Retirada dos trilhos da FEPASA marcou um novo tempo em Paraíso
Sessão histórica de 1992 selou acordo que transformou a paisagem urbana
A edição
de 21 de fevereiro de 1992 do Jornal do Sudoeste registrou um dos
momentos mais emblemáticos da história recente de São Sebastião do Paraíso: a
assinatura do contrato que autorizou a retirada dos trilhos da Ferrovia
Paulista S.A- FEPASA.
O ato,
anunciado em sessão especial da Câmara Municipal realizada no dia 20 de
fevereiro, simbolizou a concretização de um antigo anseio da comunidade e
marcou o início de uma nova era de crescimento urbano, integrando áreas até
então separadas pela linha férrea.
O
Projeto de Lei nº 2024, de autoria do prefeito Waldir Marcolini, foi aprovado
pelo Legislativo e formalizou o termo de acordo entre a Prefeitura e a FEPASA.
O documento foi assinado pelo prefeito e pelo diretor de patrimônio da estatal,
Miguel Alberto Ruggiero, com o respaldo do engenheiro José Silva Carvalho
Prada, superintendente-geral de administração patrimonial, e do
diretor-presidente da FEPASA, Walter Pedro Bodin, que firmou o contrato em São
Paulo.
Pelo
acordo, o município recebeu uma área de aproximadamente 80 mil metros
quadrados, compreendendo o trecho entre a Cooparaíso, próximo à rua Carlos Mumic,
e o bairro São Judas Tadeu. O valor líquido foi estipulado em 108 milhões de
cruzeiros, com prazo de pagamento de três anos e carência de cinco meses. O
projeto previa o aproveitamento do leito ferroviário em 138 lotes, com toda a
infraestrutura já existente. Segundo Marcolini, a venda dos terrenos traria lucro
estimado de 600 mil cruzeiros aos cofres municipais.
“Um
dia histórico para Paraíso”
Em clima
de emoção, a sessão da Câmara foi marcada por diversos pronunciamentos. O
primeiro a ocupar a tribuna foi o diretor de patrimônio da FEPASA, Miguel Roberto
Ruggiero, que destacou o significado do momento.
“Tudo
acontece no tempo certo. O pedido dos paraisenses para a retirada dos trilhos é
mais que justo e deveria ter sido atendido há muito tempo”, afirmou.
Ao final
de sua fala, Ruggiero salientou que a FEPA SA abria as portas a outros pedidos
da comunidade para-sense, demonstrando espírito de cooperação.
O
prefeito Waldir Marcolini, em discurso emocionado, classificou a data como “um
dia histórico para São Sebastião do Paraíso”.
“Durante
muitos anos a cidade esteve dividida em duas partes pelos trilhos. Agora, com a
retirada deles, poderemos dar continuidade às principais ruas que paravam nos
muros da FEPASA. Esta é a melhor e mais importante obra do meu mandato”,
declarou o prefeito, que agradeceu à diretoria da estatal, ao governador Luiz
Antônio Fleury Filho, ex-governador Orestes Quércia e ao vereador Vitor Duarte,
a quem chamou de incansável.
“A
persistência é uma virtude, e Vitor Duarte deu aula de persistência”, afirmou o
ex-prefeito João Mambrini Filho, ecoando o reconhecimento geral da comunidade.
Reconhecimento
e gratidão
O
ex-prefeito João Mam-brini Filho, reforçou o caráter simbólico da conquista e
destacou a importância do trabalho coletivo:
“Não
estão sendo paralisadas as atividades da FEPA-SA em Paraíso; o que se alargam
são os horizontes da cidade”, disse, em tom de entusiasmo.
Mambrini
lembrou ainda a atuação do ex-deputado paulista Milton Baldocchi, que
intermediou os primeiros contatos com o então governador Orestes Quércia,
abrindo caminho para o acordo.
Entre os
vereadores, as manifestações foram de reconhecimento e gratidão. José Caproni
de Carvalho ressaltou o empenho da Câmara Municipal para a efetivação do
contrato.
O
vereador Ricarte Tadeu Pedroso, representando o PFL, destacou o papel decisivo
de Vitor Silva Duarte, do advogado Jacinto Guimarães Ferreira e do próprio João
Mambrini Filho, que, ainda em 1983, haviam iniciado tratativas com a FEPASA,
buscando a retirada dos trilhos. Pedroso fez questão de mencionar também o
repórter fotográfico Manoel Ribeiro dos Santos, o “Lerinho”, paraisense que
trabalhava na Secretaria Estadual de Saúde em São Paulo, que acompanhou o tema
com dedicação e carinho.
O
vereador recordou que, mesmo após a mudança de governo, Marcolini convidou
Vitor Duarte a continuar o trabalho junto à FEPASA, reforçando a continuidade
administrativa e o espírito público da conquista.
Emoção
no plenário
Quebrando
o protocolo, o então presidente da Câmara, Gabriel Ramos da Silva, concedeu a
palavra ao ex-vereador Vitor Duarte, protagonista da luta pela retirada dos
trilhos.
Vitor
relembrou as idas e vindas a São Paulo durante seu mandato e contou os
bastidores das negociações:
“Começamos
pelas vias erradas, mas a ideia se fortaleceu quando decidimos falar
diretamente com o governador paulista”, disse.
Em tom
emocionado, elogiou João Mambrini Filho e Waldir Marcolini, acrescentando:
“Marcolini
será o prefeito eterno, e a retirada dos trilhos, a obra do século em Paraíso.”
Encerrando
a sessão, o presidente Gabriel Ramos da Silva destacou o valor histórico do
momento:
“Com o
prolongamento das ruas, Paraíso terá um novo aspecto. Jamais poderíamos
esquecer o progresso proporcionado pela FEPASA à nossa cidade. Esta data será
lembrada por nossos filhos e netos”, concluiu.
Símbolo
de modernização e integração urbana
Mais de
três décadas depois, aquele 20 de fevereiro de 1992 permanece gravado na
memória da cidade como o marco da integração urbana de São Sebastião do Paraíso.
A retirada dos trilhos, de vez que o trecho da ferrovia já estava desativado há
anos, eliminou uma barreira física que dividia bairros e transformou a
paisagem, abrindo espaço para novos loteamentos, avenidas e para o crescimento
ordenado da cidade.
O Jornal do Sudoeste, ao registrar o fato, cumpriu mais uma vez sua missão histórica: a de testemunhar e preservar os grandes momentos da vida paraisense.


