Janaína Godói: De Paraíso para o topo do futsal europeu
Aos 21 anos, a paraisense que começou na escolinha municipal coleciona títulos em Portugal, sonha com a Seleção e leva o nome de Paraíso à Champions League do futsal
 
                                        Foi
em uma quadra de São Sebastião do Paraíso que Janaína Godói começou a trilhar o
caminho que hoje a coloca entre os grandes nomes do futsal feminino
internacional. Aos 21 anos, a atleta é um dos destaques do GCR Nun’Álvares, de
Portugal, onde soma conquistas históricas e atuações de protagonismo em uma das
ligas mais fortes da Europa. O talento que despontou nas categorias de base da
escolinha municipal transformou-se em vitrine mundial. E agora, com os olhos
voltados para a temporada 2025/2026, Janaína encara dois novos desafios: a
Champions League de Futsal Feminino — que reunirá os campeões nacionais da Europa
— e o sonho de vestir a camisa da Seleção Brasileira, mirando a Copa do Mundo
de Futsal Feminino, marcada para as Filipinas, entre 21 de novembro e 7 de
dezembro de 2025.
Raízes e primeiros passos
Filha
de Valdir e Marilei Godói, Janaína descobriu a afinidade com a bola ainda
menina, nas ruas e escolas de Paraíso. Aos oito anos, foi observada pelo
professor Adalberto Alves, o Betinho, na escolinha de futsal da Prefeitura. Não
havia categoria sub-11 feminina na época, mas o talento falou mais alto: ela
treinava com as meninas do sub-13 e sub-15, sem se intimidar. “Lembro como se
fosse ontem o dia em que entrei na escolinha. Nem nos meus melhores sonhos
imaginei conquistar tudo isso”, recorda a atleta.
Com
disciplina e talento precoce, Janaína chamou atenção de olheiros de fora. Aos
14 anos, trocou a tranquilidade do interior pelo desafio de morar sozinha em
Brusque (SC), onde defendeu o Barateiro Futsal, um dos clubes mais tradicionais
do país. Foi ali que conviveu com referências como Amandinha, várias vezes
eleita a melhor jogadora do mundo, e aprendeu o rigor do alto rendimento. “Sair
de casa tão nova foi o mais difícil, mas a adaptação veio rápido. O futsal me
deu estrutura e ensinou que nada se conquista sem esforço”, diz.
O salto nacional e o chamado europeu
Do
Barateiro, Janaína seguiu para o São José, de São Paulo, onde viveu uma fase de
ouro. Os gols e as boas atuações chamaram atenção de clubes estrangeiros. “Eu
vinha fazendo uma excelente temporada, com muitos gols, e boa parte dos jogos
era transmitida online. Acredito que foi através desses vídeos que o pessoal de
Portugal chegou até mim”, relembra.
Em
junho de 2024, ela aceitou o convite do Nun’ Álvares, da cidade de Fafe, e
embarcou para a Europa. O frio e a rotina intensa de treinos foram duros no
começo, mas o talento logo falou mais alto. O clube, que vinha batendo na trave
em competições nacionais, encontrou na brasileira a peça que faltava para
escrever uma nova história. “O Nun’Álvares tem uma estrutura excelente e está
sempre brigando por títulos com o Benfica. Vim pra somar, e graças a Deus as
coisas aconteceram mais rápido do que eu esperava”, comenta.
Do primeiro gol ao topo de Portugal
Em
menos de um ano no país, Janaína viveu o ápice: campeã nacional e artilheira da
equipe, com 15 gols na temporada. Na final contra o Santa Luzia, em um ginásio
lotado, marcou o terceiro gol da goleada por 8 a 0, que deu ao Nun’Álvares o
primeiro título português de sua história. “Foi uma sensação única. A quadra
estava lotada, ingressos esgotados antecipadamente, e eu acabei de entrar
quando fiz o gol. É o tipo de momento que a gente nunca esquece”, conta.
A
conquista abriu caminho para outro feito: a Supertaça Feminina de Futsal de
Portugal, na vitória por 3 a 2 sobre o poderoso Benfica, na prorrogação. Foi o
segundo troféu inédito do clube — e o segundo com a assinatura da brasileira.
“Cheguei há um ano e já conquistei os dois títulos que o clube ainda não tinha.
Agora faltam a Taça da Liga e a Taça de Portugal pra completar a coleção”,
brinca, sem esconder a ambição.
Essas
conquistas transformaram Janaína em um dos rostos mais reconhecidos da liga. A
cada partida, seu nome aparece entre as estatísticas de destaque, seja como
artilheira, seja como eleita MVP — jogadora mais valiosa da rodada. Sua
agilidade, leitura de jogo e finalização precisa a tornaram uma das referências
do futsal português.
Adaptação e maturidade
Mas
o caminho até o topo não foi fácil. Janaína admite que o processo de adaptação
exigiu força mental. A distância da família e as diferenças culturais pesaram
no início, mas a recepção do clube e dos torcedores fez a diferença. “Com
certeza, toda adaptação é difícil. Estar longe não é fácil, mas fui muito
