Supermercados relatam aumento de furtos em Paraíso

Lojistas afirmam que casos se tornaram mais frequentes nos últimos meses, enquanto autoridades dizem que registros oficiais permanecem estáveis
Foto: Ilustrativa/JORNAL DO SUDOESTE

Supermercadistas de São Sebastião do Paraíso relatam que os furtos em seus estabelecimentos se tornaram mais comuns nos últimos meses, trazendo impactos financeiros e também emocionais para funcionários e clientes. A percepção dos empresários, porém, contrasta com a avaliação das autoridades de segurança pública. Tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar afirmam que as estatísticas não registram crescimento significativo nas ocorrências de furto em comércios da cidade.

O sócio do Supermercado Tio João, André Luiz Pessoni, afirma que a situação vem se intensificando. Segundo ele, o aumento é perceptível no dia a dia da loja e afeta diretamente o ambiente de trabalho. “Notamos um crescimento expressivo nos furtos. Isso preocupa não só a nós, comerciantes, mas também nossos colaboradores, que se sentem inseguros ao lidar com flagrantes dentro da loja”. Ele explica que os produtos mais visados incluem chocolates, creme de avelã, desodorantes em aerossol e bebidas alcoólicas, mas ressalta que a vulnerabilidade de um supermercado se estende a diferentes categorias de mercadorias.

Pessoni acrescenta que o prejuízo vai além do financeiro. “As perdas afetam a margem de lucro e exigem investimentos constantes em prevenção. Mas talvez o efeito mais preocupante seja o emocional. Funcionários e clientes se sentem inseguros e os donos enfrentam o desgaste de lidar com essas situações. Para enfrentar o problema, formamos um grupo de supermercadistas no qual compartilhamos em tempo real imagens de câmeras, relatos de suspeitos e informações de veículos. Também instalamos mais câmeras, treinamos a equipe e acionamos a Polícia Militar sempre que necessário. A resposta da PM é rápida, mas a burocracia e as brechas da lei acabam permitindo que muitos infratores sejam soltos rapidamente, o que reforça a sensação de impunidade”.

O proprietário do Supermercado São Marcos, Walker Américo de Oliveira, também relata aumento nos furtos. Ele afirma que, mesmo com pouco tempo à frente da administração, o problema se tornou evidente. “Já constatamos casos de chocolates, bolachas, produtos de higiene, cigarros, bebidas e até carnes. As margens de lucro já são pequenas e qualquer prejuízo pesa diretamente no resultado final.” Walker observa que o perfil dos autores é variado e, em muitos casos, surpreendente. “Não podemos atribuir só à situação econômica. Existem vagas de emprego em supermercados e outros estabelecimentos, mas elas não são ocupadas. Ao mesmo tempo, temos acompanhado furtos de pessoas em condição financeira estável, que ninguém imaginaria. Há também aqueles que furtam para trocar por drogas. Infelizmente, a legislação é branda e muitos sabem que não serão punidos rigidamente. Isso incentiva a reincidência.”

No GP Supermercado, o proprietário Caio Querino de Pádua afirma que a frequência tem surpreendido pela intensidade. “Está fora do normal. Chegamos a registrar dois furtos em um intervalo de 30 minutos, de autores diferentes. É um absurdo.” Ele explica que os principais alvos são mercadorias de alto valor agregado. “Os itens mais visados são carnes nobres embaladas, chocolates e alguns artigos de bazar. Isso nos obriga a mudar a forma de trabalhar, restringindo o acesso a produtos caros, criando áreas controladas e proibindo a entrada de bolsas grandes. Não é algo que gostaríamos de impor aos clientes, mas se tornou necessário.”

Para Caio, a principal causa não é apenas a situação econômica, mas a falta de punição efetiva. “A polícia faz o trabalho dela, mas o sistema judiciário não funciona. Quem furta uma barra de chocolate, uma peça de carne ou uma bebida sabe que dificilmente terá uma punição séria. No máximo passa um dia na cadeia, mas no outro já está solto e possivelmente volta a cometer o mesmo delito.”

A proprietária do Mercado Arco-Íris, Clarice Arantes Cintra, também confirma a percepção de aumento. “Houve crescimento exagerado. Os produtos mais visados são de perfumaria, bebidas, bolachas e chocolates. O impacto é negativo porque gera desânimo. A polícia atua, mas a lei para pequenos furtos acaba favorecendo o infrator”, disse.

Do outro lado, as forças de segurança pública apresentam um quadro diferente. O delegado regional da Polícia Civil, Tiago Bordini, afirma que as estatísticas não registram alteração relevante. “Para nós, não houve aumento substancial. Na verdade, nem notamos mudança nesse sentido. O que pode estar acontecendo é que muitos desses episódios não estão sendo registrados oficialmente em boletins de ocorrência”, declarou.

A Polícia Militar também aponta estabilidade nos indicadores e até redução em furtos de comércios. O 43º Batalhão destaca a importância da Rede de Comerciantes Protegidos, uma iniciativa que aproxima policiais e lojistas. “É uma forma de fortalecer a segurança coletiva. Orientamos os comerciantes a investir em monitoramento por câmeras e sensores de movimento, organizar os caixas de forma a dificultar a ação criminosa e reservar os produtos de maior valor para áreas com vigilância constante”, informou a corporação.

Apesar das diferenças de percepção, comerciantes e autoridades convergem em um ponto: a impunidade aparece como fator central para o problema. Empresários relatam que até pessoas conhecidas e em condição estável já foram flagradas furtando, enquanto a polícia reforça que o registro das ocorrências é essencial para que os números reflitam a realidade. Nesse cenário, supermercados seguem investindo em prevenção e na parceria com as forças de segurança, ao mesmo tempo em que aguardam respostas mais efetivas do sistema de justiça.