Nascido em Alfenas no dia 30 de janeiro de 1933, José Paula Moreira, mudou-se com os pais José Damasceno Moreira e Maria Lázara Moreira para Osasco (SP), aos seis anos. Ainda menor de idade, aos 13 anos, acompanhado por sua mãe procurou por um juiz de menores de quem solicitou autorização para “tirar sua carteira profissional”, o que era permitido somente a partir de 14 anos. Explicou que precisava trabalhar, e ajudar nas despesas de casa. Guarda com muito carinho a carteira autorizada pelo juiz. Tornou-se conhecido nacionalmente por sua atuação no cinema nacional, em papéis principais, contracenando com atores e atrizes de renome, ou como diretor, em pelo menos vinte e seis filmes. Daí o nome artístico José Galã, que tem muita história ao longo de seus 90 anos, e diz ater São Sebastião do Paraíso como sua terra natal.
Como foi sua infância e adolescência?
Saí de Alfenas com meus pais quando estava com seis anos e nos mudamos para Osasco. Fui engraxate. Aos 13 anos, acompanhado por minha mãe fui à presença de um juiz de menores, solicitar autorização para “tirar” minha carteira profissional. Disse que queria trabalhar para ajudar minha família, e ele me perguntou se eu sabia ler escrever. Passou umas contas para me testar, e eu resolvi. Tenho até hoje como recordação, minha primeira carteira profissional. Meu primeiro emprego foi como apontador. Muitas empresas naquela época não tinham relógio de ponto, e essa era a minha função, anotar jornada de trabalho de funcionários na Companhia Ferroviária Soma que produzia vagões frigorífico. Em seguida, trabalhei no Moinho Santista, uma indústria textil.
E seu contato e ingresso como cineasta?
Assisti um filme no Cine Art Palácio, no centro de São Paulo. Ao final, fui à Praça Dom Gaspar onde havia o Tourist Bar. Achei bonito o nome, e entrei para tomar refrigerante e comer bauru. Vi que havia dois homens me observando. Comi o sanduiche às pressas, e quando saía, me chamaram. Sentei. Quiseram saber em qual teatro eu estava trabalhando. Respondi que não trabalhava em teatro, sim numa indústria de tecidos., e indaguei o motivo da pergunta. Esse aqui é diretor de cinema, está precisando de um ator, disse um deles, apontando para Walter Hugo Khouri, que se dirigiu a mim. Vou produzir um filme e o ator que estou procurando pode ser você, explicou o diretor. Falei que não tinha experiência. Melhor ainda, respondeu, me entregando seu cartão. Dias depois fui ao escritório dele na rua 7 de Abril. Lá estavam diversos atores, Milton Ribeiro, Odete Lara, e José Mauro Vasconcelos (escritor). Khouri disse que ia fazer alguns testes. Fui maquiado, me passaram uma base, deixando a pele bronzeada. Achei que ia fazer algum “cara de praia”. Mas me colocaram cocar, pulseiras, fiquei um índio perfeito. Fizeram algumas filmagens. Walter Khouri se levantou e disse que eu era um verdadeiro selvagem. Eu quase respondi que “selvagem era a avó dele”. Fui aprovado como personagem, um índio pele vermelha para o filme “Na Garganta do Diabo”.
E como foi essa mudança de rumos em sua vida?
“Na Garganta do Diabo”, filmado nas Cataratas do Iguaçu, teve no elenco Luigi Picchi, Odete Lara, Sergio Hingst. A filmagem ia durar uns oito meses, e minha preocupação foi perder o serviço onde trabalhava, porque a indústria não ia me conceder licença por tanto tempo. O que eu vou te pagar você vai precisar uns dez anos pra receber lá na fábrica de tecido. Pago vinte por cento adiantado, e toda semana terá pagamento, disse o Khouri me entregando o contrato, que aconselhado pelo ator Milton Ribeiro (mineiro de São João Batista do Glória), levei para ser registrado. Quando disse aos meus colegas de trabalho no Moinho Santista que ia trabalhar como ator, não acreditaram.
Você também participou de programa em televisão.
Participei na TV Paulista da novela “A revolta dos pele vermelhas”, era ao vivo, e foi a primeira apresentada na tevê brasileira. Ia ao ar nas tardes de domingo, era um programa de auditório. O elenco entre outros era formado pelos cantores e atores George Freedman, Moacyr Franco (que foi de Ribeirão Preto, onde trabalho em rádio), Chacrinha, o escritor, autor diretor Walter Avancini, dentre outros. Também marcaram época na TV Paulista, Sílvio Santos, Manuel de Nóbrega.
E os demais filmes?
