Parteiras de São Sebastião do Paraíso: mãos que trouxeram à luz gerações

BLOG NELSON DUARTE
Foto: Ilustrativa/JORNAL DO SUDOESTE

Em tempos em que o parto hospitalar ainda era privilégio de poucas famílias, e, em muitos casos, uma opção das parturientes, São Sebastião do Paraíso contou com a dedicação e o carinho de mulheres simples, mas dotadas de um talento divino: as parteiras. Foram elas que, por décadas, estiveram presentes nos lares, nas fazendas, nos sítios e nas vilas, trazendo à luz um número incontável de crianças e garantindo o início da vida de gerações inteiras de paraisenses.

Essas valorosas senhoras, muitas vezes conhecidas apenas pelos seus prenomes, exerciam um sacrossanto ofício, movidas pela fé, pela experiência e por uma vocação de servir. Sem recursos médicos ou equipamentos modernos, contavam apenas com o saber adquirido na prática, transmitido de mulher para mulher, e com uma coragem que não conhecia hora nem distância. Dia e noite, sob sol ou chuva, lá iam elas — com uma pequena maleta e um coração cheio de esperança — atender parturientes em momentos de aflição e alegria.

Na época em que os partos hospitalares eram raros, limitados à Santa Casa ou à antiga Casa de Saúde, boa parte das mulheres dava à luz em suas próprias residências. O ambiente doméstico era o cenário comum desses nascimentos, e as parteiras eram figuras de confiança nas comunidades. Sabiam acalmar, orientar e agir, muitas vezes salvando vidas com sua intuição e destreza.

Foram protagonistas silenciosas de um tempo em que não havia urgência médica nem ambulâncias à disposição. Com gestos simples e mãos firmes, garantiram a continuidade da vi-da e o crescimento das famílias, tornando-se, cada uma a seu modo, guardiãs da esperança.

Para rememorar essas mulheres de coragem, o Jornal do Sudoeste recorreu à memória prestimosa de Dalila Mirhib Cruvinel, escritora, poetisa e detentora de uma lembrança viva das antigas figuras da cidade. Dalila recorda-se de algumas dessas parteiras que marcaram época e que, mesmo sem registros oficiais, permanecem eternizadas na lembrança afetiva de muitos. Cita nomes como Dona Ísidia, atuante na década de 1940, e Dona Maria das Dores, amiga da saudosa “Mãe Preta”, uma pessoa tida como de sua própria família. Maria das Dores morava na zona rural e realizava partos nas fazendas e nos sítios, onde quer que houvesse uma mulher prestes a dar à luz.

Outras figuras também merecem lembrança, como Dona Flora, Josefa Martins, Blandina Rezende, Maria das Dores, Giulia Santo Tulini, Maria Barati, Ana Leocardia (Termópolis), Dona Michelina (Guardinha), Maria Baiana, Maria Pimenta, Siana Pereira que residia próximo às Igreja da Abadia, Ana Leandro Marcelino moradora em Termópolis (de pequena estatura, coração enorme), Maria Cortez Cortez dentre outros nomes que ainda ecoam nas histórias contadas de geração em geração.

Trabalho dignificante e também digno de nota, o de enfermeiras que auxiliaram em inúmeros partos, não apenas em hospitais, mas nas casas das parturientes, como as abnegadas Augusta Naves Zanin, Carolina Mumic Sofiatti, Beatriz Rodrigues, Vitória Colózio, Maria Gonçalves (Fiínha), em nome de quem se louva o carinho e desvelo de outras dedicadas profissionais.

Foram parte essencial da história de São Sebastião do Paraíso. Trabalho fraterno, “samaritano”, marcado pela dedicação, comprometido com a vida.

O “JS” buscou em arquivos históricos e eclesiásticos possíveis anotações sobre parteiras. Uma das possíveis fontes indicadas seriam batistérios. Na Igreja Matriz São Sebastião onde esperávamos localizar menções aos nomes de parteiras, a informação é que livros de batismo não registram esses nomes, apenas dados do batizado, pais, padrinhos dentre outras sacramentais.

No aniversário de 204 anos de São Sebastião do Paraíso, esta homenagem é também um gesto de gratidão a essas mulheres que, com suas mãos e seus corações, ajudaram a construir as histórias de tantos paraisenses — literalmente desde o primeiro respiro.