ELE por ELE

Mateus de Oliveira Teodoro

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 13-11-2022 10:12 | 859
Mateus de Oliveira Teodoro
Mateus de Oliveira Teodoro Foto: Acervo Pessoal

Talento, curiosidade e dedicação, muita dedicação. Aos 44 anos Mateus de Oliveira Teodoro é um artista em contínuo aperfeiçoamento. Escultor, desenhista e artista plástico, Mateus produz sua arte em diversas plataformas. De telas tradicionais a madeira e materiais descartados. De paredes a capacetes e motocicletas. Tudo pode ser transformado pelas mãos hábeis e olhar aguçado do artista. Estudioso e espiritualizado, Mateus dá dicas preciosas para aqueles que gostariam de se aventurar pelo universo das artes ou ainda, enxergá-la com um olhar mais afetivo e generoso.

Mateus, como tudo começou e como a arte entrou na sua vida?
Nasci em Ribeirão Preto, filho de Marivone de Oliveira Teodoro e Mário José Teodoro. Desde pequeno, por volta dos seis ou sete anos, já me destacava na escola na Educação Artística. Lembro que meus coleguinhas me pediam para fazer os desenhos em troca de lanche. Ali já percebi que poderia viver de arte! (risos) Gostava de tudo: lápis de cor, giz de cera, guache... Sempre muito curioso e com vontade de aprender mais. Até que um dia vi um artista fazendo aerografia em uma praça e me interessei. Já estava com uns 17, 18 anos quando corri atrás de um aerógrafo e comecei a treinar. Pintei meu quarto inteiro! Aí foram diversos cursos realizados. Comecei trocando meus trabalhos por material, depois fui sendo reconhecido pela minha arte.

O que é aerografia? Você também utiliza outras técnicas?
Aerografia ou airbrush é uma técnica de pintura, que pode ser realista como a que faço, e que se utiliza de uma espécie de revólver e tinta. O aerógrafo tem um leque muito grande de possibilidades. Também trabalho com o pirógrafo que é uma maquininha que queima a madeira fazendo surgir o desenho. Pode ser utilizada em papel também, mas de uma gra-matura maior e com temperatura menor.

Já desempenhou outras atividades ou sempre se dedicou às artes?
Quando era moleque sonhava em me tornar jogador de futebol. Cheguei a treinar no Comercial de Ribeirão Preto. Mas a arte sempre esteve presente, como atividade principal ou em paralelo, nunca a deixei. Já fiz muitas coisas. E sei trabalhar em muitas atividades também. Durante um tempo trabalhei no laboratório de próteses dentárias do meu irmão. Atuava lá durante meio período e no outro período me dedicava à minha arte. Até que meu irmão disse que queria me registrar e que para isso eu teria que me dedicar em tempo integral. Agradeci e fui viver de arte! Fácil não é, mas quando se gosta do que faz, o retorno é consequência.

Atualmente você também é professor de desenho e das técnicas que mencionou. Que dica valiosa você pode compartilhar com quem gostaria de aprender a desenhar? Afinal arte é dom ou prática?
Acho que é mais prática. Já dei aulas para um funcionário dos Correios que não sabia nada de desenho e hoje ele vive da sua arte. A minha dica é: pratique! Quinze minutos por dia faz uma diferença enorme. E mesmo que não se torne um profissional, arte também é uma excelente terapia.

Na sua visão, qual a importância da arte?
A arde é fundamental! Além dela ser terapêutica, transmite a cultura de um povo para outro. A gente conhece a história das civilizações através dela. O que comiam, que ferramentas utilizavam... Isso desde os tempos das cavernas, graças a preservação e estudo da história da arte. Sem falar no caráter social, tira os jovens da ociosidade, das drogas e traz muitas amizades. Penso que no Brasil ela não é valorizada como deveria, principalmente o grafite, o aerógrafo. O grafite começou como forma de protesto, não tínhamos a facilidade das comunicações para nos expressar e os artistas das periferias se utilizavam dos prédios, trens... Temos que reconhecer e valorizar os pioneiros. Através deles a arte foi se valorizando. Mas assim como a tatuagem, a arte de rua se ressignificou. Ainda há muito a ser feito pelo reconhecimento, mas eu por exemplo, já trabalhei com grafite em mansões em Ribeirão Preto. Ela não é mais apenas para a periferia. Temos artistas brasileiros levando nossa arte para o mundo todo!

