta.
Flávia, onde você pretende chegar?
Pretendo chegar na seleção brasileira. Como atleta seria um sonho, mas eu amo construir estratégias de treino, aplicá-las e ver os resultados nas atletas, então ser técnica da seleção seria uma realização indescritível!