Folia de Reis na Fazenda Marques mantém viva tradição centenária em São Sebastião do Paraíso

Na zona rural de São Sebastião do Paraíso, a tradição e a devoção se encontram todos os anos no som marcante da Folia de Reis. Na Fazenda Marques, a Companhia de Reis, com mais de um século de existência, atravessa quatro gerações preservando um ritual que une fé, música e comunidade.
À frente
dessa história está o agricultor Jair Soares, 51 anos, casado com Regiane
Aparecida de Souza Soares e pai de quatro filhos. Membro da companhia há mais
de três décadas, ele aprendeu o ofício de folião com o pai e, desde 2019,
assumiu a liderança do grupo. A missão chegou de forma inesperada, quando o
primo, Márcio Luiz de Souza, precisou se afastar por motivos familiares de saúde.
A transição
ocorreu em meio à pandemia, um período marcado pelo receio de transmitir a
doença aos devotos e pela dificuldade em reunir cantadores. “Foi um momento de
muita fé. Tínhamos poucos integrantes, mas conseguimos, com dedicação, formar
um elenco grande e unido”, relembra Jair. Hoje, a companhia reúne 53
componentes, entre cantadores, instrumentistas, alferes e bandeireiros, que se
revezam nas apresentações.
A história
da Companhia de Reis está intimamente ligada à Capela dos Três Reis Santos, construída
em 2003 pelo saudoso Jaime Antônio de Souza, o “Jaime dos Marques”. Pouco antes
de falecer, ele confiou a Jair e Regiane os cuidados do local, tarefa que
abraçaram junto à família. Em 2023, a capela foi reformada e reinaugurada com
uma grande festa, fruto da contribuição e da fé dos devotos. A obra seguiu
padrões de acessibilidade, e cada detalhe carrega o toque da comunidade.
Todos os
anos, a jornada da folia começa em 1º de janeiro, ao meio-dia, logo após o
terço, e se estende por seis dias, com o grupo visitando casas para levar a
mensagem dos Santos Reis e recolher ofertas. O retorno à capela, em 6 de
janeiro, é marcado pela tradicional Festa do Doce, que atrai moradores e
visitantes. São servidos cerca de 100 kg de doces de frutas (cidra, mamão, jaracatiá
e raiz de mamão), 600 kg de doce de leite e 30 kg de biscoitos. “É um momento
de agradecimento. A gente oferece o doce como sinal de gratidão pelas bênçãos
recebidas”, explica o líder da companhia.
Entre os
planos de Jair está a ampliação do barracão onde ocorre a festa, para oferecer
mais conforto aos participantes. Mas o maior objetivo, segundo ele, vai além da
infraestrutura: “Meu sonho é nunca deixar essa tradição acabar. Os Santos Reis
são muito milagrosos e essa cultura é uma bênção para todos nós.”
A Companhia de Reis da Fazenda Marques segue como expressão viva da fé popular, elo entre o passado e o presente, e exemplo de como a devoção pode atravessar gerações, mantendo acesa a chama de uma cultura que resiste ao tempo.