ELE POR ELE

Fábio Grilo: Um profissional forjado das dificuldades para fazer o bem ao próximo

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 28-08-2017 09:08 | 3945
Fábio Grilo será empossado presidente do Conselho Municipal Antidrogas
Fábio Grilo será empossado presidente do Conselho Municipal Antidrogas Foto: João Oliveira/Jornal do Sudoeste

O advogado Fábio Marcos Grilo, de 44 anos, é um especialista e estudioso do comportamento humano. Por meio da sua formação em Direito, estudou Programação Neurolinguística (PNL) e hoje, entre suas muitas atuações, trabalha como consultor comportamental, life coach, palestrante e terapeuta Holístico Sistêmico. O Fábio de hoje foi forjado de um período doloroso que ele recorda com sendo também uma das experiências mais marcantes em sua vida. Por meio da dor, ele aprendeu a valorizar a si mesmo e a fazer disto um combustível para ajudar ao próximo, um valor que ele trouxe de casa. Filho do bancário José Saturnino Grilo e da professora Joana Dark Marcos Grilo, e irmão de Flávio, o filho mais novo, e da Carmem Lucia, a primogênita, Fábio é casado com Andiara de Andrade Fernandes Grilo e pai da Maria Vitória Fernandes Grilo, de nove anos e da Pietra Fernandes Grilo, de cinco. 



 



É através das filhas que ele diz que reconhece suas qualidades: Maria Vitória a parte espiritual, por ser uma pessoa centrada e amorosa e a Pietra, que é o centro da alegria em sua casa. Hoje ele mantém o Instituto Renovaction e foi recentemente eleito presidente do Conselho Municipal de Antidrogas (Comad) de São Sebastião do Paraíso. É com tranquilidade e com muita experiência de vida que ele conta um pouco da sua história.



 



Jornal do Sudoeste: Você é natural de onde?
Fábio Marcos Grilo: Eu e meu irmão nascemos em Cássia e minha irmã mais velha em Machado, isso por conta da profissão do meu pai, ele era bancário e viajávamos muito. Meu nome era para ser Emerson, por causa do corredor de Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, meu pai era muito fã, ele chegou a ver o piloto correr quando morou em São Paulo com a minha mãe, por um curto período de tempo. Então eles vieram para Cássia, onde nasci e morei até os meus cinco anos. Após, ele foi transferido para Caxambu, que fica no famoso Circuito das Águas. Passei boa parte da minha infância ali, talvez o melhor momento dessa fase. Caxambu é uma cidade muito tranquila, muito calma e muito cultural. Eu também vim de uma família de artistas, principalmente a família do meu pai onde praticamente todos são músicos, e também vivi no meio de boa música porque meu pai gostava de boemia, MPB e muitos clássicos da música brasileira. Em Caxambu também tinha muitos festivais de cinema e também estávamos sempre em meio a eventos culturais, criados com muita música, eventos na área social e teatro.



 



Jornal do Sudoeste: O que mais te marcou durante essa fase em Caxambu?
F. M.G.: Uma coisa que marcou minha infância e ajudou a formar o meu caráter e a minha identidade foi quando a Fundação Nacional e Bem-Estar do Menor (Fenabem), passou por um problema e essas crianças precisaram ser transferidas para a rede pública de ensino. Era um projeto que acolhia muitas crianças e dava a elas toda uma formação. Devido a esse problema, lá as famílias passaram a adotar durante os finais de semana uma criança, e uma dessas acabou se tornando um irmão de alma para mim à época, chamava Eliseu, mas depois dessa reestruturação e reinserção dele na sociedade, nós perdemos o contato. Mas o aprendizado ficou muito registrado, principalmente porque a nossa relação com as pessoas em Caxambu era de igualdade, sem importar essa questão de classe social.



 



Jornal do Sudoeste: Como você chegou a Paraíso?
F. M.G.: Meu pai foi transferido para cá. Era uma cidade próxima aos meus avós maternos e paternos e eu tinha 10 anos na época. Aqui estou até hoje, apesar de ter morado fora, mas por um período curto devido a questões de trabalho e estudo. Minha juventude foi muito boa, tive uma fase muito alegre e muito feliz. Quando nos mudamos, fomos morar em frente ao Campão, onde hoje há a Arena João Mambrini e onde se instalavam os circos que vinham à cidade. Eu tinha o desejo de ir embora com o circo porque sempre tive a sensação de liberdade e de viver sem estar preso a coisas materiais. Uma das experiências que também me marcaram nesta fase, entre os 13 e 14 anos, foi uma tempestade que teve e colocou um circo que estava armado ao chão. Em casa, eu aprendi que tínhamos que amar o próximo como a mim mesmo e resolvi acolher esses artistas porque eles não tinham lugar para tomar banho, para ficar, não tinha nada naquele momento. Eu levei uma bronca por isto, mas amor era uma ação e da mesma forma que eu aprendi a amar eu desaprendi.



