"Saudades da velha capital mineira, e trinta e três aiais"

Professor Fábio Mirhib, meu dileto amigo, ao referir-se a
certas medidas atabalhoadas, insensíveis, costumava dizer que algumas pessoas
agem semelhante "elefantes em lojas de louça", ou seja, não dão conta
do estrago que fazem. E foi numa dessas que foi para o vinagre o nome da Rádio
Difusora Paraisense, a inesquecível ZYA4 que em 1.º de setembro teria
completado 78 anos. Inexplicavelmente mudou de nome, uma das mais tradicionais
emissoras do interior brasileiro, celeiro de tantos locutores que destacaram Brasil
afora, de programação que realmente difundia, música, alegria, cultura.
A não ser em minguados arquivos pessoais onde são guardados
alguns "retratos" da época, pouco, ou quase nada se tem da emissora
fundada em 1940. Pelo que representou para toda a região, e à radiodifusão
brasileira, necessário se faz um resgate da rica história da Rádio Difusora
Paraisense, de sua participação na vida social, na formação cultural de algumas
gerações até onde suas ondas hertzianas alcançavam. E iam longe.
Fatos pitorescos não faltam dos tempos de Difusora.
Lembro-me quando certa feita um ouvinte chegou ao escritório da emissora para
"oferecer" música a um aniversariante. Eram dois programas, o
"Gentilezas" e o "Hora Social" para esta finalidade. A
música pedida foi "Saudades da Velha Capital Mineira". A secretária,
Dina Ferreira, com toda sua experiência e anos de trabalho, prontamente disse
que aquela gravação não havia na discoteca. Com a insistência do ouvinte,
contrapondo que "tinha sim", Dina pediu para que ele cantarolasse um
pedacinho da música, e se chegou à valsa, "Saudades de Ouro Preto".
A explicação da "Velha Capital Mineira" ficou por
conta da brincadeira feita por um locutor, dias antes num daqueles
programas. Algo parecido havia ocorrido
antes. Numa música sertaneja chamada "Senhora Aparecida", a dupla
cantava: "A Senhora Aparecida, ai, ai, ai, ai - padroeira do Brasil, ai,
ai, ai, ai", e daí por diante...
O criativo locutor teve a pachorra de contar do começo ao
fim, e ao final, como era costume, em vez de dizer o nome da música disparou:
"Acabamos de ouvir trinta e três aiais". Depois disso, não foram
poucos os pedidos...
Com essas e outras, quase travavam a cabeça de minha vizinha
e amiga, Dina Ferreira.