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Rodrigo Teixeira: lutador no Jiu-Jítsu e na vida

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 16-09-2017 21:09 | 2178
Rodrigo é professor de Ji-Jítsu na Academia Fight Club e no projeto social que acontece na Arena João Mambrini
Rodrigo é professor de Ji-Jítsu na Academia Fight Club e no projeto social que acontece na Arena João Mambrini Foto: João Oliveira/Jornal do Sudoeste

O atleta e lutador de Jiu-Jítsu, Rodrigo Francisco Teixeira, é um cidadão paraisenseque vê no esporte a oportunidade de crescimento e desenvolvimento de nossas crianças, além de ferramenta para que elas possam trilhar um bom caminho. Multifacetas, Rodrigo, aos 33 anos, já foi de tudo um pouco, até encontrar no “Jiu” um motivo para seguir em frente e fazer do esporte a essência do seu viver. Filho de Rosângela Maria Teixeira e Francis Manoel Teixeira, irmão de Diego e Pâmela Teixeira, hoje ele é um dos atletas mais bem premiados em sua categoria e vem se destacando no esporte, mantendo junto ao atleta Weder Medeiros, um projeto social de Jiu-Jítsu que dá aulas para crianças que queiram aprender essa arte marcial. Com seu jeito simples e sem muitas ambições, ele conta que seu sonho é ver a sociedade entender o quanto esse esporte pode ser importante para a vida de todos.




Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância aqui em Paraíso?
Rodrigo Francisco Teixeira: Minha infância foi muito boa. Eu cresci no São Judas, que é um bairro que dizemos que é “meio fora” da realidade de Paraíso, lá nós falamos que é outra cidade. Sempre tive ótimos amigos e parcerias muito boas, até em relação a estudar e brincar. Eu levei minha infância bem. Lá estudei na Escola Estadual Paula Frassinetti, mas comecei no Verona, quando tinha entre cinco e seis anos. Quando entrei no ensino médio, fiz dois anos no Benedito Ferreira Calfiori (Ditão), e o último ano no São Judas. Depois voltei a estudar no Ditão novamente porque fiz um curso técnico em Informática, mas cheguei a fazer contabilidade no Clóvis Salgado antes disso.




Jornal do Sudoeste: Você era bagunceiro?
Rodrigo Francisco Teixeira: Não era bagunceiro como muitos. Mas eu gostava de me divertir, como qualquer outra criança saudável. A adolescência foi aquela fase onde tinha bandas de música, as festas, e isso era legal e prazeroso. Essa fase no Ditão foi muito boa, tanto que eu me senti muito bem ao retornar lá para estudar, isso fez muita diferença e ajudou muito na minha formação. A fase que mais me marcou nesse período foi no São Judas, onde havia a fanfarra e foi quando eu comecei a gostar de me envolver com projetos sociais. Nós tínhamos um grupo e dávamos aula, isso aconteceu por cerca de sete anos, não somente no São Judas, mas em outras escolas. 




Jornal do Sudoeste: Foi uma época saudável?
Rodrigo Francisco Teixeira: Sim, era tudo muito saudável. Hoje, infelizmente, grande parte dos jovens se reúne para se envolver com coisa errada. Recordo-me que meus pais, naquela época, já diziam que o mundo “estava perdido” e não estava nada. Hoje, há muita informação e a criança está muito exposta a isso, o que faz com que elas acabem absorvendo muita coisa ruim e trazendo isso para suas vidas sem saber como lidar; esse excesso de informação negativa é algo que eu acredito que prejudica bastante essas crianças e atrapalha na sua formação.  O que o Jiu-Jítsu faz é ajudar nesse processo de formação da criança também.




Jornal do Sudoeste: Você sempre praticou esporte?
Rodrigo Francisco Teixeira: Sim, sempre joguei bola, e pratiquei outros esportes também, como Karatê, Kung Fu, Capoeira, mas nada me cativou, dava vontade e eu praticava, porém nunca deixei de exercer uma prática esportiva.




