Empreendedor desiste de permuta com o Município e aponta “lentidão” da Câmara
Vereadores reagem e defendem atuação da Casa e empresário explica desistência; projeto previa ponte ligando duas importantes avenidas de Paraíso

Durante
a leitura das correspondências da sessão ordinária de segunda-feira, 30 de
junho, a Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso tomou conhecimento da
retirada do Projeto de Lei 5.705, que tramitava na Casa e previa uma permuta
entre o Município e o empreendimento residencial Paraíso Verde. A proposta
envolvia a cessão de uma área institucional à empresa como contrapartida pela
construção de uma ponte entre as avenidas Delson Scarano e Jacinto Ferreira
Guimarães.
No ofício
assinado pelo prefeito Marcelo Morais, a justificativa para o arquivamento do
projeto é a desistência formal do empreendedor, registrada por meio de
requerimento. Em documento anexo, o responsável pelo empreendimento, empresário
José Carlos Gonçalves, da empresa Café Total Comércio e Empreendimentos, alegou
“lentidão da Câmara para aprovar a permuta sugerida pela própria Prefeitura”
como motivo para a retirada.
A
afirmação, entretanto, não foi bem recebida por vereadores. Logo após a
leitura, o presidente da Casa, Lisandro Monteiro, abriu espaço para que os
parlamentares comentassem o caso. O primeiro a se manifestar foi o vereador
Roney Vilaça, que comentou sobre o teor do ofício. “Essa Casa aqui não tem
trabalhado com inércia. Temos votado projetos importantes. Deixo consignado meu
repúdio a essa fala, porque nosso foco aqui é o interesse público. Se o projeto
não entrou em pauta, é porque não havia espaço naquele momento”, disse.
O
vereador Luiz de Paula, autor do pedido de vistas que suspendeu a tramitação do
projeto anteriormente, também se manifestou. Ele destacou que a proposta foi
considerada inconstitucional pelo setor jurídico da Câmara. “Demorou um pouco
mais porque precisamos estudar. Se a gente vota algo errado, podemos pagar por
isso”, justificou.
Vilaça
reforçou o argumento: “Houve uma manifestação muito bem fundamentada dos dois
assessores jurídicos da Casa de que o projeto era inconstitucional. Não podemos
votar um projeto desse a toque de caixa e depois correr o risco de ser responsabilizados
ou de haver embargo do Ministério Público”.
Luiz de
Paula complementou afirmando que reconhece a importância da obra, mas defende a
legalidade em primeiro lugar. “Seria muito bom para o trânsito, mas com
ilegalidade, não dá. Vamos aguardar uma nova manifestação do Executivo.
Acredito que ainda há caminhos para viabilizar essa ponte”.
Membro
da Comissão de Finanças, Justiça e Legislação, a vereadora Maria Aparecida
Cerize (Cidinha) explicou que o projeto chegou a receber parecer favorável da
assessoria jurídica do Executivo, ainda que com entendimento contrário por
parte do jurídico da Câmara. “O projeto iria ao plenário, para os novos pares
deliberarem. Eu já tinha me comprometido a votar a favor da tramitação, mas com
a retirada, respeitamos”, comentou.
Laís
Carvalho, que também integra a Comissão e é advogada, criticou a insinuação de
morosidade da Câmara. “O loteamento existe há quase dois anos. Nós gastamos
aqui dois meses com esse projeto. Isso não é negligência, é responsabilidade. A
prerrogativa de pedir vistas é legítima e deve ser respeitada”, afirmou.
Segundo Laís, o projeto provavelmente seria votado e aprovado na própria sessão
de segunda-feira. “Está estranho jogarem essa responsabilidade sobre a Casa”.
O
Projeto de Lei 5.705 autorizava o Poder Executivo a permutar uma área institucional
pública com a empresa responsável pelo loteamento, como forma de viabilizar a
construção da ponte. A proposta se baseava no argumento de interesse público
para a melhoria da mobilidade urbana na região. Na justificativa do projeto,
enviada ao Legislativo, o Executivo afirmava que a obra beneficiaria não apenas
os moradores do novo loteamento, mas também os bairros adjacentes, desafogando
o tráfego e oferecendo um novo eixo de ligação viária.
Com a
retirada formal, a proposta deixa de tramitar na Câmara. No entanto, vereadores
esperam que o Executivo encontre alternativas legais para viabilizar a
construção da ponte, considerada importante para o planejamento urbano da
cidade.
Proprietário explica desistência e diz que projeto da ponte será doado
Em
entrevista ao Jornal do Sudoeste, o proprietário do loteamento Paraíso
Verde, empresário José Carlos Gonçalves, afirmou que a decisão de desistir da
permuta se deu após anos de entraves envolvendo a regularização do
empreendimento e, mais recentemente, o impasse jurídico em torno do Projeto de
Lei que tramitava na Câmara. Segundo ele, a construção da ponte foi uma
sugestão da própria Prefeitura, como alternativa à doação dos 5% de área do
loteamento, conforme previsto em lei.
“Investimos
muito dinheiro nisso. Contratamos uma empresa, fizemos os estudos e elaboramos
todo o projeto”, explicou. No entanto, com o pedido de vistas e a demora para
votação, o empresário passou a temer que a questão fosse judicializada. “A
chance de o caso parar no Ministério Público era real, e não quisemos correr
esse risco”, afirmou.
Diante
disso, Gonçalves informou que vai manter a doação da área institucional ao
Município e, como forma de colaboração, irá repassar gratuitamente o projeto da
ponte à Prefeitura. “O projeto já está pago, não vão precisar gastar dinheiro
com isso”, destacou.
Ao final, ele lamentou o desfecho da situação. “Todos perdemos tempo, inclusive os vereadores, que têm outras pautas importantes para tratar na Câmara”.