Zezé Rosa aparece em fotografia tirada três anos após sua morte

Foto: Arquivo Jornal do Sudoeste
Zezé Rosa, ao lado de sua mãe, apareceu nesta foto com todas as suas características, três anos após sua morte

Em comemoração aos 40 anos do Jornal do Sudoeste, celebrados em agosto, passaremos a publicar, periodicamente, matérias que marcaram época e foram destaque em nossas edições ao longo dessas quatro décadas de história. Nesta série especial, revisaremos fatos que mobilizaram a opinião pública, relatos que emocionaram a comunidade e episódios que permaneceram na memória coletiva de São Sebastião do Paraíso e região.

Hoje, abrimos espaço para uma das reportagens de grande repercussão, produzida pelo repórter José Antônio Nogueira (JAN), em janeiro de 1996, o relato feito pela mãe de Zezé Rosa, Francisca Lina Domiciano, Dona Chiquita, detalhando o aparecimento do garoto numa foto, três anos após seu assassinato.

Eis a reportagem:

Zezé Rosa aparece em fotografia tirada três anos após sua morte

Em agosto de 1957 o brutal assassinato do engraxate José Francisco da Silva, o Zezé Rosa, em São Sebastião do Paraíso tornou-se um dos mais rumorosos casos policiais da região. Ele foi violentado e depois de mata-lo, o autor conhecido como Sidnei, considerado psicopata (doente mental), usou um pedaço de madeira que foi batido contra o peito do garoto. Movidas pela fé, de lá para cá, tem sido comum pessoas com problemas lhe endereçarem pedidos, buscando “algum tipo de graça”. Há quem afirme ter alcançado. Sua mãe, a aposentada Francisca Lina Domiciano, Dona Chiquita, hoje com 71 anos, lembra-se de vários casos atribuídos a seu filho. Entretanto, um dos que mais chamam a atenção está ligado a ela, conforme estamos mostrando em detalhes nesta edição: Três anos depois de assassinado, numa foto tirada ao lado da capela em sua homenagem, no cemitério de São Sebastião do Paraíso, Zezé aparece ao lado de Dona Chiquita. “Em vida, ele não tinha deixado nenhuma fotografia”, afirma sua irmã, Maria de Lourdes Silva Santos, 53.

No início dos anos 60, conforme explica Dona Chiquita, ela foi procurada e lhe pediram para abrir a capelinha, pois um grupo de pessoas de Franca pretendia visitar o local, “para cumprir um voto”. “Quando cheguei fiquei surpresa. Eles vieram em mais ou menos dois ônibus”, recorda.

Os visitantes se identificaram como sendo integrantes do “Centro Espírita “Eurípedes Barsanulfo”, na época dirigido por uma senhora chamada “Dona Nega”. A partir daquele momento várias surpresas se sucederam para a família de Zezé. A primeira foi quando lhe disseram que ele havia se manifestado através de um médium e contado sua história. “Viemos aqui visitar o túmulo de José Francisco da Silva (esse era o seu nome de batismo). Ele nos disse que não deixou nenhuma fotografia em vida como lembrança, e isso causava muito aborrecimento e choro à sua mãe. Se viéssemos aqui e fosse tirada uma fotografia dela, ao lado da capela, ele sairia junto”, explicou um dos francanos.

O pedido de Zezé, segundo sua irmã, Lourdes, teria sido feito a um grupo de pessoas espíritas de outra cidade, porque “se fossem de Paraíso, sua cidade, alguém poderia duvidar da realidade”. Depois de algum tempo Dona Chiquita não conteve sua alegria quando recebeu a foto que guarda com o maior carinho. Realmente Zezé aparece nitidamente a seu lado.

“Não tenho dúvida. É mesmo meu irmão”, garante Lourdes, com a certeza de quem o nunca o esqueceu. Para reforçar seu ponto de vista, e afastar a hipótese de alguém pensar ter sido montagem feita, ela e Dona Chiquita explicam que além da fotografia de Zezé, já no caixão, ele não havia deixado outra. Falam mais, ressaltando alguns detalhes, por exemplo, o “topete” de seu cabelo, que ele costumava passar os dedos, toda vez que lhe aconselhavam a usar outro tipo de corte. O cinto, presente dado por seu pai, como de costume aparece sobrando um pedaço, fora da presilha.

