Câmara de São Sebastião do Paraíso realiza audiência pública sobre o autismo

Foto: ASSCAM

A Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso realizou quinta-feira, 13, audiência pública para debater o autismo, tema de extrema relevância para a comunidade. O evento reuniu autoridades, profissionais da saúde e educação, representantes de instituições, famílias e membros da sociedade civil, que compartilharam suas experiências e desafios na luta pela inclusão e atendimento adequado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

OPORTUNIDADE PARA OUVIR E CONSTRUIR SOLUÇÕES

O vereador Juliano Carlos Reis (Biju), que propôs a audiência, destacou a importância do evento para dar voz às famílias atípicas. “Hoje é um dia de falarmos menos e ouvirmos mais. A rotina dessas famílias não é fácil, e o que mais machuca é o preconceito e a discriminação. Mas uma coisa é certa: diagnóstico não é destino, quando temos o respaldo da força do amor”, afirmou.

O prefeito Marcelo Morais reconheceu as dificuldades enfrentadas pelas instituições e destacou o trabalho essencial da APAE e da AMA, que acolhem crianças de toda a região. Frisou que, apesar do esforço municipal, faltam repasses estaduais e federais para garantir um atendimento adequado. “Desafio aqui qualquer deputado a destinar R$ 1,5 milhão de custeio para a cidade. Se isso acontecer, entro com mais R$ 1,5 milhão e criamos um centro de atendimento especializado para o autismo”, declarou o prefeito.

RELATOS EMOCIONANTES

A audiência trouxe depoimentos comoventes de mães atípicas, que relataram as dificuldades diárias de conseguir diagnóstico, acesso a terapias, suporte escolar e auxílio financeiro.

Naiara Aparecida Oliveira ressaltou a luta contra o preconceito. “Nossos filhos não têm que abraçar a sociedade, a sociedade é que precisa abraçá-los”, disse emocionada. Outra mãe, Thais, destacou a burocracia para acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). “A gente tem que provar que precisa do benefício. Passamos por várias perícias e somos humilhadas porque nossos filhos são ativos e comunicativos. Não é justo”, desabafou.

Gisele Fernanda Cassemiro de Oliveira, de Santa Cruz das Palmeiras (SP), compartilhou sua experiência de luta por direitos. “Criei o grupo Luta Diária e consegui apoio do poder público para implementar um vice-professor de autistas na rede municipal. Essa causa precisa ser abraçada por todos”.

LEITURA DA CARTA PELO DIREITO À INCLUSÃO

Durante a audiência, Gabriela Santos, assessora do vereador Biju, fez leitura da Carta Aberta às Mamães Atípicas, escrita por Naiara Aparecida Oliveira que a convidou para fazer a leitura em nome de todas as mães presentes. Um documento elaborado com base nos relatos das famílias e nas necessidades mais urgentes da comunidade autista.

Em sua fala, Gabriela enfatizou a importância da conscientização e do comprometimento coletivo: “Esta carta representa não apenas as dores, mas também a esperança de cada mãe, pai e cuidador que luta diariamente por respeito e dignidade para seus filhos. Precisamos garantir que a inclusão não seja apenas um conceito bonito no papel, mas uma realidade vivida por todos”.

A carta foi encaminhada aos vereadores para que suas reivindicações sejam analisadas e consideradas em futuras ações legislativas voltadas à causa.

DEMANDAS E PROPOSTAS

Os vereadores e secretários municipais apresentaram questionamentos sobre a realidade das famílias e debateram soluções. O vereador Marcos Vitorino (Marcão), levantou a questão do suporte familiar. “Os pais têm sido participativos? Como está a rede de apoio? Precisamos entender melhor para poder ajudar”.

A vereadora Cidinha Cerize destacou que a legislação municipal já garante atendimento prioritário para autistas em estabelecimentos, mas é necessário fiscalizar a aplicação da lei.

A vereadora Daiane Andrade parabenizou o vereador Biju pela realização da audiência pública e deu as boas-vindas aos profissionais da AMA, da APAE, às mães e servidores presentes. Ela destacou que o tema do autismo é muito específico e delicado e que, apesar dos avanços, ainda há muitos desafios a serem superados.

