Cafés Especiais: O crescimento da Produção Brasileira e o potencial no Mercado Global
Brasil aposta em qualidade e sustentabilidade para conquistar consumidores exigentes ao redor do mundo

Por
Livia Oliveira Para o Caderno AGRO
O
Brasil é conhecido mundialmente por ser o maior produtor e exportador de café.
No momento, o país começa a ganhar destaque por sua qualidade, mais do que pela
quantidade. A produção dos cafés especiais, também chamados de cafés premium,
está crescendo e, com isso, abre novas portas no mercado global, que está cada
vez mais competitivo. E o que os cafés especiais têm de diferente dos demais?
Eles têm sabor mais refinado, passam por cuidados rigorosos da lavoura até a
xícara. A partir desses fatores, eles são valorizados por consumidores que
buscam experiências únicas e produtos sustentáveis.
O que é um café especial?
Os
cafés especiais são aqueles que atingem nota acima de 80 pontos em uma escala
de qualidade da Specialty Coffee Association (SCA). Ou seja, são grãos com
sabor limpo, complexidade aromática, boa acidez, corpo equilibrado e sem
defeitos. Além da qualidade sensorial, esses cafés precisam de um cuidado maior
em sua produção. Eles são produzidos com rastreabilidade, responsabilidade
social e práticas sustentáveis — características requisitadas pelo mercado
internacional.
Produção em alta
no Brasil
De
acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), o Brasil produziu
cerca de 9 milhões de sacas de cafés especiais em 2024, o que representa
aproximadamente 15% da produção nacional. Sabe-se, também, que esse número vem
crescendo a cada ano. Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Chapada Diamantina (BA),
Mogiana (SP) e Espírito Santo são regiões que lideram essa transformação na
cafeicultura brasileira. Com agricultores investindo em microlotes,
fermentações diferenciadas e colheitas manuais, os produtores garantem maior
qualidade em suas safras.
Crescimento das
exportações
Os
cafés especiais brasileiros têm conquistado espaço em países do mundo todo.
Entre eles, destacam-se os Estados Unidos, a Alemanha, o Japão, a Coreia do Sul
e a Austrália. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé),
em 2024, eles representaram cerca de 20% das exportações totais de café do
país.
Mais oportunidades
para o pequeno produtor
Ao
contrário do que se pode pensar, não são apenas grandes fazendas que estão se
destacando. Os pequenos e médios produtores investem em qualidade e, assim,
conquistam reconhecimento no Brasil e no exterior.
Entrevista com
André Volpe – Cafés Sitiaram
No
coração do Sudoeste de Minas, no município de São Sebastião do Paraíso, região
reconhecida mundialmente pela excelência dos seus grãos, a história de André
Volpe e do Sitiaram Cafés mostra como tradição, cuidado com a terra e inovação
podem caminhar juntos. À frente de uma propriedade familiar que aposta na
produção orgânica e sustentável, o cafeicultor compartilha os desafios e as
conquistas de cultivar cafés especiais em um cenário cada vez mais exigente.
Nesta entrevista, ele fala sobre certificações, manejo consciente, mercado
internacional e o papel transformador do café na vida de pequenos produtores.
Como começou sua
trajetória com o café e o que motivou a criação da Sitiaram Cafés?
Eu
comecei desde que me entendo por gente a minha trajetória no café. Meu pai é
cafeicultor, então, desde pequenininho, eu o ajudava com que eu podia. Buscava
esterco no curral, levava na lavoura e jogava. Fui criado aí nesse meio.
Depois, teve um tempo de crise no café, uma baixa. Aí procurei por serviço na
cidade. Trabalhei na Olam por nove anos. Já saí faz quatro anos. Faz 13
anos que sou produtor e degustador. Durante essa trajetória na Ofi, eu
vi que o café que a gente produzia era um café muito bom. Aí eu vi a
oportunidade de oferecer essa qualidade para os consumidores. Buscando a
independência, trabalhar para mim mesmo.
Vamos falar sobre
café orgânico e certificado. O que isso significa na prática do dia a dia na
lavoura?
Meu
café até o ano passado era convencional. Na busca de melhorias e conhecimento
de novos métodos para facilitar o manejo, eu decidi fazer a transição do meu
café de convencional para orgânico.
