Foliões, crianças mascaradas e batuques animam o bairro Três Porteiras, espalhando a mensagem de fé de casa em casa Foto: Divulgação

Cantos devocionais, sanfona afinada e um colorido de fitas que balançam ao vento voltaram a percorrer as estradas de terra de São Sebastião do Paraíso. A Companhia de Reis Estrela do Oriente, sediada no bairro rural Água Limpa, iniciou mais uma jornada no último dia 26 de abril, reforçando um costume que atravessa gerações e que, há 18 anos, reúne famílias em torno da fé e da cultura popular.

A programação começou com missa de envio às 11 h, na capela local. Terminada a celebração, os festeiros deste ano — Valdeir, Jucileia e Larissa — ofereceram almoço comunitário. “A partir daí a cantoria não parou mais. Pegamos os instrumentos e começamos a visitar as casas, como manda a tradição”, contou o sanfoneiro Marcelo de Moraes, um dos organizadores do grupo.

Para preservar o ritmo dos voluntários, a companhia sai apenas aos fins de semana. Aos sábados e domingos, o cortejo visita bairros vizinhos — Barreirinho, Três Porteiras, Frazão, Lanhoso, Termópolis e Jambreiro — levando mensagens de esperança e agradecimento. “Calculamos quatro fins de semana e meio de caminhada. É o tempo suficiente para acolher todos que nos convidam e, ao mesmo tempo, garantir que ninguém fique de fora da festa de chegada”, explicou Marcelo.

Em cada parada, moradores recebem os cantadores com café quente, quitandas e orações. A cena se repete desde 2006, quando a Estrela do Oriente ganhou nome próprio e passou a representar Água Limpa nos encontros regionais de Folia de Reis. “As pessoas esperam o carro do som aproximar para abrir as portas e abençoar a bandeira. Ver a alegria de uma criança segurando a fita do estandarte não tem preço”, afirmou o músico.

Além do aspecto religioso, a romaria impulsiona a convivência comunitária. “É um trabalho de muita união. Ninguém recebe pagamento; todos colaboram por amor à tradição”, ressaltou Marcelo.

O ponto alto do calendário será em 31 de maio, quando a caravana retorna a Água Limpa. A chegada está marcada para as 17 h, seguida de jantar gratuito, leilão de prendas e serviço de bar. A animação musical permanece com a própria Estrela do Oriente e artistas convidados. “É uma celebração familiar, simples e acolhedora, aberta a quem quiser participar”, convidou o sanfoneiro.

Reconhecida como uma das mais antigas companhias de reis da região, a Estrela do Oriente resiste mesmo diante da migração urbana e da agenda apertada dos integrantes. Para Marcelo, a longevidade se explica pelo sentimento comunitário. “Levar a Folia a quem mora longe do centro é um ato de fé, mas também de cidadania. Cantamos para lembrar que Deus se faz presente na partilha e no acolhimento”, disse.

Com a cantoria ecoando pelos campos até o fim do mês, a companhia reforça um elo entre passado e presente, garantindo que a tradição continue viva para as próximas gerações de paraisenses. “Isso faz parte de quem somos”, conclui Moraes.

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Foto: Divulgação

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