Projeto propõe que Câmara use canais oficiais para divulgar casos de pessoas desaparecidas

Proposta de Roney Vilaça também prevê ações educativas, uso de tecnologia e criação de semana de conscientização
Foto: ASSCAM/Bibiana

Foi apresentado na sessão da Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, segunda-feira, 23, o Projeto de Resolução nº 1.226, autoria do vereador Roney Vilaça, que propõe a divulgação de informações sobre pessoas desaparecidas nos canais oficiais de comunicação do Legislativo, com ênfase especial em casos envolvendo crianças e adolescentes.

De acordo com o texto, a Câmara deverá utilizar seu site institucional, redes sociais e demais meios disponíveis para dar visibilidade imediata aos desaparecimentos, especialmente nas primeiras 24 horas após o registro — período considerado crucial para o sucesso das buscas. A divulgação será feita mediante solicitação acompanhada de boletim de ocorrência e autorização familiar ou da autoridade competente.

O projeto ainda prevê o uso de tecnologias de inteligência artificial, com a possibilidade de incluir imagens simuladas por progressão de idade ou alteração fisionômica, desde que autorizadas e validadas por autoridade policial.

A proposta também institui a Semana de Conscientização e Prevenção ao Desaparecimento de Pessoas, a ser realizada anualmente na semana que compreende o dia 30 de agosto, em referência ao Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas. A programação deverá incluir sessões temáticas, audiências públicas, campanhas educativas e ações com escolas, conselhos tutelares e entidades da sociedade civil.

A execução das ações ficará sob responsabilidade da Procuradoria Especial de Proteção da Criança e do Adolescente da Câmara, que também poderá propor materiais informativos, cursos e parcerias com órgãos da rede de proteção.

Depoimento de mãe emociona vereadores

Para ilustrar a gravidade do tema, o vereador Roney convidou a senhora Rosângela de Carvalho, mãe de William, jovem desaparecido há seis meses em São Sebastião do Paraíso. Ela relatou a dor da espera e o desespero diante da falta de respostas. “Ele saiu de casa numa quinta-feira à noite, colocou uma blusa de moletom e foi embora. Depois começaram os boatos dizendo que ele tinha sido morto. Até hoje não sei de nada. Já fui atrás de tudo. A gente fica desesperada. Não tem onde procurar, não tem resposta.”

Ao ser questionada se sabia como agir nos primeiros dias, Rosângela foi direta: “Eu me senti perdida. No começo, achei que ele estava só por aí, mas depois vi que ninguém sabia de nada. Aí comecei a procurar, mas foi tudo muito confuso.”

Roney reforçou que o caso não é isolado: “Há moradores da nossa cidade que estão desaparecidos há anos, e talvez muitos aqui nem saibam. No Brasil, são cerca de 70 mil desaparecimentos por ano, muitos deles de crianças e adolescentes. Esse projeto nasce da urgência de dar visibilidade e estrutura a essas famílias, para que não enfrentem essa dor sozinhas.”

“Os trotes destroem o pouco que resta de esperança”, diz vereador

O presidente da Casa, Lisandro Monteiro, usou a palavra para fazer um apelo à consciência da sociedade diante da dor das famílias. Ele relatou que, ao tentar ajudar no caso de uma mulher desaparecida, viu o quanto os trotes atrapalham e intensificam o sofrimento de quem procura um ente querido.

“Eu divulguei o caso da Cíntia, que estava desaparecida e deixou uma filha pequena. O que chegou de trote... era gente dizendo que ela estava morta, que estava em tal cidade, que viram corpo no mato. É inacreditável o que fazem. São trotes que tiram a paz, que alimentam falsas esperanças ou reforçam a dor.”

Lisandro lamentou a falta de empatia: “Imagina a dor de uma mãe. A cada telefonema, ela pensa que é o filho chegando. E não é. É alguém brincando com a dor dela. Isso é desumano. A sociedade precisa reagir com mais respeito.”

O projeto foi aprovado como objeto de deliberação e agora segue para a apreciação das comissões permanentes e deve voltar ao plenário para votação na próxima semana.