“A vida simples no sítio, com diversas receitinhas, mensagens para o dia a dia, a companhia dos bichos e das plantas trazendo dicas para sua vida!” Assim diz a descrição na vinheta de abertura do canal do YouTube “Zezé Vilas Boas”. Muito mais que isso, Zezé ou Maria José Vilas Boas, tal qual uma professora, compartilha com doçura e suavidade seu dia a dia na roça e os valores mais simples e genuínos da vida. E mais, prova que não existe idade para aprender, cuidando de todo o processo que demanda manter um canal na internet. Filha dos saudosos José Venâncio Vilas Boas e Marinha Soares Vilas Boas, Zezé é a 11ª de uma numerosa família de 12 irmãos. Mulher com muito foco, determinação e resiliência, se reinventar é preciso e Zezé faz isso como poucos. Mãe, esposa, produtora rural, palestrante, política, empresária, criadora de conteúdo. São muitas as facetas da mulher que pretende deixar marcas e ser reconhecida como alguém que planeja, realiza e inspira. Afinal, os 64 anos provam que não há idade pra recomeçar e os sonhos, literalmente, não envelhecem.
Zezé, você é nascida e criada na roça? Como foram seus primeiros anos?
Nasci em São Sebastião do Paraíso, na avenida Angelo Calafiori pelas mãos da Beatriz, que fez o parto de minha mãe. Cresci na fazenda Campo da Vargem, no bairro rural Viramundo. Graças a Deus tivemos pais muito amorosos, vivemos em meio à natureza com muita fartura, valorização da terra, plantávamos tudo, uma influência muito boa.
Frequentou algum grupo escolar rural? Como funcionava?
Frequentei dois grupos rurais. Eram várias séries na mesma sala! Do 1º até o 3º ano primário no Grupo Escolar do Vira-mundo e o 4º ano nos Pimentas. Minha primeira professora foi minha irmã, a Lourdes. E no 4º ano fui aluna da Sandra, nos Pimentas. Era muito divertido! Meio período e naquela época não tinha refeições na escola. Íamos a pé em grupos de alunos que moravam nas proximidades.
Como aprendeu a cozinhar? Sempre teve gosto pelo forno e fogão?
Perdi minha mãe aos 14 anos. Não tínhamos geladeira nem mesmo água encanada. Mas tínhamos engenho, fazíamos melado e também queijo. Sabia o básico, mas depois de casada é que fui me aperfeiçoando, no dia a dia e também com diversos cursos no Senai, Senac...Não sou nem nunca fui exclusivamente do lar. Sou de tudo um pouco, gosto de ser produtiva. Fiz dos doces uma fonte de renda durante muitos anos.
Sempre gostou de fazer doces? E como surgiu a ideia de montar uma fábrica de doces?
Aprendi a fazer doces com minhas irmãs Geralda, a Fia e também a Lázara. E os doces me levaram a muitos lugares, atuei na Cooparaíso colaborando em cursos e treinamentos, ajudei a organizar encontros de mulheres cooperativistas, viajamos por diversos lugares, enfim muito aprendizado. A ideia da fábrica foi do meu saudoso filho, Frederico. Ele vinha passando por alguns problemas de saúde e como era técnico agrícola e topógrafo, estava muito cansativo pelas viagens e correria do dia a dia. Então como sabia da minha aptidão com os doces, sugeriu que nos uníssemos e montássemos uma fábrica. Reformamos uma casinha em nosso sítio, onde já fazia doces caseiros e adequamos a todas as normas exigidas. Assim nasceu os Doces Fogão à Lenha. Eu cuidava da produção e meu filho das vendas, logística e entregas. Nosso produto era muito bem aceito, era um doce com menos açúcar, nada enjoativo e muito apreciado em toda a região que atendíamos. Foram mais de 15 anos nessa batalha e com o falecimento do meu filho, eu e minha nora tocamos por mais um tempo e então fechou-se um ciclo.
Qual a parte mais difícil de se manter um negócio no Brasil?
