O empresário William Martoni carrega no nome 60 anos de tradição de uma empresa que nasceu juntamente com ele. William é o filho caçula do empreendedor Benedito Martoni, já falecido, e da dona Cristina Ribeiro Martoni, de 86 anos; é irmão de Maderlene, a mais velha, Washington Martoni, que já faleceu há 32 anos, vítima de um acidente, e do Wilson, mais conhecido como Jacaré. Ele é casado com a Ana Rose Gonçalves Campos Martoni, há 39 anos. Dessa relação nasceram os seus maiores tesouros, a Priscila, de 37 anos, William Junior, de 32 e Thiago, de 30, que deram a ele três netos, o Luca, a Nicole, e o Lorenzo. William Martoni acompanhou o desenvolvimento de São Sebastião do Paraíso e viu o pai ajudar em boa parte dele, um prestador de serviços que se tornou um dos nomes mais reconhecidos no município. À frente dos negócios, William administra a empresa que é pioneira na rede de materiais para construção no estado de Minas Gerias, a rede Contruai, considerada uma referência para o Sebrae e a 7ª maior empresa do Estado.
Jornal do Sudoeste: Como foi a sua infância em Paraíso?
Wiliam Martoni: Minha infância foi boa, na época tudo era mais difícil, não tinha essa liberdade que hoje se tem com os pais. Tínhamos o período para brincar quando éramos pequenos, mas além de brincar também tínhamos que trabalhar. De modo geral foi muito gostoso, e o pai e mãe punham limites. Na época não tinha sequestro, esse carros correndo como é hoje e por isso éramos mais livres. Nós saíamos para brincando na rua e me recordo que onde hoje é a Delfim Moreira, era um “areião”, nós jogávamos bola, bete, matança, enfim, a nossa brincadeira era na rua e na casa dos colegas. Nós éramos bem aventureiros, não tínhamos dinheiro para comprar brinquedos, então tínhamos que improvisar. Mais tarde meu pai teve a oportunidade de poder nos dar uma bicicleta e saíamos andando pela cidade toda.
J.S.: Onde você estudou?
W.M.: Estudei no Noraldino Lima e o segundo grau no Paraisense. Como estudante eu acho que dei muito trabalho para a minha mãe e para as professoras (risos). Eu não era muito de estudar, mas hoje é algo que me arrependo e que a gente sente que faz muita falta. Mas isso não foi porque meu pai não quis me dar o estudo, ele queria que eu desse continuidade, mas disse que se eu não quisesse, que teria que trabalhar. Ele deu oportunidade e liberdade de escolha para todos nós. Lá em casa quem chegou a fazer o ensino superior foram minha irmã e o Washington, eu e o Wilson preferimos atuar no ramo comercial.
J.S.: A empresa tem um nome muito forte e reconhecido. Como começou?
W.M.: A Martoni começou com o nome de Benedito Martoni, tem a minha idade, é de 1957. Inicialmente, meu pai era um prestador de serviços, fazia encanamentos, calhas, alças em caixa d’água, tamborzinho de água quente e depois disso começou a atuar na área de serralheria. Aqui na região não existia essa profissão e não tinha essa indústria. Ele tinha cerca de 20 a 30 funcionários naquela época, em 1965, era uma bela empresa. Ele fazia essa área de Passos e ia até Alfenas. Há pouco tempo eu fui a uma obra de um cliente e amigo nosso, em Alfenas, e vi um serviço que meu pai tinha feito, fiquei muito orgulho porque o trabalho ainda estava perfeito. Ele foi um homem muito trabalhador e começou nessa área de construção civil e depois, como ele já trabalhava com encanamento, da serralheria ele começou nessa área de materiais para construção.
J.S.: Era empreendedor...
W.M.: Sim, ele era. Houve uma época em que ele teve a oportunidade de arrematar o prédio onde foi a antiga agência da Ford, na rua Dr. Placidino Brigagão, que tinha ido a leilão, e lá instalou a loja, a Benedito Martoni, que depois passou a se chamar Martoni Filhos e Cia Ltda. A partir daí o negócio só foi crescendo. Nesse período ele também adquiriu uma fazenda e foi se afastar um pouco dessa área de comércio. Foi uma fase em que minha irmã se casou e foi morar em Ribeirão Preto, o Washington foi estudar em Ouro Preto e depois quando voltou para cá e montou uma construtora e o Wilson, que já era mais arrojado, foi para São Paulo com uma mão na frente e outra atrás e se saiu muito bem. Mas eu fiquei aqui junto com o meu pai na Loja. Até então eu era um pouco mais novo, e passado uns tempos, quando nós perdemos nosso irmão, ele já não queria mais mexer com a fazenda, está sentido o cansaço; foi uma pessoa que a única coisa que fez na vida foi trabalhar e temos muito orgulho disso. Ele foi um exemplo.
J.S.: E os negócios só foram crescendo a partir daí?
W.M.: Sim, depois disso houve a aquisição e ampliação do atual espaço e também construímos o Hotel BM Palace, porque me lembro que uma vez os cantores Zezé de Camargo e Luciano vieram fazer uma apresentação em Paraíso e foram dormir em Passos porque aqui não tinha um lugar para eles ficar; isso me deixou com muita vergonha e foi quando começaram as obras. Também, há onze anos nós sentimos a necessidade de fortalecer a Loja devido as grandes redes como C&C e Telhanorte, que estavam no mercado e com o poder de compra que eles tinham, sufocavam-nos. Eu tinha um relacionamento muito bom com os representantes e na época comentei com o Dimas Stefani que meu sonho era se unir a algumas lojas de materiais e montar uma rede. Por coincidência fui a Passos, conversei com o Edson do Depósito de Madeiras Vieira, ele gostou da ideia e nós saímos atrás de pessoas para se unir. Em Minas Gerias foi a Construai foi a primeira rede de materiais de construção e hoje é considerada referência pelo Sebrae e é a 7ª maior empresa do Estado.
J.S.: Qual é o maior desafio em gerir um negócio?
W.M.: Acredito que lidar com pessoas. Ao contrário de empresas digitais, nós lidamos com pessoas o tempo todo. São os nossos clientes internos, os funcionário, e o cliente externo, o público. No caso do cliente interno, o maior desafio são as leis trabalhistas que nos deixam muito amarrados e ainda prejudica o funcionário que não recebe tudo o que tem que receber porque o governo ainda pega uma parte desse dinheiro. Nós cumprimos nossas obrigações e o governo se esquece de cumprir as dele. Nossos clientes internos têm que estar constantemente se atualizando, porque a rapidez das mudanças são muito grandes, e o cliente externo hoje tem muito mais informação que antigamente, e se ele chega aqui e é atendido por um funcionário que não está preparado há um choque. Então eu vejo que hoje o maior problema em administrar uma empresa é lidar com pessoas.
J.S.: Você viu boa parte do desenvolvimento de Paraíso, o que mais te marcou?
W.M.: Nós tivemos duas fases, no meu entender. Se analisarmos o desenvolvimento tecnológico de quarenta anos pra cá, nós pensávamos que seria lento, mas foi muito rápido. Outra fase que me marcou muito foi a gestão do ex-prefeito Waldir Marcolini. Podemos falar de Paraíso antes e depois dele. Antes do Waldir, Paraíso não tinha nada e quando ele veio, muito arrojado, um cidadão que morou no Rio de Janeiro e tinha uma experiência de vida muito grande, tudo o que ele via lá fora, ele queria fazer para Paraíso. Era uma pessoa muito afoita. Depois um período que achei muito bacana foi a gestão do Mauro Zanin, ele trabalhou na parte organizacional e deu um aspecto de desenvolvimento a nossa cidade. Valorizou-se muito a educação nesse período e isso é importante. As nossas escolas municipais em nível de competição se nivelam com ensinos particulares e eu tenho muito orgulho de falar do Noraldino Lima, que é uma escola com ensino muito bom e eu tenho muito carinho por ela.
J.S.: Na sua visão, o que ainda falta para Paraíso se desenvolver mais?
W.M.: Para isso, é importante o desenvolvimento tecnológico, área de parques industriais apropriados, na área da educação, faculdades. Mas na realidade, acho que temos que valorizar o que há aqui, e há muito coisa boa. Devemos procurar acreditar mais em nossa cidade, o povo paraisense precisa acreditar mais em Paraíso, não tem que sair para comprar fora entre outras coisas, tem que procurar se informar mais sobre o que há em Paraíso. Falhas, toda cidade tem, mas procurar fazer uma critica construtiva. Isso é muito importante. Nós temos um Hospital do Coração, há coisa melhor que isso para a nossa região? É um exemplo. Umas das coisas que acho que precisa também é integrar a Santa Casa juntamente com a Faculdade, nós temos um escola de enfermagem e a faculdade é muito boa, é excelente. Nós precisamos aproveitar o que temos. Além disso, para melhorar, acredito que precisamos dar mais oportunidades ao jovem para estar estudando aqui, com um custo mais barato, mas para isso teria que haver intervenção do Governo Federal e Estadual e dar mais participação para a gente que ao invés de mandar recursos para fora, de podermos destinar as nossas escolas para capacitar nossos alunos. Se não houver educação e conhecimento, não tem jeito. Com isso o desenvolvimento vem automático.
J.S: Qual o balanço que você faz desses 60 anos e sua expectativa para futuro?
W.M.: Primeiramente, eu quero só agradecer a Deus. Eu sou uma pessoa imensamente feliz, tenho uma família maravilhosa, meus irmãos, minha mãe, meus colaboradores da loja. Só tenho a agradecer a Deus, aos nossos clientes que sempre confiaram na nossa empresa, aos amigos, só tenho a agradecer. A nossa expectativa é continuar crescendo e fortalecer nossa marca, a Martoni Construai, e continuar trabalhando corretamente e levar segurança para nossos clientes, com bons preços e produtos.