Há grandes problemas, principalmente se forem metafísico-filosóficos, que voltam à nossa cabeça como moscas teimosas, à procura de respostas, que raramente vêm. Um deles me aborrece de uns tempos para cá e não consigo livrar-me de certos questionamentos.
Encanta a todos o fato dos bebês modernos serem possivelmente mais inteligentes que os do passado: nascem com uma sabedoria tecnológica e com menos de dois anos já sabem mexer com celulares, com três, quatro usam computadores, tablets; adolescentes dão show nas mais diversas máquinas. Já ouvi muito pessoas afirmarem que "no seu tempo", as crianças pareciam mais tolas, tímidas, burrinhas...
Nessa pretensa evolução, namora-se (ou fica-se) começa-se a vida sexual mais cedo, aumenta a gravidez precoce, como se a corrida iniciasse antes do sinal de partida. Enfim, a nova geração tem mais pressa. Do outro lado, todos os mistérios líricos do primeiro beijo, a primeira noite, virgindade, tudo está desaparecendo, em uma louca disparada dita moderna.
A mim, parece-me que a vida desbotou um pouco, perdeu o lirismo. Trabalhei cinquenta e quatro anos com adolescentes e jovens e raramente encontrei alguns que percebiam isto e sentiam uma certa melancolia pelo que eles chamavam o "tempo de seus pais e avós". Tudo isto é algo sabido e sem solução. O que me preocupa é diferente e para o que não tenho respostas.
Quando essas crianças tecnológicas, esses adolescentes ousados virarem adultos, eles serão mais felizes? Terão mais chances de se realizarem na profissão escolhida? Conseguirão uniões amorosas mais duráveis, sólidas? Enfim, a tecnologia ajuda também a encontrar a almejada felicidade?
Às vezes, em conversas com raros amigos que parecem ter alguma possível resposta, o resultado final é sempre uma dúvida angustiante ou a mudança de assunto, diante do inexorável.
Aí, à noite, em minhas orações noturnas (ainda tenho esse hábito antigo...) ouso perguntar a Deus se Ele pode ajudar. Ele meneia a cabeça e muda de assunto, preocupado talvez com fatos mais sérios, como as eternas guerras monstruosas e sangrentas.
O leitor amigo pode dar algum palpite?
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora.
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