Quando se tem um produto de qualidade, não nos preocupamos com a concorrência. Mas a economia do país, juros altos, isso sim desestimula. Por exemplo, para lançar um produto novo, precisa-se de empréstimo, do contrário não alavanca. E no meu caso a dificuldade de atuar sozinha na produção, controle da matéria prima. Mas o aprendizado foi imenso!
Atualmente você está com um canal muito bacana no Youtube sobre a vida no campo, receitas, natureza... Como surgiu a vontade de compartilhar sobre aquilo que aprecia?
Foi no começo da pandemia... O que me despertou é sentir um potencial muito grande pra se guardar. Receitas de família, algumas que levaram anos pra se desenvolver. Achava muito egoísmo não compartilhar com o mundo. Queria mostrar o dia a dia na roça, passar um conhecimento, um olhar... E desmistificar que somos alheios ao mundo e tratados, com o perdão da palavra, como “jacus”. Sabe aquela história de “coitada, ela vive na roça, isolada do mundo...” Quis mostrar também que na terceira idade a gente pode ter uma vida excelente, sem comodismo. A atividade é muito importante! E o canal veio pra isso. Receitas, dicas práticas, mensagens, o dia a dia no campo, mostrar como se coloca a galinha pra chocar, ensinei até a fazer vassoura caipira... No início criei com a ajuda da minha neta Maria Eduarda. Minha filha Camila, através de um aplicativo, também me ajudou com montagem e edição. Hoje cuido sozinha do canal e estou aprendendo a cada dia. Nossos vídeos já chegaram à Alemanha, Estados Unidos e até Japão!
Quais os vídeos que geram maior interesse?
Conteúdos de jardinagem e produtos de limpeza caseiros, mas com muita economia e qualidade! Vejo que o povo está carente da beleza natural e como produzir. O vídeo que ensinamos a fazer vassoura caipira é muito interessante! Ganhamos as sementes, plantamos a vassoura, colhemos e produzimos nossas próprias vassouras! Meu vídeo preferido e que se tornou o mais visualizado tem o título: “Deu tudo errado e tive que fazer de novo!” (risos)
O que a família representa pra você?
Toda moça que teve uma criação mais rígida, tinha o sonho de fazer um bom casamento, constituir uma família. Há 44 anos sou casada com o Cidinho (Aparecido Nascimento), um esposo abençoado, me ajuda demais em tudo! Tivemos dois filhos, o Frederico e a Camila. E os netos: Maria Eduarda, Beatriz e Pietro (do Frederico) e Nicolas e Miguel (da Camila). São meu tesouro!
Há tempo de plantar e de colher...Certamente você sabe o valor de cada ciclo, não somente no sentido literal, mas também com os desafios que a vida nos impõe. Você transparece ser uma pessoa serena e ponderada. Como lida com os obstáculos?
Gosto de observar as fases da lua, os sinais da natureza... Mas não sou muito tranquila não! (risos) Os obstáculos dependem muito. Por exemplo, no campo dependemos muito do clima. E não gosto de deixar nada pra amanhã. Não espero ver se vai chover pra molhar a horta!
Uma questão atualmente muito debatida é a da pauta do agro versus meio ambiente. Acha possível um caminho harmonioso entre ambos?
Lógico que sim! Aí vai depender da consciência do homem. Temos toda a informação que reforça esse valor da preservação.
Zezé, qual seu maior sonho?
Dizem que não temos limites pra sonhar. Acredito nisso! Uma frase que ouvi assim que me casei e que trago comigo: “O mundo ainda vai falar de mim!”. Quero deixar um legado de experiência de vida, do valor da terceira idade.
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Penso assim: se não servir para meus filhos e netos, não serve para o mundo e nada valeu. Que as pessoas vejam o lado bom e deem mais valor. Acho que o reconhecimento das pessoas vem também quando somos humildes e aceitamos críticas. É sobre isso, compartilhar. Convido a visitarem meu canal no YouTube: “Zezé Vilas Boas”. Se inscrevam, quero chegar aos 1000 inscritos e já estamos próximos. Vocês terão uma diversidade de coisas boas: receitas, plantações, curiosidades, a vida na roça com muito valor e amor! Assistam aos vídeos, curtam e obrigada por tudo!