Depois da TV Paulista, Nelson Teixeira Mendes me contratou em 1961 para fazer “O Cabeleira”, em que participou o paraisense Ubiratan Moreira, filme rodado em Arceburgo, tendo como atores Hélio Souto, Milton Ribeiro, Marlene França, Ruth de Souza. As portas se abriram e em 1962 a convite do Mazzaropi participei do “Casinha Pequenina”, e “O Lamparina” e vieram outros com a dupla Tonico e Tinoco, de quem fui empresário. Em Paraíso filmamos “O Cangaceiro do Diabo”, em Jacuí “Manelão, Caçador de Orelhas, em Pratápolis “O Papade-fundo”. Participei de uns vinte e seis filmes. Cheguei fazer quatro filmes durante um ano. Fazia produção, contratava artistas, providenciava hotel, passagens, alojamentos, tudo era por minha conta. Convivi com muitos artistas, famosos na época, e outros que se tornaram famosos também, como Chrystian e Ralf, eram meninos, que eu ia buscar na Vila Medeiros. Quando estiveram aqui em Paraíso levei uma foto e mostrei pra eles.
E seu contato e vinda pa-ra São Sebastião do Paraíso, como aconteceu?
Eu estava no Rio de Janeiro fazendo o filme “As Cariocas”. Tinha muita amizade com o Delson Teixeira Mendes. A pedido dele vim tomar conta do Hotel Termópolis. Cheguei a Paraíso no dia 22 de julho de 1966, bem tarde da noite. Não tinha ideia onde ficava Águas Quentes, e em um posto de combustíveis me explicaram como chegar lá. Gastei umas duas horas, cheguei ao hotel já era madrugada. Era para ser por dois meses, até que arranjassem um gerente, mas fiquei seis anos na administração, deixei o hotel funcionando, época que comprei para os Teixeira Mendes, em torno de 600 alqueires de terras. O senhor Custódio, pai da Erci, minha esposa, tinha uma fazenda naquela região, e começamos namorar, e nos casamos em 1967, faz 55 anos.
E o retorno para São Paulo?
Retornei para São Paulo em 1971 para empresariar a dupla Tonico e Tinoco. Tinham de um salão de festas, do qual fui gerente. Cabiam cinco mil pessoas onde se apresentaram Wanderlei Cardoso, Roberto Carlos, Danusa e outros artistas da época. Em 1975 eu e minha família voltamos para Paraíso e adquiri o Tropical Hotel, que funcionou muitos anos na rua Dr. Placidino Brigagão, próximo ao antigo fórum. Em 1993 começamos construir onde estamos (rua Paulo Osias de Sillos, esquina com rua Alfredo Fidelis Marques).
E a experiência de ter participado da produção de alguns filmes, como foi?
A dificuldade maior de se produzir um filme era a locação. Você saía para o campo de filmagem e precisava improvisar cenários, e isto também acontecia em estúdios, e a equipe inteira ajudava. As produções custavam caro e às vezes prefeituras apoiavam custeando parte das despesas.
E sua ida aos Estados Unidos, como foi?
Em uma de suas vindas ao Brasil, no intervalo de uma filmagem conheci o ator Sammy Davis Jr. e sua esposa no Rio de Janeiro. Ele fez o convite para que quando eu fosse aos Estados Unidos lhe visitasse. Não imaginava que um dia isso ia acontecer. Trabalhei com o João Flávio Lemos de Morais fazendo assessoria e ele foi passar uma temporada em Los Angeles, onde estive dois anos. Juntos fomos visitar Sammy Davis em Beverlly Hills, onde moram vários artistas (morou Carmem Miranda). Naquela tarde, na mansão de Sammy Davis estavam Frank Sinatra, Dean Martin e Lisa Minelli que quis saber sobre o Brasil. O João Flávio já conhecia Sammy Davis.
E como se sente o menino pobre que saiu de Alfenas, foi para Osasco, rodou o Brasil, o exterior, chega aos 90 anos, saudável, realizado, rodeado de familiares e amigos, celebrando a vida?
Para mim é um presente de Deus a oportunidade de conhecer o Brasil, alguns locais nos Estados Unidos, o Panamá, ter rodado esse mundo, tralhando, ganhando o pão de cada dia que se multiplicou. Construí o hotel, conseguimos ter bom patrimônio. Uma vida de trabalho e muito esforço, compartilhado com o esforço e dedicação minha mulher Erci Antônia Moreira (que aniversaria no próximo dia 1.º de fevereiro), trabalha até hoje, administra o hotel com muita competência. Também da alegria que nos proporcionam meus filhos Daniel, que é especial, a quem cuidamos com muito carinho, e Darlene que tem dois cursos superiores, formada em Odontolgia, e nos trouxe os netos, Gustavo e Leonardo. Amo Paraíso.