abraçada por todos e hoje posso dizer que me sinto em casa. Já me sinto quase
uma portuguesa”, revela, rindo.
Ao
mesmo tempo, a atleta manteve os estudos — formou-se em Educação Física e cursa
Licenciatura online para complementar a formação. A dedicação fora das quadras
é reflexo da maturidade que o esporte lhe deu. “O futsal me fez crescer como
pessoa. Ensina disciplina, trabalho em equipe, humildade e fé. Tudo o que
conquistei veio do esforço diário.”
Nova temporada, novos sonhos
Com
contrato renovado, Janaína encara a temporada 2025/2026 como a mais desafiadora
da carreira. Além das competições nacionais, o Nun’Álvares garantiu vaga na
Champions League de Futsal Feminino, torneio que reunirá os campeões europeus —
uma espécie de “Liga dos Campeões” do futsal. “Vai ser algo novo, uma
oportunidade incrível de jogar contra os melhores da Europa. É um sonho
disputar uma Champions League, algo que a gente via só na televisão. Hoje vou
viver isso dentro da quadra”, celebra.
Enquanto
brilha nos ginásios portugueses, ela mantém o foco no Brasil. O grande
objetivo, agora, é conquistar espaço definitivo na Seleção Brasileira de Futsal
Feminino. “Tenho esse sonho desde criança. Acompanhar o hino, vestir a camisa
da Seleção, representar o nosso país… é o maior objetivo de qualquer atleta”,
afirma.
O
calendário internacional reforça essa expectativa: entre 21 de novembro e 7 de
dezembro, as Filipinas receberão o primeiro Mundial de Futsal Feminino,
organizado pela FIFA. Janaína acompanha tudo de perto e espera estar na lista
das convocadas. “Seria a realização de um sonho. Estou trabalhando muito pra
isso. Quero estar pronta se a oportunidade vier.”
Raiz que não se perde
Apesar
do sucesso fora do país, Janaína nunca se desligou de São Sebastião do Paraíso.
Sempre que volta ao Brasil, visita a escolinha onde começou e faz questão de
conversar com as meninas que sonham em seguir o mesmo caminho. “Às vezes não
cai a ficha do quanto elas me admiram. Mas eu sempre digo: todas podem chegar
aonde cheguei. Basta sonhar alto, se dedicar e acreditar”, diz, emocionada.
A
ligação com a cidade natal é o fio que costura sua trajetória. Ela faz questão
de repetir que nada seria possível sem o apoio dos pais e das oportunidades que
teve ainda criança. “Eu só cheguei até aqui porque tive base, estrutura e
incentivo. Meus pais sempre acreditaram em mim, e a cidade me deu o primeiro
espaço pra começar.”
Exemplo
e inspiração
Hoje,
Janaína representa mais que um nome vitorioso do futsal. Ela se tornou um
símbolo de superação e orgulho local, inspirando uma geração de meninas que
lotam as quadras da cidade. “Recebo muitas mensagens de meninas de Paraíso
dizendo que começaram a jogar por minha causa. Isso é o que mais me emociona.
Saber que minha história está servindo de exemplo é o maior título que posso
ganhar”, reconhece.
Para os
treinadores e colegas de infância, ela é a prova de que o esporte ainda é um
dos maiores instrumentos de transformação social. O professor Betinho, que a
viu dar os primeiros chutes, costuma dizer que “Janaína nasceu pra isso — e só
precisava de um tempo pra o mundo perceber”.
Mensagem
à cidade
Ao falar do aniversário de São Sebastião do Paraíso, Janaína faz questão de voltar às origens com o mesmo carinho de sempre. “Hoje é dia de parabenizar a minha cidade natal, o coração se enche de gratidão por esse lugar que me viu nascer, crescer e dar meus primeiros passos no futsal. Foi aqui que descobri minha paixão pelo esporte e onde tudo começou, os primeiros treinos, as primeiras competições, os primeiros sonhos. Essa cidade não foi apenas o ponto de partida, foi o alicerce da minha história. Cada quadra, cada amigo, cada incentivo foi essencial para que eu chegasse onde estou hoje, vivendo o sonho de ser atleta profissional de futsal. Aproveito esse aniversário para dizer obrigada a todos que, de alguma forma, fizeram parte dessa trajetória. E deixo uma mensagem especial para as meninas da minha cidade que sonham em seguir esse mesmo caminho: acreditem em vocês, mantenham o foco nos estudos, trabalhem com dedicação e não desistam, mesmo quando parecer difícil. O sonho que nasce aqui pode ganhar o mundo — e vocês podem chegar ainda mais longe.”

 
                                                         
                                                        
                                                         
                                                        
                                                         
                                                        
                                                        