Jornal do Sudoeste: Quando terminou o ensino médio, o que você fez?
Rodrigo Francisco Teixeira: Assim que eu terminei o ensino médio fiz contabilidade, trabalhei em um escritório por um tempo, mas depois saí. Apesar de gostar de números, não era o que eu queria e me afastei, mas o curso me ajudou bastante. Eu também sou marceneiro, fui vendedor, faço projetos e sempre precisei dos números. Houve uma época que fui dono de marcenaria e eu não imaginava o quanto o curso de contabilidade me ajudaria. Porém, não era algo que eu gostava, ao contrário da informática, que eu também já cheguei a trabalhar.




Jornal do Sudoeste: Hoje, o que te ajuda a sobreviver?
Rodrigo Francisco Teixeira: Além do Jiu-Jítsu, também trabalho em uma marcenaria, a Casa Grande, fazendo serviços internos, mas minha dedicação é a luta. Até o começo deste ano eu trabalhava com vendas,  mas é algo que toma muito tempo. Como eu queria dar foco ao Jiu-Jítsu e dar aula, deixei isso um pouco de lado; hoje sou sócio, junto com o Joel Zague, na Fight Club.




Jornal do Sudoeste: Como o Jiu-Jítsu entrou na sua vida?
Rodrigo Francisco Teixeira: O Jiu veio para mim na antiga Companhia do Corpo, na época eu malhava nessa academia e via alguns amigos lutando, como o Raggi, o Joel e alguns outros conhecidos. Em 2005 eu experimentei e fiz algumas aulas, mas achei meio bruto e parei, no entanto continuei malhando, apesar de ser um pouco relaxado para isso. Em 2008 eu entrei no Presídio de Paraíso como agente penitenciário e pensei em retornar, foi quando fiz algumas aulas na Fight Club, mas também larguei mão depois de um tempo.




Jornal do Sudoeste: Mas não desistiu?
Rodrigo Francisco Teixe-ira: Não. No ano seguinte, em 2009, um amigo meu, o Caio Tuzzolo, também entrou como agente penitenciário e me chamou para treinar. Então começamos novamente, ele me levou para o Jiu e conseguiu me derrubar. Na época ele disse algo que ficou marcado: se ele, que era gordinho, conseguiu isso, o que os presos, que malhavam o dia inteiro, fariam? Na época eu estava com quase noventa e nove quilos, então comecei a levar a sério o esporte e não parei mais, com exceção de uma época que eu quebrei o pé em um acidente de moto e tive que me afastar por sete meses. Mas retornei assim que me recuperei.




Jornal do Sudoeste: Você se lembra do seu primeiro campeonato?
Rodrigo Francisco Teixeira: Sim. Meu primeiro campeonato disputei em Passos, na Academia de Artes Marciais “Dojô Athlética”, de onde vem todos os nosso professores na Fight, treinados pelo mestre Ézio. O primeiro campeonato que disputei foi o sub da categoria e ganhei, eu era faixa branca, depois ganhei faixa azul aqui em Paraíso. Aquilo me deu ânimo para continuar disputando campeonatos. Não faço ideia de quantos já participei ou quantas medalhas conquistei até hoje, eu tenho o hábito de conseguir aquela conquista e viver aquele momento, não sou muito de ficar contanto e me gabando do números de medalhas.




Jornal do Sudoeste: É um esporte rentável?
Rodrigo Francisco Teixeira: O Jiu-Jítsu não é rentável em nossa região, assim como em muitas outras pelo nosso país. Muitos dos fatores que eu acredito que o professor Raggi parou é justamente por isso, você não consegue viver do Jiu, não há incentivo. Essa é a realidade. Você consegue se manter e ir controlando, mas não consegue ficar bem. Esse é um dos fatores mais frustrantes, você batalha, mas não há retorno financeiro. Porém acredito que não seja o esporte em si, porque em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, por exemplo, eles enxergaram o Jiu como um esporte muito importante. Hoje é obrigatório nas escolas de lá, tanto que muitos professores estão migrando para Abu Dhabi, que tem como salário base de 5 a 10 mil dólares. Eles enxergaram nessa arte, que é milenar, uma ferramenta fundamental para o ensino básico da criança. Então eu acredito que falta às empresas e governos acreditarem no valor que o esporte tem e que atende desde a criança até o idoso.




