Fábio Caldeira
Pobre país pobre. A chance é zero de qualquer país ser considerado uma grande nação, com menos desigualdade, mais justiça social e uma democracia pujante sem índices satisfatórios de educação da população.
E olha que nem me refiro à educação e formação cidadã, em que as pessoas absorvem conhecimentos e os aplicam, em temas atinentes a temas de cidadania, direitos e garantias fundamentais, organização política brasileira, participação democrática, etc.
Neste artigo a análise é em relação à educação formal. E também estamos posicionados na mais absoluta mediocridade quando comparados a outros países. Chama atenção o Pirls (Progress in International Reading Literacy Study) que avalia a capacidade de leitura de alunos do 4º ano do ensino fundamental.
O teste avalia a capacidade dos alunos e alunas compreenderem textos, estabelecerem conexões entre as informações lidas e desenvolverem um senso crítico a respeito de um conteúdo.
Foi a primeira vez que o Brasil participou da avaliação, realizada pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), uma entidade dedicada à realização de estudos e pesquisas educacionais.
O resultado divulgado nessa semana foi aplicado em 2021 com estudantes de 65 países. Os melhores desempenhos foram para estudantes de Singapura, Irlanda e Hong Kong.
Os estudantes brasileiros ficaram acima apenas dos da Jordânia, Egito, Marrocos e África do Sul. E com resultado similar aos do Kosovo e Irã. Já países como Azerbaijão e Uzbequistão conseguiram resultados melhores que os do Brasil.
A pontuação média alcançada pelos alunos brasileiros localiza o país no nível baixo da escala de proficiência do Pirls. Quase 4 em cada 10 estudantes brasileiros não dominavam as habilidades mais básicas de leitura, como recuperar e reproduzir um pedaço de informação explicitamente declarada no texto. Em 21 países ou regiões, o percentual de estudantes sem qualquer domínio de compreensão leitora não passa de 5%.
Os dados mostram que apenas 13% dos estudantes brasileiros podiam ser considerados proficientes em compreensão leitora, o que os colocaria em nível alto ou avançado de proficiência. Na Espanha e em Portugal, por exemplo, esse percentual atinge a marca de 36% e 35%, respectivamente.
O Pirls reforça o cenário de desigualdade no sistema educacional brasileiro. A diferença no desempenho médio entre os estudantes com alto nível socioeconômico e baixo nível socioeconômico no país foi elevada.
Em qualquer avaliação educacional feita no Brasil os números são deveras preocupantes. Nesta especificamente, os impactos da pandemia da Covid são explícitos. Ficou mais desnudo o péssimo nível educacional no país, principalmente na esmagadora maioria das escolas públicas.
Reflexos que atingirão esta e as próximas gerações se nada de efetivo for implementado no país. Enquanto parte considerável dos nossos governantes absorvem seu tempo com falas e disputas ideológicas para atenderem suas bolhas políticas, o Brasil se mantém “adormecido em berço esplêndido” na brutal competição entre países, perdendo espaço na atração de vultosos investimentos internacionais que poderiam gerar mais empregos e renda aos brasileiros.
E até para o mais desatento cidadão, não se vislumbra mudança de rota de parte de nossa elite política em seu comportamento. Discursos de ódio, de intolerância, maniqueístas, de revanchismo e ideologicamente ultrapassados permearão a política nacional nos próximos anos.
Pobre país pobre. Até quando?
Fábio Caldeira Doutor em Direito pela
UFMG e professor da Academia da PMMG
(Hoje em Dia – 19/05/2023)