Há uma guerra declarada entre a FIA e os pilotos da F1

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Meio que na calada da noite, a Federação Internacional de Automobilismo alterou o seu código esportivo ameaçando com punições severas os pilotos que disserem palavrões nas conversas pelo rádio com seus engenheiros, ou nas entrevistas coletivas, ou ainda aos que criticarem o órgão regulador do esporte, assim como o seu presidente ou comissários.

Para entender o caso, é preciso voltar um pouco atrás, quando em 2022 o atual presidente da entidade, Mohammed Ben Sulayem, baixou uma diretriz que proibia os pilotos a usarem joias, relógios, piercing ou qualquer outro aparato durante as corridas. Também proibia o uso de roupas íntimas (entenda-se cueca, já que não há mulheres competindo na F1) se não fossem feitas com material antichamas. A alegação era por questões de segurança. Mas vale destacar que além de os macacões serem feitos de material com proteção contra incêndio, por baixo da vestimenta os pilotos usam também uma roupa especial para proteção em caso de fogo. Ou seja, não faria sentido nenhum usar uma cueca antichamas.

Um dos alvos principais das medidas de Ben Sulayem era Lewis Hamilton, que sempre usou seus piercings. A diretriz causou insatisfação entre os pilotos e na época, Sebastian Vettel que ainda estava na ativa, apareceu para o treino de sexta-feira do GP de Miami vestindo uma cueca por cima do macacão em protesto.

Era o começo de uma guerra declarada que vem se arrastando desde então entre o catariano Mohammed Ben Sulayem que já foi piloto de rali no oriente médio e tenta sua reeleição como presidente da Federação Internacional de Automobilismo, e os pilotos que foram se sentindo acuados pelo mandatário.

No final do ano passado houve um contra-ataque dos pilotos, liderados por George Russell, um dos membros da Grand Prix Driver´s Association (GPDA) a associação dos pilotos de F1, que emitiu uma carta aberta direcionada à FIA pedindo para que os pilotos fossem tratados como adultos. O motivo era a insatisfação pela punição imposta a Max Verstappen e Charles Leclerc por terem deixado escapar palavrões durante uma coletiva de imprensa. “Há uma diferença entre xingamentos com a intenção de insultar outras pessoas e xingamentos mais casuais, como apontar os problemas de um carro”, dizia um trecho da carta. A carta também repudiava o tom linguajar de Ben Sulayem que havia dito que “era preciso diferenciar o nosso esporte dos cantores de rap”, insinuando que os pilotos não poderiam falar palavrões, mas em um claro tom preconceituoso.

Em Cingapura durante o Grande Prêmio local do ano passado, Verstappen foi obrigado a prestar serviços voluntários por ter proferido um palavrão que não foi direcionado a nenhuma pessoa, e sim como desabafo aos problemas enfrentados com o carro, e em São Paulo Char-les Leclerc foi multado por ter falado “o carro estava uma m…” durante a coletiva de imprensa na corrida anterior, no México. Por fim, a GPDA cobrava explicações para onde ia o dinheiro das multas aplicadas aos pilotos.

A FIA não se manifestou na época. Mas agora, segundo fontes do site inglês da BBC Sport, várias pessoas da própria entidade teriam sido contra as mudanças do código esportivo, e que segundo essas fontes, a aprovação teria sido feita em uma votação eletrônica instantânea e sem a consulta de outras partes interessadas como os próprios pilotos, nem a GPDA presidida pelo ex-piloto Alexander Wurz e que tem George Russell e Sebastian Vettel como diretores, nem os chefes de equipes.

Segundo o novo código, quem disser palavrões ou criticar a FIA, seu presidente e comissários, poderá receber suspensão de um mês mais a perda de pontos no campeonato. É de se esperar um contra-ataque por parte da F1 que anda às rusgas com a entidade. A guerra está declarada.