OPINIÃO

Golpes bananeiros Truques e trapaças para nunca largar o osso

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 10-08-2024 00:44 | 87
Foto: Arquivo

Por Fernando Fabbrini

Há golpes de judô, de jiu-jitsu, de caratê; golpes e blefes nas mesas de carteado; golpes do baú - jovens de olho em idosas e idosos ricos - e até golpes de sorte; presentes do destino. No entanto, o golpe citado aqui é aquele da política, muito comum em repúblicas bananeiras latino-americanas; manobras obscenas para conquistar e manter para sempre o poder nas mãos. Ou melhor: sob as patas de determinado indivíduo ou grupo.

Indispensável nessas tramoias é o protagonista, o mestre da farsa. Geralmente, trata-se de um sem-vergonha, um falastrão, um espertalhão ambicioso de moralidade, ética e cultura nauseantes. Hoje, graças aos artifícios da comunicação, tal safado é comumente coroado com os títulos de "salvador da pátria"; "defensor dos pobres", "paladino da democracia", "voz das minorias" e outros clichês enganosos. Infelizmente, as massas de manobras formadas por incautos, ignorantes, mal informados e miseráveis ainda engolem esses logros e, nas urnas, despejam os votos tão desejados pelas quadrilhas dos mandões.

Os crimes, as aberrações e artimanhas que marcaram eventuais vidas pregressas devem ser cuidadosamente apagadas - tarefa a cargo dos meios de comunicação, devidamente subornados com volumes inacreditáveis de numerário ou através de favores e pactos desavergonhados. Próceres das repúblicas bananeiras dedicam atenção prioritária à justiça. Nos tribunais, apenas amigos devem ocupar cargos porque sentenças favoráveis e absolvições providenciais serão utilíssimas ao longo da jornada. Ações coordenadas garantem assim o alcance, a manutenção do poder e o sucesso do golpe e, como previsível, envolvem o permanente abastecimento de numerário em quantidades astronômicas para fins de persuasão.

De onde vêm tais quantias? Um chanceler alemão disse a sábia frase: "é melhor que o povo nunca saiba como são feitas as salsichas e os acordos políticos". Assim, a dinheirama deve circular de preferência em malas discretíssimas e enormes, tamanho o volume absurdo de dinheiro sujo. Graças aos solos sul-americanos, em algumas repúblicas bananeiras os donos do poder têm à disposição milhões, bilhões jorrando permanentemente dos membros do narcotráfico, frequentes parceiros no atual contexto, os quais, pela relevância, sempre perdoados de seus crimes.

Valores tão altos permitem corromper qualquer cidadão - desde o mais humilde burocrata que legitima a trama em troca de um presentinho até o mais alto figurão, titular de gordas contas bancárias no exterior. No topo dos orga-nogramas clássicos republicanos estão ainda os militares, os quais, na condição de seres humanos falíveis, também podem ser susceptíveis às tentações monetárias, engrossando a lista dos cúmplices omissos e silenciosos em momentos críticos.

Adversários explícitos ou potenciais lideranças devem sofrer permanente assédio, ameaças, perseguições, intrigas. Vale tudo contra eles: processos surreais, impedimentos legais, exílios compulsórios, prisões por motivos fúteis e até tentativas de assassinato. Os golpistas bananeiros profissionais - bilionários do assalto constante aos cofres públicos - fazem qualquer coisa para não largarem o osso e a boa vida que levam às custas dos contribuintes.

Porém, o povo costuma reagir. Tiranos não saem às ruas sem levarem vaias. Já os legítimos líderes, aqueles capazes de transformar o país e acabarem com as trapaças, são aplaudidos espontaneamente, estejam onde estiverem. Têm o carinho constante das massas, enquanto os biltres se refugiam atrás das mentiras e dos seguranças mal-encarados. E o povo indignado, quando sai às ruas para gritar "chega", é recebido pelos cassetetes da polícia e enfiado na prisão por "ameaçarem a democracia" ou por "terrorismo".

Por último, o mais grave: quando desacreditados, acuados e surrados nas quatro linhas do ringue constitucional, os bananeiros lançam mão do último e odioso recurso: a fraude eleitoral. Pois é: como é triste e dramática a situação da Venezuela, não? (O Tempo 01/08/2024)