Grupo “Palhaços por Amor” leva leveza e acolhimento a pacientes da Santa Casa
Formado por voluntários, o projeto atua quinzenalmente em Paraíso, levando música, humor e conforto emocional a pacientes e profissionais do hospital
Com
jalecos coloridos, narizes vermelhos e um violão em mãos, o grupo “Palhaços por
Amor” transforma, a cada quinze dias, o ambiente da Santa Casa de Misericórdia
de São Sebastião do Paraíso. As visitas, marcadas por brincadeiras e canções,
têm como propósito aliviar a tensão de quem está internado e de quem trabalha
no hospital.
“Chegamos
com o nariz de palhaço, jaleco e violão. Perguntamos qual música o paciente
gosta, tocamos sertanejo, conversamos e distribuímos pirulitos — quando o
médico autoriza. Levamos alegria também aos profissionais, da equipe médica à
limpeza. O hospital é um ambiente tenso, e nossa função é quebrar esse peso”,
contou o coordenador, Antônio Donizete Cintra, o Doutor Jaca.
O
grupo é formado por voluntários que dedicam parte do tempo livre às visitas
hospitalares, sempre com autorização da direção e acompanhamento da assistência
social. “Somos pessoas comuns, mas com o mesmo propósito: levar alegria.
Ninguém é remunerado por isso. Trabalhamos de forma voluntária, tanto na Santa
Casa quanto em outras instituições, como o asilo de São Tomás de Aquino. Quando
somos convidados para outras cidades, pedimos apenas o custeio do
deslocamento”, explicou o Doutor Jaca.
O
“Palhaços por Amor” foi criado em 2002, graças à iniciativa do psicólogo
clínico Márcio Westin Pimenta, inspirado nos “Doutores da Alegria”. O nome
surgiu por sugestão do cantor Rafael, o Doutor Carió, um dos primeiros
integrantes do grupo, falecido há alguns anos. Desde então, o trabalho foi se
transformando e hoje é liderado pelo Doutor Jaca, que mantém viva a proposta de
humanizar o ambiente hospitalar por meio da arte e do riso.
Atualmente,
o grupo conta com cerca de dez integrantes, incluindo os voluntários do
Sonrisal, que atuam de forma semelhante e alternam as visitas — o “Palhaços por
Amor” às sextas-feiras e o “Sonrisal” aos sábados. “Seguimos as mesmas regras e
o mesmo curso de formação”, explicou o coordenador.
Para
atuar, os voluntários passam por capacitação específica em palhaçaria
hospitalar, ministrada por um integrante dos “Doutores da Alegria”, de Passos.
As aulas ocorrem aos domingos e incluem orientações sobre postura, limites e
segurança dentro do ambiente hospitalar. “Temos aulas e orientações sobre o que
pode e o que não pode ser feito. É importante entender o ambiente, respeitar o
paciente e evitar riscos de contaminação. Sempre somos acompanhados por alguém
da assistência social”, destacou.
Durante
as visitas, o voluntário assume integralmente o papel do personagem. “Naquele
momento, não existe o Antônio Donizete. Existe o Doutor Jaca. Por mais que eu
esteja com problemas pessoais, naquele instante o foco é levar alegria. A
transformação é imediata”, contou.
Ele
acrescenta que o grupo segue regras rígidas de segurança e conduta. “Não
tocamos nos pacientes, não fazemos perguntas sobre doenças e não tiramos fotos.
Isso é regra. Se há restrição no leito, nós não entramos. E, quando o quadro é
delicado, falamos mais baixo, cantamos de forma suave. A música tem poder de
acalmar.”
Entre
as histórias mais marcantes, o Doutor Jaca relembra o caso de uma senhora que,
após dias sem se alimentar, voltou a comer depois de uma visita. “Ela estava
muito abatida e com medo da morte. Brincamos, cantamos e, no final, ela quis
sair conosco pelos corredores. Pouco depois, pediu comida. Esse tipo de reação
mostra o quanto o humor e a atenção afetam positivamente o paciente”.
Outro
momento lembrado por ele foi o de uma paciente japonesa que, após resistir à
aproximação, acabou rindo depois de uma piada improvisada. “Foi uma das cenas
mais bonitas. A família, que era muito reservada, acabou agradecendo à direção
do hospital pela visita”.
O
grupo também enfrenta situações de dor e luto, que exigem sensibilidade e
preparo emocional. “Dentro do hospital, vemos de tudo: pacientes em estado
terminal, famílias em luto, pessoas amputadas ou queimadas. Aprendemos a
respeitar cada história e a não carregar esse peso para fora. Antes de entrar,
fazemos uma oração e deixamos o que somos do lado de fora. Lá dentro, é o
personagem quem atua. É o profissional da alegria”, afirmou.
Com mais de 20 anos de história, o “Palhaços por Amor” continua ampliando suas atividades e formando novos integrantes. O grupo mantém o compromisso de usar o riso como instrumento de empatia e acolhimento. “É um trabalho de amor, feito com responsabilidade e com o compromisso de transformar, nem que seja por alguns minutos, o ambiente hospitalar em um lugar mais humano”, concluiu o Doutor Jaca.