A roupa branca, com a qual estava vestido, conforme explicam mãe e filha, foi doada por uma senhora de nome “Dona Benha”, esposa do Senhor Edmur Leite. Lourdes recorda que “Zezé “não gostava mais de calças curtas e sua mãe lembrou-se disso. Daí, outro vizinho chamado Tácito Buzon, providenciou a compra de “um terno azul marinho com o qual foi enterrado, vestido por cima da roupa branca”.

Curiosamente, na foto ao lado de Dona Chiquita, Zezé aparece de roupa branca e calça curta, podendo ser notado em seu rosto, marcas do machucado de onde saiu bastante sangue, depois de morto, lembra Lourdes.

Católica fervorosa, Dona Chiquita quis saber a opinião da Igreja a respeito. A foto esteve por algum tempo sendo observada por padres e estudantes no Seminário Diocesano de Guaxupé, mas lhe foi devolvida sem maiores explicações. “É uma pena que tenha sido através de um Centro Espírita”, teria acrescentado um religioso. Um que também tomou conhecimento e afirmou acreditar foi o Monsenhor Mancini”, salientou Dona Chiquita.

(Matéria publicada pelo Jornal do Sudoeste em 23 de janeiro de 1996)

 

Família garante: restos morais não estão na capela

(Faz parte da matéria publicada em 23de janeiro de 1996)

Nestes quase 40 anos depois da morte de Zezé, sua mãe diz que a forma de contato com ele são sonhos, muito claros por sinal, quase sempre quando “ela está passando por uma madorna”, o que significa não estar num sono profundo. Dona Chiquita explica: “Tenho notícias boas quando vejo ele alegre nos sonhos e fico preocupada ao perceber um ar triste no Zezé, pois receberei notícias desagradáveis”.

Foi numa dessas “madornas de Dona Chiquita que ela viu algumas pessoas (menciono nomes, mas por questão ética não vamos citá-los) retirando os restos mortais de Zezé de sua sepultura. Segundo informou, a capelinha ainda não estava concluída e conforme havia sido combinado, seria no final de semana que seria trasladado, mas ainda em seu sonho foi alertada: “Mãe, estão me tirando do meu lugar”. Quando acordei ainda vi o quarto todo verdinho. Saltei da cama e disse ao meu marido: Joaquim, eles estão arrancando o Zezé, ele apareceu para mim e falou. Eu também estava sonhando com ele”, respondeu seu esposo.

Na manhã seguinte, uma terça-feira, Dona Chiquita encontrou-se com o construtor da capelinha lhe questionando: “Vocês falaram que iam tirar o menino de lá na sexta-feira, e tiraram hoje”. Não senhora, a chave está aqui comigo, respondeu ele. Indo ao local onde estava enterrado, Dona Chiquita confirmou. A terra estava remexida e a sepultura vazia. Isto reforça a ideia de que os restos mortais nunca chegaram a ser transferidos para a capela, mesmo porque, ainda não havia compartimento para esta finalidade, explica Lourdes.

Outros sonhos foram marcantes. Dona Chiquita reclamava vez por outra. Seu marido gostava de bebidas alcoólicas, e isto lhe trazia aborrecimentos. Um dia, depois de discutir com ele, disse: “Meu filho consegue graças para tanta gente, por que não ajuda o Joaquim deixar da bebida?” Quando foi deitar-se, viu Zezé sentado ao lado de sua cama e ele tocou no assunto. “Tenha paciência, ele vai parar de beber”. Uma semana depois, a previsão se confirmava. Seu Joaquim realmente abandonou o vício.

Também por um conselho de Zezé, noutra “madorna”, Dona Chiquita deixou de ter raiva de Sidnei, o assassino de seu filho. “Eu estou bem, e tinha que passar pelo acontecido. Se não fosse ele (Sidinei), seria outra pessoa. Não tenha raiva dele, pois é um infeliz”, pediu.

“Depois disto eu o perdoei”, afirma Dona Chiquita. Quanto à foto, o sonho foi para dizer que não duvidasse, e foi uma forma de deixar para ela uma lembrança dele. (JS – 23 de janeiro de 1996)