Liubiana Arantes de Araújo*
A Meta, gigante das redes sociais por trás do Facebook, Instagram e WhatsApp, enfrenta agora uma série de processos legais movidos por estados dos EUA que alegam que suas práticas de design e algoritmos estão contribuindo para o vício de crianças e adolescentes em suas plataformas. Este fenômeno tem levantado questões cruciais sobre o papel dos pais na responsabilidade do conteúdo que seus filhos acessam online.
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É sabido que nos últimos anos o uso excessivo de mídias sociais tornou-se uma preocupação crescente, com estudos relacionando-o a problemas de saúde mental e física, isolamento e dependência. A Meta, em particular, tem sido acusada de projetar seus produtos para manter os usuários online o máximo de tempo possível, muitas vezes à custa da saúde mental de crianças e adolescentes.
Até o momento, vários estados dos EUA, incluindo Nova York, Texas e Califórnia, ingressaram com processos contra a Meta, alegando que a empresa não fez o suficiente para proteger os jovens usuários de seu conteúdo prejudicial. Eles argumentam que a empresa falhou em fornecer informações claras sobre o tempo gasto nas plataformas e não fez o suficiente para impedir o acesso a conteúdo inadequado e que trabalha com estratégias que podem levar ao vício.
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Enquanto os tribunais consideram esses casos, muitos especialistas concordam que os pais desempenham um papel vital na supervisão e na orientação do uso da internet por seus filhos. Os pais precisam estar atentos ao tempo que seus filhos passam online, bem como ao tipo de conteúdo a que têm acesso. Além disso, é importante manter linhas de comunicação abertas com os filhos para entender seus interesses online e preocupações.
Vale aqui um exemplo para reflexão prática. Apesar do cigarro ser vendido em mercados de forma legal, não significa que os pais se isentem de sua responsabilidade de educar seus filhos sobre os perigos do tabaco. Se uma criança começa a fumar, a culpa não pode ser atribuída apenas à indústria do tabaco. Os pais desempenham um papel crucial na prevenção do vício do cigarro, fornecendo informações sobre os riscos à saúde e estabelecendo limites para o não acesso. Da mesma forma, no contexto das redes sociais, os cuidadores também devem assumir a responsabilidade de educar seus filhos sobre os perigos potenciais do uso excessivo e dos conteúdos prejudiciais.
É importante notar que, ao contrário do tabaco, atualmente não existem legislações específicas para a proteção de crianças e adolescentes nas redes sociais. Isso destaca a necessidade urgente de regulamentações que limitem o acesso de menores a conteúdo prejudicial online e imponham transparência às práticas das empresas de tecnologia. No entanto, enquanto essas leis estão em desenvolvimento, os pais e cuidadores não podem esperar que a solução venha apenas de regulamentações governamentais. Eles devem continuar se dedicando a educar as crianças sobre como enfrentar a oferta de produtos e conteúdos que podem ser prejudiciais e viciantes.
A falta de regulamentação específica não significa que os pais não possam tomar medidas imediatas. Respeitar a idade para ter o primeiro celular e para ter contas em redes sociais (atualmente 13 anos) e o uso de ferramentas de controle parental, como restrições de tempo de tela e filtros de conteúdo, pode ajudar a proteger as crianças enquanto navegam na internet. Além disso, estar ao lado durante os acessos, manter conversas abertas com os filhos sobre o que eles veem e fazem online e dar o próprio exemplo é crucial. Assim como os pais alertam sobre os riscos do tabaco, eles devem estar dispostos a discutir os perigos potenciais das redes sociais e outras plataformas online.
A responsabilidade compartilhada entre pais, cuidadores e governos é essencial para garantir a segurança e o bem-estar das crianças e adolescentes no mundo digital.
Então, esses processos movidos contra a Meta por estados dos EUA destacam a necessidade de abordar a questão do vício em mídias sociais entre crianças e adolescentes. Enquanto a ação legal pode ajudar a responsabilizar as empresas de tecnologia, os pais desempenham um papel fundamental na proteção de seus filhos online. É uma responsabilidade compartilhada garantir que o uso da internet seja seguro e saudável para a próxima geração.
Dra. Liubiana é PhD em Neuropediatria, com doutorado-S na Harvard Medical School. Professora de Medicina da UFMG, presidente do DC de Pediatria do Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria e Diretora do Instituto de Neurodesenvolvimento BoraBrincar, neurocientista e palestrante. (Hoje em Dia 03/11/2023)