F1 arranca para o terço final da temporada
A depender da combinação de resultados, a McLaren pode sair de Baku com o título de Construtores por antecipação. Mas no meio do pelotão há uma intensa briga de foice

Se você fosse um piloto de F1 bem sucedido, o que faria em
um final de semana de folga? Talvez a maioria dissesse que iria curtir com a
família, com os amigos, ou que iria aproveitar para descansar e recarregar as
baterias para o terço final da temporada que está começando neste final de
semana com o GP do Azerbaijão, 17ª etapa do campeonato. Mas Max Verstappen,
sim, você leu certo(!), preferiu se divertir com um Porsche 718 Cayman (foto)
numa prova de 4h de duração em Nurburgring, uma das pistas mais desafiadoras do
automobilismo, conhecida como ‘Inferno Verde’, encravado no meio da Floresta
Eiffel, na Alemanha, com seus 20,8 km de extensão. Foi nessa pista que Niki
Lauda sofreu um dos acidentes mais pavorosos da F1 com a Ferrari em 1976, e que
deixou as cicatrizes das queimaduras em seu rosto enquanto viveu até 2019.
No passado, lá pelos idos de 1950 até começo dos anos 1980, era comum os pilotos de F1 se aventurar por outras competições por pura paixão pelo esporte. Esse tipo de piloto, que a gente costuma chamar de “racer”, não existe mais na principal categoria do automobilismo. Por uma série de razões que vão desde o veto das equipes, passando pela extensa agenda de compromissos com patrocinadores, até o longo e apertado calendário da F1, privou os ‘racers’ de fazer essas aventuras, principalmente depois de um caso esporádico em 2011 que custou caro ao promissor polonês Robert Kubica que teve a infelicidade de se acidentar gravemente numa prova de rali pouco relevante na Itália, que comprometeu seriamente sua carreira na F1 devido as sequelas. Já Fernando Alonso, o último dos moicanos, que já correu um pouco de tudo na vida e segue firme e forte aos 44 anos, se aventurou nas 500 Milhas de Indianápolis em três ocasiões, 2017, 2019 e 2020. E Verstappen faz parte dessa estirpe de piloto que acorda, almoça, janta e dorme pensando em corrida.
Verstappen é fissurado em simuladores e já virou madrugada em véspera de corrida disputando provas virtuais de longa duração. Ele não esconde o desejo de disputar provas de endurance como as 24 Horas de Le Mans. Em Nurburgring, o holandês se portou como um aprendiz, dedicado e atento a todas as instruções que lhe foram passadas em um habitat que não é o seu. Uma demonstração de humildade mesmo para quem já é consagrado com quatro títulos Mundiais de F1.
“Eu me diverti, mas acho que é sempre assim nesta pista. Completei trechos movimentados com carros mais rápidos e mais lentos, pilotei na chuva, no seco, e em situações intermediárias, entendendo onde há mais e menos aderência. Foi muito bom começar a me familiarizar com esta pista magnífica”. Pelo tom da declaração, pode esperar que há muito mais por vir. Os fãs agradecem.
A F1 está no Azerbaijão e daqui até o final do campeonato será um sopro. Depois virão os GPs de Cingapura, Estados Unidos, Cidade do México, São Paulo, Las Vegas, Qatar e Abu Dhabi fechando a temporada que tem Oscar Piastri na liderança entre os pilotos com 31 pontos de vantagem sobre o companheiro de equipe, Lando Norris (324 a 293). A depender da combinação de resultados (vitória de qualquer um dos pilotos e o outro terminar no pódio em 2º ou 3º), a McLaren pode conquistar o título de Construtores por antecipação no circuito urbano de Baku, e se conseguir será o mais precoce de uma equipe em todos os tempos na F1 com sete corridas ainda pela frente.
Mas é no pelotão intermediário que há uma interessante briga
de foice entre Williams, Aston Martin, Racing Bulls, Sauber, Haas, e até a
lanterna, Alpine, se destaca por ser a última colocada de um campeonato com
mais pontos (20) na história da F1. Chama atenção a curiosa estatística da
Williams que de 2018 a 2024 somou apenas 84 pontos e só nesta temporada já
conquistou até aqui 86, fruto do trabalho sério, competente e com um lado
humano que poucos chefes de equipe da F1 são capazes de ter. Na minha opinião,
James Vowles é o melhor chefe de equipe da atualidade e aos poucos vai
colocando a Williams nos trilhos depois de pegar a lendária equipe fundada por
Frank Williams toda arrebentada.
A programação do GP do Azerbaijão é toda mais cedo que o habitual desde os treinos livres. A classificação acontece neste sábado às 9h, e a corrida no domingo às 8h.