E como se deu sua vinda para São Sebastião do Paraíso? Acha a cidade receptiva para as artes?
Foi através do meu namoro com a Eliana França Coelho. Ela é psicóloga e já trabalhava e morava aqui. Aí veio nossa filha, a Valentina. E então decidi me mudar para cá. A cidade tem muitos bons artistas. Pesquisei e vi que aqui eram pouquíssimos artistas na minha área. Mas sinto que parte das pessoas ainda é fechada para a arte, principalmente para as técnicas que utilizo. Hoje já sou mais reconhecido, tenho clientes particulares e na área comercial. Atuo aqui e também em Ribeirão, Passos, em toda região. Creio que minha arte ainda vai estourar. Não podemos desistir nunca!

O desenho e qualquer outra manifestação artística para muitos é um hobby e pra você é trabalho. Como é viver de arte?
Viver de arte não é muito fácil. Mas quando se ama, se torna menos difícil. Faço porque amo, se fosse obrigado não faria. E estou tendo o reconhecimento. Minha maior propaganda é o boca a boca. O cliente vê, gosta e me procura. E estou sempre à disposição para atender os anseios do cliente, trocar ideias. Podem me contactar: 35 99805-1160

O que te inspira?
Sou muito curioso! Admiro muitos artistas, gosto de conhecer suas histórias. Artistas que criaram suas técnicas, faziam suas próprias tintas. Hoje é muito mais fácil, acessível. Tudo pode ser inspiração. Espiritualidade também é uma área que me interessa muito. Trazemos muito de outras viagens e experiências. Às vezes até me questiono se fui eu mesmo que fiz determinado desenho... Gosto também de arqueologia, antigas civilizações, astrologia e até sobre o fundo do mar! Estudei sobre as diferentes espécies de tubarão para representá-los bem em minhas pinturas! Meus amigos me acham meio maluco (risos). E admiro dois atletas que me inspiram: Ayrton Senna que treinava, treinava e treinava. Era o rei da chuva e tinha uma dedicação imensa no que fazia. E o Ronaldo Fenômeno, que sofreu uma grave lesão, voltou, foi campeão e mostrou que não devemos desistir nunca.

Recentemente atravessamos uma pandemia que afetou fortemente a classe artística. Como foi pra você?
Afetou bastante. Quando vim para Paraíso, há quatro anos, ninguém me conhecia. Quando estava começando a ficar mais conhecido, pegar mais trabalhos, veio a pandemia e parou tudo. Mas não deixei de praticar, me aprimorar. Não podia ir à casa das pessoas, mas peguei muitos capacetes para customizar, pintura em motos e até restauro de bicicletas e raquetes de beach tennis! Minha companheira, por ser psicóloga, também me ajudou muito. Mas não pensei em desistir ou mudar de cidade. Curto muito aqui!

Acha que falta mais apoio dos poderes públicos para a classe artística?
Penso que se tivesse mais espaço já seria um grande avanço. Falo de espaço físico, por exemplo para o artista dar suas aulas, com projetos sociais e também de divulgação, ocupando as praças, nem que fosse uma vez ao mês. Divulgaríamos nossa arte e levaríamos cultura, principalmente para as crianças. Se tiver uma faisquinha, elas despertam para um novo mundo. Quanto mais divulgação, melhor! Seria muito bom também que a cidade tivesse um calendário cultural permanente.

Mateus, qual seu maior sonho?
Ser reconhecido pela minha arte. Viver e ver a arte mais valorizada. Lutamos por nós, pelo legado dos que vieram antes e pelas gerações que virão. É importante demais conhecer, reconhecer e valorizar a arte!