 



Jornal do Sudoeste: Por que diz isso?
F. M.G.: Foi uma fase de ego de descentramento da minha vida, de experiências dolorosas, de me perder por um tempo. Durante uns oito anos eu saí da minha verdadeira existência e fui experimentar aquilo que o mundo diz que são grandes perdas, que você não dá ouvidos aos seus pais e amigo e fiz escolas ruins. Nessas escolhas tive grandes perdas que me ensinaram a aprender novamente, tive uma nova chance. Existe uma música que me remete muito a esse passado de reconstrução do meu eu, que chama “Noites Traiçoeiras” e que fala de um dia negro, mas que em algum momento terá direito a um sol brilhante e foi o que aconteceu. Uma fase de muita aprendizagem, mas através da dor. Fiz outra boa escolha na minha vida que foi a de me resgatar, onde pude dar continuidade aos estudos.



 



Jornal do Sudoeste: E como foi esse processo?
F.M.G.:  Eu me formei em Direito, em 2001, na Unifenas. Fui orador das duas turmas que se unificaram na formatura. Foi uma honra porque eles tinham visto o meu processo de mudança. No ano seguinte eu consegui passar na OAB e após comecei a estudar Programação Neurolinguística (PNL), e por já trabalhar com área social, com dependência química e alcoolismo, os juízes me pediam sempre para fazer uma abordagem nesse sentido. Eu fiz uma formação de abordagem primeiramente na Pastoral da Sobriedade, depois formação com o Eduardo Carina, que fez um seminário, inicialmente proposto pela Fundação Gedor Silveira, onde fiz um trabalho de TCC de prevenção de dependência química, foi uma especialização e início de um trabalho mais focado nisso. Os juízes sempre me chamavam para representá-los em congressos que dizia a respeito ao ser humano e fui desenvolvendo essa habilidade de cuidar do ser humano.



 



Jornal do Sudoeste: E como foi essa especialização?
F.M.G.: Fiz uma pós-graduação em Direito Público, onde abordei o tema APAC, pela Universidade Milton Paiva, em Belo Horizonte, junto com a Associação Nacional de Magistrados, e a partir daí fui me desenvolvendo. Como não via muitas habilidades na área de cuidar de pessoas, eu descobri uma muito bacana, a Programação Neurolinguística, que é uma ciência que ajudava a entender o ser humano, como ele funcionava. Existem muitos modelos para conhecer o ser humano, muitos padrões, e eu escolhi esse, através de um curso que escolhi fazer chamado “Três dias de Carinho”, em 2004. Fui beneficiado com uma bolsa, onde conheci o PNL, e após o coaching, o Life Coaching Sistêmico, depois a Terapia da Linha do Tempo (TLT), que são minhas ferramentas de trabalho.



 



Jornal do Sudoeste: O Direito deu origem a tudo isso. Por que essa profissão?
F.M.G.: O Direito foi uma brincadeira no começo. Eu tinha vizinhos que vieram da Bahia a Paraíso para estudar Direito. Eles ajudaram a cuidar do meu pai, que era acamado. E eles, sempre muito alegres em tudo o que faziam, me ajudaram e a minha mãe, porque era difícil olhar meu pai naquela época na situação que estava; e vinham com uma alegria que transformavam tudo e me chamaram para estudar Direito com eles. Eu gostava, é uma profissão muito rica no campo da sociologia e filosofia e eu tive uma orientadora maravilhosa, a doutora Silvana Marques, e vários professores, com direcionamentos muito bons através da doutora Tânia Tonin, que também me ajudou a entender um pouco o ser humano, e também um dos melhores juízes que eu tive a oportunidade de conhecer, o doutor Manuel dos Reis de Morais, que eu tive a oportunidade de trabalhar como estagiário e depois como oficial no Tribunal de Justiça de São Sebastião do Paraíso.



 



Jornal do Sudoeste: O que é o coaching?
F.M.G.: O coaching vem do inglês que significa técnico. É um conjunto de perguntas poderosas onde o coach, que vai aplicar o processo, vai conduzir a pessoa daquele estado em que ela se encontra até um estado desejado. O processo do coaching é um processo de futuro. Para se alinhar a isso o presente precisa estar bem, mas muitas vezes as pessoas vivem no passado, com emoções que as prendem. Então nós utilizamos um conjunto de ferramentas para liberar esse passado e deixar essa pessoa ir em direção ao futuro. São ferramentas como a PNL, a terapia da linha do tempo, também conhecida como cura das emoções negativas.



 



Jornal do Sudoeste: Como você chegou ao Conselho Municipal Antidrogas?
F.M.G.: Foi por meio de um trabalho que eu já realizava. Alguns anos atrás eu colaborei para trazer um grupo de recuperação para Paraíso, o Narcóticos Anônimos, e minha mãe pegou um trabalho que estava parado e reestruturou, o chamado Alanon, que é o Grupo de Apoio a Familiares de Alcoólicos. Em 2011 eu fui convidado a assumir o Comad, mas passávamos por um momento político muito conturbado, então o Conselho praticamente não existiu, com exceção de um evento que nós produzimos chamado “Aprendendo a acreditar”, onde convidamos todos os grupos de recuperação e instituições religiosas para fazer parte. Foi uma conferência maravilhosa, onde houve muito aprendizado. Na época precisaríamos de um apoio muito grande da prefeitura e ainda precisamos. 



 



Jornal do Sudoeste: Com a reativação do Comad, você retorna como presidente...
F.M.G.: Inicialmente, retornei para ser membro e representar a OAB, a convite do presidente Antônio Carlos Pelúcio. A Dilma, a vice-prefeita, um grande ser humano e uma pessoa muito boa, é idealizadora por trás da retomada desse Conselho e está nos apoiando para uma conferência que estamos preparando, além do prefeito Walker, que eu também acredito  na nobreza das suas ações. Irei procurar também a Câmara Municipal para pedir apoio ao projeto, que está começando novamente e estamos trabalhando a todo vapor. Iremos promover uma conferência, no próximo dia 27 de setembro e já temos alguns convidados que irão participar, entre eles o José Florentino, que foi vice e presidente do Comad em São Paulo, lá conhecido como Comud, por 10 anos, e também entrei em contato com um dono de uma clinica terapêutica para mostrar o modelo de tratamento que ele aplica e também um profissional especialista em PNL, o José Osvaldo de Oliveira, do Instituto Lapidar, além de outros.



 



Jornal do Sudoeste: Qual o que você pontua como um desafio?
F.M.G.: A maioria das pessoas erra em acreditar que a dependência química começa no uso, mas não, ela termina no uso. Quando a pessoa experimenta essa droga ou o álcool, ela está terminando o começo da doença, são etapas. Ela começa a ser desenvolvida por meio de comportamentos entre outros fatores: social, familiar ou hereditário. A pessoa começa a desenvolver um comportamento que leva a outro e ela vai saindo de si, seja por estar desconfortável com a própria vida entre outras questões que a levam a um vazio, e esse é o espaço necessário para a droga agir. Estatísticas apontam que em países considerados terceiro mundo, a criança começa aos oito anos o uso do tabaco, nove álcool e 10 maconha;  há dez anos essa estatística era nove, dez e onze anos e esperamos que pare por aí. Um fator agravante são os próprios pais, que usam tabaco e álcool e depois querem que os profissionais solucionem, mas os pais são exemplos daquilo que vai servir de base para a construção da criança, muitas vezes sem saber.



 



Jornal do Sudoeste: Quais suas expectativas para futuro?
F.M.G.: A minha expectativa bem pessoal é poder continuar colaborando com a nossa cidade e outras, que não fique aqui e consigamos montar um modelo que sirva para outras pessoas. Esse modelo nós podemos tirar daqui, com a associação de outros modelos de trabalho, existem coisas fantásticas sendo feitas e podemos também fazer algo fantástico aqui também. Criando-se um modelo aqui, que já está sendo trabalhado por parte da Ação Social por meio do Marcelo São Julião, a vice-prefeita Dilma e outras pessoas que estão começando a alinhar as ideias. Passaremos a ter uma reunião por mês com o Comad, para discutir nossas diferenças de ideias com o objetivo de fazer o bem para o próximo. Nós precisamos ter o caminho aberto para isso, não queremos que a política seja um problema, queremos que seja a solução. O Papa Francisco disse que a política é uma das melhores ferramentas de caridade e isso me fez repensar o conceito de política. 



 



Jornal do Sudoeste: E qual o balanço que você faz desses 44 anos?
F.M.G.: Eu me considero um ser iluminado. Ouvi uma frase uma vez onde uma moça disse “obrigado a Deus por ter me poupado”; eu agradeço a Deus por ter me poupado como poupou essa moça. Eu me vejo como uma pessoa abençoada que, apesar de todas as dificuldades, tenho um lado que luta para que isso continue acontecendo dentro de mim. A maior força que eu tenho na minha vida hoje, que eu considero, é primeiramente Deus, minha família, minha esposa, minhas filhas, minha mãe, e pessoas que eu nunca deixaria de ter ao meu lado, que são meus amigos. Recentemente encontrei uma amiga, a Roseli, do Maçã Verde, que me disse que reza muito por mim, para que eu possa continuar levando essa mensagem de esperança as pessoas. E é gostoso ouvir isso e ajuda a gente a renovar as forças e ver que não estamos sozinhos. Eu acredito que sozinho eu estou muito mal acompanhado e meus amigos nunca me deixam só.