Fábio Mirhib
Mais um Natal nos chega à porta. Agrada-nos subir a serra, e do alto, visionar o casario da cidade, emoldurada pelo verde da campina, como fez outrora Jeremias diante de sua pranteada Jerusalém.
Na paz contemplativa do recanto, figuramos a mensagem do tempo sublimador da cristandade:
- bendito o que conforta os trêmulos velhinhos, hospedados no albergue sombrio, olhos mortos de sono, e lhes afaga a cabeleira álgida, como se fosse um lenço branco a nos dizer adeus, último abraço ao seu enregelado coração...
- abençoado seja o que socorre o prisioneiro desgraçado na humilhação do cárcere, miserável farrapo-humano que perdeu a sombra da família, o calor da lareira e as benesses do amor ...
- bem-aventurados os amantes que se entendem e se completam, ignorando, em sua terna inocência, as surpresas da fortuna e as ciladas do destino, confiando, apenas, nas frágeis alianças de ouro que algemam as almas sonhadoras ...
- bendito o que semeia benefícios no caminho, sem se preocupar com paga da ingratidão, desprezando a inveja dos vencidos e a ira dissimulada dos desajustados...
- para sempre seja bendito, o professor humilde, lá nos confins desérticos do território, que compra, ele mesmo, a cartilha, e distribui às crianças sedentas de luz, as letras adamantinas do alfabeto ...
- tenha muitas bênçãos divinas, o que dá esmola sem a hipocrisia das aparências e sem a piedosa mentira dos fariseus ...
- abençoado o que se preocupa com a dor anônima dos infelizes, e imita Santa Isabel, que em rosas fez florir o pão que repartia...
- bendito o artista de gênio, que, na busca peregrina da perfeição de seus ideais, consome-se, dia a dia, qual um círio embalsamado na ara sagrada da verdadeira Beleza ...
Leve, pois, a brisa mansa de dezembro, mensageira da esperança, o espírito dessa época admirável, que fez florescer, flamante, nos lábios de Gabriela Mistral, um pensamento eterno e fraterno, impregnado do mais puro falerno:
“QUANDO HOUVER UM VAZIO EM TUA VIDA, ENCHEO-O DE AMOR”.
De repente, lá no esplendor da montanha, ao luar do milênio, aureolada de estrelas, radiosa e sublime, aparece-nos, triunfante, a cabeça de Jesus...