Câmara aprova selo para empresas que reconhecem o cuidado como responsabilidade compartilhada
Proposta da vereadora Laís Carvalho busca reconhecer empresas que abrem espaço no ambiente de trabalho para o cuidado com filhos e dependentes

A Câmara
Municipal de São Sebastião do Paraíso aprovou nesta semana o Projeto de Lei nº
5.729, que cria o “Selo Empresa Amiga do Cuidado”. A proposta, de autoria da
vereadora Laís Carvalho, tem como objetivo reconhecer empresas que abonem
faltas justificadas de seus colaboradores para acompanharem filhos, tutelados
ou pessoas sob sua responsabilidade em compromissos de saúde ou escolares.
Pela
proposta, poderão receber o selo as empresas que adotarem, em sua política
interna, o abono de faltas para consultas, exames, internações, tratamentos ou
qualquer procedimento médico que exija a presença de um responsável, mediante
apresentação de comprovantes. Também estão incluídas reuniões e outras
atividades escolares. A concessão do selo será feita pelo órgão competente da
Administração Municipal, mediante solicitação e apresentação de documentação
pelas empresas interessadas.
Para a
criadora do projeto, mais do que um símbolo, o selo busca promover uma mudança
cultural no mercado de trabalho: valorizar o tempo do cuidado como parte
legítima da vida laboral.
Na
justificativa do projeto, a vereadora ressalta que a legislação federal hoje é
extremamente restritiva quanto à possibilidade de abono de faltas para esses
fins. “O projeto responde diretamente a essa lacuna legal e social, atualizando
o arcabouço jurídico à luz da Constituição Federal, que determina como dever da
família, da sociedade e do Estado garantir proteção integral à infância e à
adolescência”, argumenta.
A
proposta integra uma mobilização nacional conduzida pelo movimento Mulheres em
Lutas (MEL), reunindo parlamentares de diferentes regiões e esferas políticas.
O movimento defende uma nova cultura institucional, na qual o cuidado deixe de
ser um fardo exclusivamente individual — geralmente atribuído às mulheres — e
passe a ser compreendido como uma responsabilidade coletiva.
Segundo
dados citados na justificativa, o Brasil possui mais de 11 milhões de mães
solo, sendo 90% delas mulheres negras, muitas vivendo em situação de
vulnerabilidade. Em casos ainda mais sensíveis, como os de crianças com
deficiência ou doenças raras, é comum que as cuidadoras percam vínculos formais
de trabalho, pela ausência de políticas públicas que apoiem o cuidado.
“O tempo de cuidar também é tempo produtivo”, afirma a vereadora. “Legislar com base na realidade e nas urgências do presente é fundamental para garantir dignidade, especialmente às mulheres trabalhadoras.” O projeto foi aprovado por unanimidade e agora segue para sanção do Executivo.