A vereadora Laís Carvalho ressaltou que a maior dificuldade das mães começa ainda na obtenção do diagnóstico. “O processo de diagnóstico é desgastante e humilhante para as famílias. Muitas mães precisam recorrer à justiça para conseguir direitos básicos para seus filhos”, pontuou.

Daiane mencionou a dificuldade do BPC e o longo processo para obtenção de laudo no INSS, ressaltando que é uma questão que depende do município e já está sendo combatida. Ela também levantou uma dúvida e abriu espaço para as mães presentes: 'Ouvimos muito falar sobre inclusão na educação, mas como ela realmente acontece dentro da sala de aula? Existe alguma sugestão ou observação das mães que já vivenciam essa realidade na rede pública ou privada?'.

A vereadora pontuou que a palavra inclusão é muito bonita, mas é necessário avaliar se de fato estamos conseguindo colocá-la em prática da forma mais adequada. Por fim, reforçou que a Câmara Municipal está de portas abertas para dialogar e auxiliar em qualquer situação, contando com o apoio dos vereadores para dar encaminhamentos às demandas apresentadas.

O vereador Paulo César de Souza (Tatuzinho) chamou a atenção para a necessidade de mais investimentos nas instituições que atendem autistas. “Precisamos buscar mais recursos para APAE e AMA, garantindo mais profissionais para atender as crianças com mais qualidade. Palestras nas escolas também são essenciais para combater o preconceito”.

O vereador Luiz de Paula elogiou o trabalho das instituições de apoio e reforçou o compromisso da Câmara em apoiar essas causas. “Estamos juntos para ajudar todas as instituições e as famílias, garantindo políticas públicas que façam a diferença na vida dessas crianças”.

O vereador José Luiz das Graças (Mercado Érika) criticou a burocracia para a obtenção do BPC e outras assistências. “É uma vergonha o que essas mães enfrentam para garantir direitos para seus filhos. O governo federal precisa assumir sua responsabilidade e criar políticas públicas mais acessíveis”.

O vereador Antônio César Picirilo (Toninho) relembrou sua trajetória junto à AMA desde 2001 e destacou a evolução do atendimento ao longo dos anos. “No passado, o autismo era pouco conhecido, e hoje vemos como a luta das mães e das instituições foi fundamental para mudar essa realidade. Mas ainda há muito a ser feito, e precisamos continuar avançando”.

ENCAMINHAMENTOS E CONCLUSÃO

A audiência resultou em várias propostas, incluindo ampliação do número de monitores escolares especializados; redução da fila de espera para atendimento multidisciplinar; criação de uma rede de apoio psicológico para as famílias; melhor divulgação e fiscalização das leis de inclusão; busca de recursos estaduais e federais para ampliação dos serviços.

Mais do que um espaço de debate, a audiência pública representou um compromisso do Legislativo municipal com a causa do autismo.  A participação ativa dos vereadores, do Executivo e da sociedade reforçou que a luta pela inclusão é uma construção coletiva, que exige mobilização contínua e empatia.

O vereador Biju reafirmou seu compromisso com a causa. “Vamos continuar lutando para que todas essas reivindicações saiam do papel. Esta é uma batalha de todos nós”.

A Câmara Municipal se consolida, assim, como um espaço de escuta e transformação, onde a voz da população encontra respaldo e ação. A luta das famílias atípicas não pode ser ignorada, e esta audiência foi um passo importante para tornar São Sebastião do Paraíso uma cidade mais inclusiva, justa e acolhedora.

Conduzida pelo presidente da Câmara, vereador Lisandro Monteiro, a sessão contou com a presença do prefeito Marcelo Morais, do vice-prefeito de Santa Cruz das Palmeiras, Plínio Luiz, dos secretários municipais Adriano Lopes Siqueira (Saúde), Marcela Eliane da Silva Arantes (Desenvolvimento Social) e Lucas Cândido de Oliveira (Educação),  representantes da APAE, da AMA e outras instituições voltadas ao atendimento de pessoas autistas. (por Bibiana Percope – Ascom CM SSP)