A reunião promovida pela Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e de Serviços de São Sebastião do Paraíso na manhã de quinta (19/1) para tratar sobre a segurança pública no município revelou dados alarmantes. Para um crescente número de ocorrências, principalmente crimes contra o patrimônio (furtos, roubos, assaltos), o que há é uma Polícia Civil sucateada, sem efetivo e viaturas. O presidente da Acissp, Aílton Rocha de Sillos, fez duras cobranças à PM e à Polícia Civil, e disse que não se surpreendeu com os dados e as situações apontadas tanto pela PC, quando pela PM.
“O nosso efetivo hoje chega à beira da falência. Nós não conseguimos controlar uma microrregião com esse efetivo. Temos uma delegacia regional com três viaturas, duas delas em péssimas condições. O Estado não ajuda”. Essa foi a afirmação do delegado de trânsito da 4ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Vinícius Zamó, que na quinta-feira (19/1), em reunião realizada pela Associação Comercial Industrial Agropecuária e de Serviços de São Sebastião do Paraíso (Acissp) com o fim de discutir a situação da segurança pública no município, surpreendeu cerca de 70 presentes, entre eles empresários e representantes de diversos setores da sociedade. A fala foi uma reafirmação da situação hoje vivida pela delegacia que, segundo os próprios delegados que estiveram presentes, é precária.
De acordo com o delegado regional, Fernando Augusto Béttio, hoje o município conta com uma regional com estrutura muito reduzida, péssimas viaturas e uma demanda muito grande para as condições de trabalho da PC. Ele pontuou também que a criminalidade é crescente e a realidade de trabalho é ruim e que a situação poderá se agravar durante este ano. “Com a reforma da previdência, Paraíso irá perder cinco policiais em 2017; se hoje a situação é precária, no ano de 2017 irá piorar. Não há previsão para concurso público. Estamos trabalhando em condições ruins para a demanda que há no município. A dificuldade é muito grande”, destacou o delegado.
Os números apresentados pelo delegado Tiago Bordini, responsável pela delegacia de repressão ao tráfico, organização criminosa e crimes contra o patrimônio, foram igualmente preocupantes. Segundo o delegado, atualmente ele está trabalhando com 100 inquéritos envolvendo roubo, sendo necessário realizar um trabalho de filtragem para conseguir dar andamento às investigações, mas falta escrivão e investigadores, o que afeta a continuidades dos trabalhos. A regional atende atualmente, além de Paraíso, outros quatro municípios, entre eles Arceburgo, Monte Santo de Minas, Itamogi e São Tomás de Aquino, com um efetivo de 16 investigadores, cinco escrivães e quatro delegados.
“Nós mostramos a realidade que a Polícia Civil se encontra atualmente em Paraíso e da falta de investimento; quanto mais investimento tivermos na PC, melhor será o nosso trabalho assim como a prestação do serviço público. A responsabilidade é do Estado, é ele que nos fornece mão de obra e viatura”, comenta Béttio. O delegado também ressaltou o apoio que tem do município por meio de convênio com a prefeitura, que sede à delegacia funcionários e combustível. “Há também a Associação Comunitária de Segurança Pública (Acasp), que nos ajuda mensalmente para pequenos reparos na delegacia. É importante envolver a sociedade para que ela saiba qual é a realidade da Polícia Civil, da real situação, para encontrar mecanismos para nos ajudar.Com a atual crise que o pais vive, acredito que não haverá investimentos na Polícia Civil a curto prazo, até que o país saia dessa situação e só assim passe a ser investido mais em segurança pública”, completa.
POLÍCIA MILITAR
O comandante da 20ª Companhia de Polícia Militar Independente em São Sebastião do Paraíso, tenente-coronel Gilson de Oliveira Wenceslau, também esteve presente revelando números que evidenciaram um crescimento expressivo na criminalidade em Paraíso e região. O comandante destacou que uma das maiores preocupações nos anos de 2014 e 2015 foi com relação aos crimes de homicídio e que em 2016 os roubos foi uma das maiores preocupações, somente neste período tendo registrado 114 casos envolvendo assalto à mão armada.
Tenente-coronel Gilson voltou a afirmar que, apesar dos índices, o efetivo que atualmente compõe a 20ª Cia PM, é o suficiente para atender a demanda e que compensa a necessidade de um número maior com a participação e apoio da comunidade. Outro dado levantado na reunião foi com relação aos crimes envolvendo menores: somente em 2016 houve pelo menos 120 casos registrados. O comandante voltou a citar os programas sociais desenvolvidos pela PM, entre eles o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) e o Garotos para a Paz, que já formou 90 alunos em três escolas em situação de risco no município.
“Nesse encontro mostramos, além do trabalho que é desempenhado pela Polícia Militar, que há também a oportunidade para se melhorar dentro de cada instituição e nível de governo, seja municipal, estadual e federal; o que temos que ter é a maturidade de sempre pautar as cobranças, mas que elas possam acontecer com a devida oportunidade. Nós temos nos esforçado para dar a resposta que a população precisa e trabalhando, como qualquer outra instituição, com uma lista de prioridades. Também priorizamos o trabalho preventivo e é nisto que temos apostado, buscando o envolvimento da sociedade e da comunidade para se tornar um ambiente cada vez mais difícil para a ação dos criminosos”, completou o comandante.
