A agrônoma e produtora rural Sirlei Renata Sanfelice de Carvalho é um típico exemplo de como as mulheres estão se destacando no comando das propriedades rurais e são eficientes no cultivo da lavoura de café. O gosto pelo agro vem de família desde quando junto com seus pais ainda em Araras (SP), ajudava no cultivo de laranja. Como que um imã ela foi atraída e passou a conhecer a cultura do café, se formou em Viçosa (MG) e passou a trabalhar com a atividade prestando assistência e depois adquiriu com o esposo uma propriedade em Manhuaçu e em seguida arrendou outra e produz café de qualidade, ao ponto de estar classificada entre as 100 melhores no Concurso Florada premiada, da empresa 3 Corações.
Sirlei Renata é filha de agricultores que residem em Araras (SP) que por muito anos lidavam com a citricultura. Por sua vivência com as atividades no campo tomou gosto e foi cursar a Faculdade de Agronomia, em Viçosa (MG). Este foi o caminho que mostrou outra função a qual passaria a se dedicar anos depois. Ainda no início dos anos 80 a jovem agricultora e estudante começou a ter os primeiros contatos com a cafeicultura. “Eu tinha um tio que residia em Patrocínio (MG), em 1984 e que já atuava com cultivo de café aqui em Minas, e foi onde tive meus primeiros contatos coma produção, através destes laços familiares”, conta.
Com o passar dos anos e depois de formada Sirlei foi fazer estágio e teve oportunidade de atuar na área do café, por volta de 1997. Nesta época ela conheceu Antônio Carlos Gomes de Carvalho, que se tornou o esposo, em 2002. “Foi quando nos mudamos para Manhuaçu (MG), na Zona da Mata e comecei a trabalhar com o café, com uma loja de representação de produtos agrícolas e depois numa multinacional sempre relacionados com a cafeicultura”, comenta. Ela destaca que naquela região o cultivo é feito por pequenos cafeicultores.
Distante dos pais uma de suas vontades era se fixar em região mais próxima ao estado de São Paulo, o que ocorreu em 2017. “Consegui a transferência aqui para Jacuí e neste momento já fazia 15 anos que eu estava trabalhando na Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) e obteve seu intento”, detalha. Junto com o esposo, o casal arrendou uma área na região do Morro Vermelho, zona rural de São Sebastião do Paraíso, onde mais uma vez passou a exercer a atividade enquanto produtora de café.
“Desde o plantio na propriedade, a administração e o planeamento tudo foi feito comigo. Tenho meus funcionários de confiança que me auxiliam e estamos tocando a lavoura”, conta. Entre 2018 e 2019 foram plantados mais 23 hectares de café. O que ela não esperava era que uma forte seca em 2020 interferisse na produção e o quase que todo o investimento foi todo perdido. “A produtividade que deveria ser minha primeira safra foi muito baixa e prejudicou a lavoura inclusive no ano seguinte”, relembra.
Na região onde está instalada, Sirlei não enfrenta problemas com geada. “Lá é uma região alta, diferente do frio o desafio é mais com a seca. Infelizmente no início não cheguei a um patamar produtivo que seja sustentável, mesmo com os tratos que foram dados visando alcançar este objetivo”, observa. A produtora ressalta que todo o trabalho técnico exigido foi realizado, mas quando depende do clima não é possível interferir. “O café é uma cultura de tempo, depende muito dele”, ressalta.
Mesmo com os desafios, o trabalho continua nos 53 hectares plantados. “O café é o arábica, temos as variedades vermelha e amarela”, acrescenta. Com a ajuda do esposo, não houve desânimo ante as dificuldades. Sirlei é determinada e aguerrida. “As tomadas de decisões são feitas em conjunto, ele me ajuda. Fazemos a análise de solo, foliar, planejamos os tratos culturais. Por estar aqui diretamente, eu acabo mais a par da situação climática aqui e ele na Zona da Mata”, acrescenta. O otimismo caminha junto com a expectativa de que o melhor ainda está por vir e assim, o trabalho continua na confiança de que os resultados almejados serão alcançados com dedicação e empenho.
A dedicação da produtora Sirlei Renata Sanfelice de Carvalho ao cultivo de suas lavouras tanto em Manhuaçu quanto em São Sebastião do Paraíso a motivou a participar do concurso Florada Premiada organizado pela empresa 3 Corações. Neste ano ela ficou entre as 100 melhores classificadas e teve a sua produção reconhecida, tendo obtido diversas vantagens e bonificações na comercialização do produto.
A 5ª edição do Concurso Florada Premiada, maior concurso de qualidade do mundo para café, destinado exclusivamente a mulheres, realizado pela empresa 3 Corações, em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) está em fase final neste ano. Nesta edição, se consolidou ainda mais a competição como a maior do mundo ao possibilitar que, além das cafeicultoras de arábica, também as produtoras de cafés canéforas (conilon e robusta) participem, abraçando, de fato, todas as mulheres produtoras do Brasil.
Ao reforçar seu pilar de inclusão e valorização do trabalho da mulher, o concurso premiará, em cerimônia durante a programação da Semana Internacional do Café – SIC 2022 (16 a 18 de novembro), em Belo Horizonte, as campeãs de cada categoria (três primeiros lugares de arábicas produzidos por via úmida, três primeiros lugares de arábicas produzidos por via seca e três primeiros dos canéforas), as duzentas do concurso geral (100 de arábica e 100 de canéfora) e o melhor café de cada região produtora inscrita.
