OPINIÃO

O efeito decisivo do mercado de carbono para o desenvolvimento sustentável

Por: . | Categoria: Do leitor | 25-11-2023 00:01 | 261
Foto: Arquivo

*Por Cátilo Cândido

Precificar o próprio impacto ambiental é uma tarefa que preocupa algumas empresas e até mesmo nações. Apesar de investirem em medidas para reduzir ou compensar danos ambientais que inevitavelmente provocam no processo de produção e distribuição, essa informação muitas vezes não está acessível de forma clara à sociedade, especialmente aos consumidores. Felizmente, é um tema que está prestes a ser colocado em prática no Brasil, com regras claras, que possam tornar transparentes as emissões individuais e direcionar soluções para mitigar a responsabilidade de cada um sobre o aquecimento global.

Estamos falando da criação e regulação de um mercado de carbono nacional. O Projeto de Lei 412/2022, em tramitação no Congresso Nacional, propõe colocar o país no mesmo patamar das nações que já estão seguindo as decisões da Conferência da ONU sobre Mudança Climática. Com uma metodologia definida para medir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), podemos estabelecer metas transparentes para reduzir o impacto ambiental ou até mesmo zerar as emissões. É o chamado cap and trade, sistema que limita e compensa as emissões por meio de sua precificação, permitindo o desenvolvimento econômico com sustentabilidade e controle ambiental.

Quem emite mais do que neutraliza, terá que pagar por isso. Quem captura os gases nocivos mais do que emite, terá crédito para comercializar neste novo mercado. Um pagamento que significa investimento em projetos de captação de GEE e em programas reais de proteção ambiental. Ou seja, estaremos, em breve, rentabilizando e premiando quem investe na sustentabilidade, um avanço sem precedentes para o nosso país. 

O mercado regulado de carbono é um instrumento econômico que muda o ambiente de negócios no mundo. Ao dar transparência ao tema, o custo do impacto acabará sendo incorporado ao preço final do produto ou serviço que chega ao consumidor. É muito natural imaginar que as empresas seguirão um caminho de redução das suas emissões, buscando maior competitividade. 

Será também uma ferramenta para que o próprio consumidor reduza seu impacto ambiental. Sabemos que a preocupação com o consumo consciente é cada vez maior, mas ainda é significativo o peso do preço no momento da compra. Com o mercado de carbono, o peso do impacto ambiental entra definitivamente na composição dos custos e, claro, na decisão de compra. 

Finalmente o consumidor terá um instrumento eficaz para orientar a produção!

Nós, produtores de latas de alumínio para bebidas, estamos nos preparando dia a dia para esta nova fase do desenvolvimento sustentável. O setor lida com o tema desde a fabricação da primeira latinha no país, no final dos anos 80, quando introduziu o conceito de circularidade da embalagem. Para se ter uma ideia, reciclamos acima dos 95% há mais de 10 anos. Está no nosso DNA. É nossa prioridade.

Neste contexto, apenas para dar um exemplo, lançamos no ano passado nosso Relatório Setorial de Práticas ESG, sendo um dos primeiros a apresentar publicamente planos, metas e ações nesta área. O relatório, que já está em sua segunda edição, é um atestado de transparência e da parceria de toda a cadeia produtiva para reduzir de verdade seus impactos ambientais e promover este debate.

Contamos com um material infinitamente reciclável sem perder suas propriedades originais. O alumínio foi recentemente incluído pela União Europeia e pelos Estados Unidos na lista de materiais estratégicos e essenciais. Consideram que, para garantir o desenvolvimento sustentável com redução de emissões, serão necessárias políticas que garantam o suprimento contínuo do alumínio nos mais diversos setores.

Estamos contando com o avanço do tema na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Uma aprovação célere deste projeto, ou qualquer outro semelhante que aborde o tema, seria um presente para o país às vésperas da COP 28, que se realizará nos próximos dias em Dubai. Para quem está fazendo o dever de casa, agora é a hora de acelerar o debate para garantirmos uma contribuição efetiva no combate às mudanças climáticas. 

*Cátilo Cândido é Presidente executivo da Abralatas Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio.