Há um provérbio chinês que diz que quando as raízes são profundas não há razão para temer o vento. Profundidade e muita gratidão são sentimentos inerentes à nossa entrevistada. Stella Garcia Colombarolli, natural de Belo Horizonte, tem suas raízes diretamente ligadas a São Sebastião do Paraíso, assim como seus irmãos Bruno e Tulio. Filha de Marcos Colombarolli e Anna Elisa Garcia Colombarolli, é neta pelo lado paterno do exímio artista plástico José Colombarolli, de saudosa memória e da também saudosa Neiva Scarano. Pelo lado materno deixou saudades seu avô Paulo Garcia; e sua avó, Anna Borges Garcia, a Annita, aos 93 anos é exemplo de vitalidade para toda família. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ouro Preto, aos 32 anos Stella se prepara para cursar seu pós-doutorado e também atua pelo Conselho Nacional de Pesquisas da Italia, vivendo atualmente na "cidade eterna". Em Roma, além de muito estudo, determinação e consciência da beleza e responsabilidade que é cuidar do próximo, Stella também traça planos para sua trajetória de jovem cientista
Stella, o que você queria ser quando crescesse?
Tenho uma lembrança de brincar quando era muito pequena, sobre uma descoberta que tinha feito, me imaginava fazendo essas descobertas. Era uma brincadeira quase secreta, pois não saberia explicar o que era! (risos) Depois já mais crescidinha achava que seria advogada como meu pai. E quando já estava no doutorado consegui ver essa ligação com a criança que queria realizar descobertas.
E como foi o tempo de escola? Algum professor em especial a marcou?Minha vida escolar foi toda em Belo Horizonte. Lembro de questionar um professor já no 1º ano do Ensino Médio sobre que profissão poderia seguir para estudar o cérebro. Ele disse que não necessariamente Medicina, poderia também estudar Ciências Biológicas.
Como se deu a escolha para cursar Ciências Biológicas? Onde se graduou?
O que me levou a fazer esta escolha foi a curiosidade por tudo que tem vida. Me interesso por ciências desde sempre. Antes da graduação, concluída em 2015 pela UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto, gostava de assistir documentários sobre doenças infecciosas e me encantei por essa área!
Após a graduação você escolheu seguir a carreira acadêmica e fez seu mestrado, certo? Qual o objeto da sua pesquisa?
Tanto no Mestrado quanto no Doutorado sempre estive ligada à Fiocruz. Pesquiso tec-nologias que sirvam para auxiliar os diagnósticos, vacinas, doenças causadas por vírus, questões de saúde pública.
Atualmente você é doutoranda e cursa parte da sua especialização na Itália, certo? Como tem sido a experiência?
Concluí o doutoramento na modalidade sanduíche, parte cursada no Brasil e parte em Milão, na Itália. Durante o doutorado passei a atuar pelo Conselho Nacional de Pesquisas da Itália, e depois me convidaram a continuar com eles. Abri mão da bolsa que recebia pelo Brasil e continuo no mesmo trabalho, mas agora em Roma, onde vou iniciar meu pós-doutorado.
Estando ligada diretamente às pesquisas de vacinas e atuando no auge da pandemia em um país que também sofreu muito com a pandemia de covid-19, como vê as críticas à vacina?
Eu não entendo porque agora as vacinas viraram uma polêmica. Claro que sempre existiram grupos contrários, mas agora temos muitos “especialistas” no assunto. As vacinas são fundamentais para uma doença viral. Graças a tudo que foi feito estamos em um momento melhor. Claro que existem efeitos colaterais, mas os riscos vão diminuindo conforme as pesquisas vão avançando. Penso que os pesquisadores devem ter o reconhecimento de sua fundamental importância.
Concomitante aos estudos, você tem tido a oportunidade de conhecer um pouco da terra de seus antepassados? O que eles representam pra você?
Fui pelo trabalho, mas foi muito emocionante chegar à Itália. Nos primeiros meses me emocionei muito mesmo. Gosto muito de lá! Tem muitas coisas com as quais me identifico. Falar em família é muito especial! Meu avô materno, Paulo, eu perdi ainda muito pequena. Minha avó materna, Annita, é um exemplo de vitalidade aos 93 anos. Ela traz uma alegria de viver e passa a mensagem que não tem idade pra gente ser feliz! A vó Neiva era muito vaidosa, me ensinou muito do universo feminino. Quanto ao vô José, eu era a neta que gostava de sentar para vê-lo pintar. Quando estava em Paraíso queria jantar com ele e conversávamos muito! Sobre sua participação na guerra ele me contava mais amenidades, como um italiano que gostava de comer muita alface! (risos). Lembro quando ele teve um tipo de derrame e ficou com dificuldades para escrever. Ele estava em Belo Horizonte e passei a ajudá-lo com um caderno e aos poucos ele foi melhorando... Era muito apegada a ele!
O que vem à sua mente quando ouve falar em São Sebastião do Paraíso?
Quando estou longe, me vem a lembrança do amor, da família, dos amigos... Momentos especiais com pessoas especiais. O cheiro do café, o doce de leite, o pão de queijo, água limpa... É muito reconfortante essa lembrança de amor! Sempre gosto de retornar às minhas raízes. Paraíso é minha cidade de coração!
Na sua visão as mulheres estão bem representadas na pesquisa cientifica?
Temos muito mais mulheres nas ciências do que homens. Por outro lado, são muito menos mulheres em cargos de chefia. Ainda há uma desigualdade muito grande!
No que você acha que sua formação pode contribuir para a sociedade?
Fazemos um trabalho de formiguinha. Colaboramos com pouco, mas almejando uma melhoria significativa para a sociedade. Meu estímulo é exatamente esse, o bem-estar da população. A pandemia mostrou o quanto um trabalho “pequeno”, minucioso, pode ajudar, não importando o país, seu povo... Estudamos a saúde humana, movidos pela curiosidade à vida, ao cuidado.
Como você avalia a pesquisa científica brasileira atualmente?
O Brasil tem um potencial gigantesco, do tamanho do nosso país! Profissionais criativos, curiosos, interessados. Nossa ciência é de ponta, inclusive. O que nos limita são os recursos. Fazemos muito com muito pouco.
Se não seguisse esta carreira, o que escolheria como profissão?
Continuaria atuando na pesquisa, talvez em outra área. Agronomia, ciências da terra, alimentos... Acompanhava meu tio Marcinho em suas idas à fazenda e me interessava por tudo, a terra, a qualidade das mudas, fatores genéticos, todo o processo da cadeia até o preço final.
O que diria para uma criança ou jovem que pretende se tornar um pesquisador?
Estude, seja curioso e persistente! Devagarzinho a gente constrói o futuro que sonhamos. A ciência é feita de detalhes, é um trabalho muito minucioso. Temos que passar por todas as etapas. É fundamental passar por elas. Pra quem tem esse sonho digo pra ir em frente, temos que cuidar da vida do nosso planeta!
Stella, aonde pretende chegar?
Pretendo ter uma vida na qual eu posso estar tranquila para poder contribuir na vida das pessoas. Minha satisfação profissional foi quando vi que meu trabalho teria impacto na vida das pessoas, um efeito positivo. E pessoalmente, quero que as pessoas tenham uma boa lembrança dos nossos encontros, será minha maior conquista. Minha realização é essa!