As campeãs de cada categoria receberão R$ 25 mil, terão seu lote adquirido pelo dobro da cotação do mercado, ganharão uma viagem, com direito a acompanhante para incursão técnica na Colômbia, além de terem o seu raro microlote, personalizado, vendido na MERCAFÉ, loja on-line da 3 Corações.
Já as segundas colocadas receberão R$ 15 mil, mais o valor da compra do lote pelo dobro da cotação, enquanto as cafeicultoras que alcançarem os terceiros lugares em cada categoria serão premiadas com R$ 10 mil e terão seu lote adquirido por duas vezes o valor do mercado.
Serão reconhecidos, ainda, os melhores cafés de cada origem produtora inscrita, cujos lotes serão comprados pelo dobro do preço. O concurso também premiará os cem melhores lotes de cada categoria (arábica e canéforas), que serão adquiridos pela 3 Corações por um prêmio de R$ 300,00 por saca acima da cotação mercadológica.
Além disso, todas as 200 produtoras premiadas, sem exceção, terão os seus cafés incluídos na linha “Rituais Microlotes Raros” da 3 Corações, com rastreabilidade total, embalagens personalizadas, que garantem o protagonismo da produtora ao contar a sua história, de forma individual, e apresentar as características singulares de cada bebida, nos formatos torrado e moído, cápsulas, grãos e drip coffee.
Sirlei está entre elas. Desde quando se mudou para a região há cerca de cinco anos ela já participava do concurso com a produção do café da Zona da Mata. “Tive o feedback era um café com pontuação de café especial já para 84 pontos, porém o ponto de corte não me dava a classificação entre as 100 melhores e as finalistas”, comenta. O produto é descrito como “um café de um terreiro, de cimento”. Em 2021 ela tinha a expectativa de produzir duas mil sacas, mas a colheita foi de apenas 700. “Foi um susto grande, por conta da seca. Agora neste ano a lavoura se recuperou, mas ainda não está 100%, mas a produtividade chegou mais próxima das 1.300 sacas esperadas.
Por trabalhar na Emater, Sirlei Carvalho está sempre informada sobre os eventos ligados a cafeicultura. Integrante de um grupo de mulheres produtoras de café ela soube do concurso florada. Elas já trabalhavam a ideia de criar uma associação de mulheres, ideia que não foi possível levar adiante, mas a participação no certame da 3 Corações evoluiu. As amostras passaram a ser enviadas. “Desde 2020 eu mudei minha inscrição como produtora de café do Sul de Minas. Com o tempo ela também passou a fazer parte da Associação de Cafeicultores do Sudoeste de Minas, uma entidade que busca a certificação e com isso pretende gerar uma identidade geográfica.
O grupo possui diversas frentes de atuação, inclusive a agricultura regenerativa.” Faço alguns tratamentos com controle misto, pois não tenho ambição de ser orgânica, mesmo com as dificuldades dos controles realizados, temos buscado outras formas de reduzir a atuação de pragas e doenças no cafezal”, comenta.
Sirlei diz que estava com o lote na cooperativa, classificado como ‘bebida mole’. Uma amostra foi avaliada pela Corretora Souza Café e foi deste material que saiu a inscrição no Florada do Café da 3 Corações. “De início tive uma resposta de classificação e mesmo com a correção fiquei entre as 100 melhores colocadas e estou muito feliz.
A surpresa maior para ela refere-se a saber que várias produtoras da região estão se dedicando cada vez mais a produção de cafés especiais. “É um reconhecimento grande, estar ativa na frente do trabalho”. Sempre que possível ela concilia as férias com a época da colheita para acompanhar de perto a atividade na sua lavoura. “Gosto de estar perto no passo a passo, até na limpa do café, no pós colheita em todas as fases”, cita.
A mensagem que Sirlei deixa a todas as mulheres cafeicultoras, independentemente de ser pequena, grande produtora ou da quantidade de café produzida, é para que sejam perseverantes.” A gente sabe que no final das contas quem acaba cuidando do terreiro é a mulher, porque muitas vezes o marido ainda está talvez trabalhando lá nas outras atividades fora. E a gente começa a mostrar este resultado é participando destes concursos que pontuam e identificam a qualidade do produto” destaca.
Ressalta que muitas vezes é feito um trabalho árduo ao longo do tempo. “Eu conheço aqui na região de Jacuí muitas produtoras pequenas e elas fazem todas as etapas da produção. Até mesmo aqui em Paraíso também, existem mulheres que dedicam desde a pegar a lavoura e roçar, puxar o café, é tudo trabalho de homem. Elas ainda cuidam da casa, deixam as crianças prontas para irem à escola e depois ainda vêm e cuidam da atividade rural”, enumera.
“Perseverem sempre, se a gente desanimar por tantos problemas que a gente está enfrentando sejam eles climáticos, financeiros, econômicos que a gente vê os nossos subsídios também já não são tantos, que não percam a esperança. Sejam perseverantes, continuem e divulguem, porque o reconhecimento vem e elas são muito merecedoras deste reconhecimento porque o trabalho não é fácil, não podemos desistir nunca”, completa.
A questão é ser persistente. “Sou de família rural, nasci no meio rural fui para uma área de trabalho rural e na atividade cafeeira eu já estou há mais de 20 anos. Vejo que não é fácil, nem é o caso de ser resiliente. Sabemos que as mulheres se renovam a cada dia assim como a cafeicultura, é preciso florescer para gerar bons frutos, superando todas as circunstâncias”, finaliza.