ACISSP
O presidente da Acissp, Aílton Rocha de Sillos, fez duras cobranças à PM e à Polícia Civil, e disse que não se surpreendeu com os dados e as situações apontadas tanto pela PC, quando pela PM. “Nós sabemos de tudo isto, mas de forma isolada. O que a Polícia Civil, Militar e os empresários colocaram já é de conhecimento de todos, mas de forma pulverizada. Cabe a Acissp agora juntar isso e ver o que podemos tirar de proveito. Nós podemos hoje trabalhar em comunidade, olhando a situação da segurança pública e da saúde no município como um todo. Nós já temos ideias, esperamos que em breve possamos dar retorno aos empresários, porque sem esse retorno eles vão embora. Se nos unirmos a chance de atingir nosso objetivo é maior”, completou.
Houve também manifestação do empresariado, entre eles José Márcio Colombaroli, que disse que o empresariado tem feito sua parte, gerando empregos, riqueza e pagando impostos. Ele também destacou o melhoramento da segurança pública em Guardinha e se disse preocupado com a situação da segurança pública como um todo e, principalmente, com o que foi exposto pelos órgãos de segurança pública.
“O poder público é que é o responsável pela saúde, esporte, educação e segurança, senão o empresariado ficará a todo o momento sendo solicitado para executar obras sociais, nós já o fazemos. Mas temos que ter paciência de ouvir essas situações vivenciadas tanto pelo Secretário Municipal de Segurança Pública, quando pela Policia Militar e Civil, esses profissionais estão sendo usurpados. Eu sou solidário a esse sofrimento, porque eles querem cumprir com a sua obrigação, e estão cumprindo, mas o Poder Público não está”, completa o empresário.
CÂMARA MUNICIPAL
O vereador presidente da Câmara Municipal, Marcelo Moraes (PSDB), disse na reunião que tem faltado uma organização da PM em atender as demandas no município, dizendo que falta “capacidade técnica e operacional em combater o crime”, mas que a tanto a PM quando a PC, apesar de sucateada, têm feito o seu trabalho. O vereador lembrou ainda as dificuldades no processo da educação dos jovens e o quanto isso tem contribuído para o crescimento da criminalidade e que a situação tende a piorar, mas enfatizou ações sociais que podem ser realizadas para o combate ao crime, entre elas ações envolvendo o fomento do esporte.
“Iremos cobrar efetivamente a quem deve ser cobrado. Não adianta dizer que o poder público tem sido cobrado, mas há retorno. Iremos realizar essas cobranças através dos deputados que tiveram votos aqui. O nosso desafio nessa nova Câmara é que isso deixe de ser verbalizado e se tornem ações concretas. Houve muitas audiências sobre o tema, mas nunca houve resposta ao cidadão. Desse modo a PM, PC, município e a comunidade têm agindo como pode e o poder público deixando de cumprir com suas responsabilidades. O nosso papel, enquanto Câmara, é justamente fazer essas cobranças”, disse.
O secretário municipal de Segurança Pública, Trânsito, Transporte e Defesa Civil, Miguel Félix, teve o trabalho desempenhado pela Guarda Municipal muito elogiado e destacou que há a preocupação do município em minimizar a sensação de insegurança da população. Ele foi muito apontado como privilegiado enquanto ao efetivo da GM, cerca de 115 profissionais, e destacou a preocupação do município em auxiliar os demais órgãos de segurança pública.
“Além da dificuldade que a polícia tem, há também a falta de incentivo e valorização do profissional. Hoje, os órgãos de segurança pública são muito cobrados, porém, às vezes deixam a desejar o respaldo para uma atuação efetiva. Hoje, para a realidade de São Sebastião do Paraíso, nós somos privilegiados, nós temos uma integração entre PM, PC e Guarda Municipal, mas há demandas que às vezes não nos compete estar atuando. No entanto, com o respaldo de uma lei federal que vai proporcionar aos GMs uma autonomia maior em sua atuação, nós estamos adequando nosso estatuto para que tão logo possamos atuar em conjunto com a Polícia Militar e Polícia Civil, mas até que isso aconteça estamos trabalhando preventivamente”, completou.
SUPERLOTAÇÃO NO PRESÍDIO
Outro ponto destacado na assembleia foi com relação a superlotação no presídio de São Sebastião do Paraíso, o tema foi abordado em matéria da edição 2068 do Jornal do Sudoeste. A defensora pública e coordenadora da Defensoria Pública em Paraíso, Jussara de Oliveira Lauria Torres, falou um pouco da situação vivenciada hoje pelo presídio, destacando a superlotação, hoje em torno de 330 presos para uma capacidade de 128. Jussara enfatizou que o único modo de reduzir esse número seria “acabando com os bandidos” por meio da educação.
“Apesar de termos uma unidade superlotada, o presídio tem feito tudo o que é possível para atender esses detentos. Eles têm acesso a alfabetização e estudos de informáticas, tudo isso feito com trabalho voluntário e com ajuda da sociedade. O presidio é organizado, dentro das suas possibilidades, dos seus limites”, completou.