Conheci Antônia há mais ou menos sete anos. Alta, robusta, bonitona, pele escura, nem jovem e nem velha, dentes muito brancos e sorriso fácil. Era catadeira de papéis e garrafas vazias. Percorria as ruas e praças da cidade, trabalhando o dia todo.
Passava perto de minha casa, mais ou menos duas e meia da tarde, e eu sempre guardava papéis que ela colocava na sua carrocinha, não tão pequena, e a gente dava um dedinho de prosa. Contou-me que morava sozinha e tinha dois irmãos que trabalhavam. Moravam na roça e queriam que fosse morar com eles, mas ela preferia morar na cidade. Gostava de seu trabalho e o que ganhava dava para pagar o aluguel de pequena casa no bairro São Judas Tadeu, e se manter.
Em uma noite eu passava às oito horas pela pequena rua Coronel Francisco Adolfo que fica na ponta da praça da matriz até o Grupo Escolar Campos do Amaral. No meio do quarteirão encontrei a Antônia. Parei e perguntei: trabalhando até agora?
Estou sim, dona (assim ela me chamava), mas não é para mim não. O filho de minha vizinha ficou doente, ela não pôde trabalhar e eu vim trabalhar para ela.
As palavras simples, pronunciadas por uma pessoa mais simples ainda, me comoveram intensamente. Que pessoa admirável Antônia é, pensei.
O sentimento de generosidade só se encontra em corações puros de gente feliz. Antônia a catadeira de papéis, na sua humildade, uma pessoa feliz. Depois de algum tempo, não mais vi a Antônia.
Deve ter ido morar na roça com seus irmãos, generosa e gentil com toda a certeza continua sendo muito feliz.