Faz
um ano que estou nesse processo. Para ele ser certificado como orgânico, ele
precisa ter no mínimo de dois anos no Brasil de manejo orgânico para obter o
certificado. O que muda na parte do dia a dia, é todo o manejo. Agora, a gente
não usa nada químico mais. Usamos calcário, pó de rocha, esterco, composto na
parte de adubação, micronutrientes. Na parte de manejo contra doenças, a gente
usa os biológicos. Por enquanto, está sendo bem mais eficiente na prevenção de
doenças do que os químicos. A gente tem que ter um olhar mais atento na lavoura
para garantir que nada possa contaminar ou atingir o café.
Você trabalha com
cafés especiais e superiores. Como é feita essa classificação e por que
oferecer diferentes linhas?
Sim,
eu só trabalho com cafés especiais. O
superior é um café, como o nome já fala, é superior ao tradicional. Trabalha
ele com a torra média-escura, para quem gosta de um café mais forte e mais
intenso. É 100% café - uns 50/60% de grãos inteiros e o restante é grão
quebrado. São tiradas todas as impurezas.
O
café gourmet é tipo exportação. A gente faz o rebenefício desse café. Separa
por tamanho de grãos, tira todos os defeitos - grãos verdes e quebrados. Fica
100% grãos inteiros. Esse eu vendo classificado como gourmet, na bebida dura.
Depois, tenho esse mesmo café, só que bebida mole. É um café que colhemos no
ápice de maturação, fizemos uma seca bem trabalhada e conseguimos uma bebida
mole, com teor de doçura natural.
Já conseguiu
exportar ou atrair compradores internacionais?
Por
questões logísticas, não conseguimos exportar ainda. Mas com a demanda,
pensamos em ampliar. Por enquanto, estamos atendendo qualquer
estado do Brasil.
O que ainda
precisa melhorar no Brasil para apoiar pequenos produtores na transição para
cafés de qualidade?
O
que falta é informação chegar ao pessoal. Tem muitos cursos gratuitos
disponibilizados. Incentivar cafés de qualidade. Toda pessoa consegue fazer um
café de qualidade e a tendência é que cada vez mais seja exigido isso.
O café especial
pode ser uma alternativa economicamente viável para quem vive da agricultura
familiar?
Acredito
que sim. É um diferencial dos pequenos produtores porque estão ali acompanhando
no dia a dia. Consegue sim se dedicar, buscar conhecimento e fazer um café
especial. É um modo de agregar valor no café. Se fizer um café especial, você
pode participar de um concurso e ganhar destaque. Isso valoriza muito o café da
agricultura familiar. A qualidade pode ser um diferencial muito grande, desde
que a pessoa se dedique e busque informações.
Que mensagem você
deixa para outros produtores que querem investir em cafés
orgânicos e especiais?
O
café especial é um meio de se destacar dos demais. É um caminho sem volta, né?
Os consumidores estão exigindo cada vez mais o café especial, então a gente tem
que proporcionar isso a eles. A tendência é que o café orgânico, sustentável,
cresça muito. O orgânico hoje não é bicho de sete cabeças, como era
antigamente.
Os
biológicos são fungos e bactérias “do bem” que combatem os fungos e bactérias
“do mal” que são as doenças. A gente vê muito produtos batendo cabeça em
químico, e eles não estão segurando as doenças, pois elas estão criando
resistência.
É
o primeiro ano que estou no caminho orgânico, e estou gostando dos resultados.
É um meio de valorizar a minha saúde e de minha família. O agrotóxico químico
combate as doenças da lavoura, mas acaba sobrando um residual que faz mal à
saúde do ser humano. Quero oferecer um café de qualidade, orgânico, e que faça
bem para as pessoas.
Desafios e o que
vem pela frente
O
cenário é promissor. Diversos países ao redor do mundo estão à procura de cafés
com identidade, qualidade e responsabilidade ambiental. O Brasil, por sua vez,
se prepara para atender essa demanda — com um produto que envolve sabor,
cultura e sustentabilidade. O café brasileiro sai da roça e chega até as
cafeterias mais exigentes do mundo.
Por que o café
especial é o futuro?
· Produção em crescimento constante
· Alta valorização no mercado internacional
· Preço até 3x maior por saca
· Benefícios para pequenos produtores
· Sustentabilidade como diferencial competitivo
· Consumidores mais exigentes e conscientes
O café especial brasileiro não é mais apenas uma promessa — é uma realidade que transforma o campo e posiciona o país como referência em qualidade na cafeicultura. Com foco na excelência, na rastreabilidade e nas práticas sustentáveis, o Brasil se mostra pronto para liderar o futuro do café no cenário mundial.