Jornal do Sudoeste: O Jiu-Jítsu é violento?
Rodrigo Francisco Teixe-ira: Ele não é um esporte violento, tanto que é usado como defesa pessoal e eu o passo para as crianças desta forma.  Você consegue trazer o esporte para a sua vida desta maneira e para o bem. Claro que como qualquer outra arte marcial, até mesmo uma caneta que você usa, pode ser usada para o mal.




Jornal do Sudoeste: O projeto voluntário de aulas de Jiu-Jítsu, como chegou a sua vida?
Rodrigo Francisco Teixeira: É um projeto que começou em maio, ele é de autoria do Weder Medeiros e eu fui convidado a integrá-lo por ser faixa preta e sempre quis trabalhar com isso, passar para a criança esses ensinamento. Acho que veio para mim na hora certa, porque tenho aprendido muito com esses meninos. É uma experiência diferente e temos que “rebolar” para dar conta, porque o nosso esporte requer muita disciplina e atenção e buscar isso na criança, que não tem isso no dia a dia, não é fácil. Fazer uma aula que é técnica e não cativa tanto as crianças visualmente foi um grande desafio e hoje nós conseguimos fazer isso.




Jornal do Sudoeste: Como você encara o esporte para a vida dessas crianças?
Rodrigo Francisco Teixeira: O esporte de modo geral ajuda muito nessa formação e na minha visão teria que ser obrigatório, porque contribui tanto para o desenvolvimento do corpo, quanto mental. O Jiu-Jítsu e também o Judô, contribui muito para a questão da disciplina, comportamento e dinâmica. O contato que esse esporte proporcionado entre os alunos, os ajuda a perder a timidez, porque nós mostramos a importância dessa socialização. Às vezes, a criança é muito retraída e tímida e o Jiu ajuda nesse desenvolvimento social, é o caso da Bianca, medalhista no Brasileiro ocorrido no domingo (10/9). Ela era uma menina muito fechada e hoje já se comunica melhor.




Jornal do Sudoeste: Como é ver o desenvolvimento desses alunos?
Rodrigo Francisco Teixeira: É satisfatório. Eu já estou em uma idade “semi-avançada” para o esporte, não que eu vou parar de competir, sempre gostei e vou continuar, mas o atleta que é professor e competidor é algo raro porque é muito desgastante. Mas o que nós queremos é isso, passar um legado para frente com o nosso trabalho e isso se faz por meio desses jovens. O meu intuito é esse. No caso da Bianca, por exemplo, eu desejo que ela seja meu espelho e passe o meu trabalho para frente, como o mestre Raggi fez com a gente, passando seu conhecimento para nós. Estou tentando fazer o mesmo, esse é o prazer do esporte, poder dividir e compartilhar o conhecimento.




Jornal do Sudoeste: Qual foi o seu maior desafio até hoje?
Rodrigo Francisco Teixeira: O maior desafio pode-se dizer que foi o brasileiro. Já estamos praticamente chegando ao final do ano com nossas competições e eu estava bem desgastado. Na minha primeira luta eu lesionei a coluna, mas consegui ganhar; na segunda luta que eu participei, já fui lecionado e perdi, isso afetou todo o meu emocional, isso porque eu havia me preparado e chegado tão longe e não sabia o que faria. Tive que parar, respirar e retomar o controle. Tomei um medicamento, me controlei, consegui me centrar e pegar o segundo lugar no absoluto que é o ápice na nossa competição, porque são faixas pretas de todos os níveis de peso, idade e força, é mais difícil que a competição por categoria. Para mim, foi difícil por este motivo, por ter passado por tudo isso e ainda ter feito uma grande conquista, e nós queremos trazer um título para nossa cidade e mostrar para nossas crianças que nosso trabalho está sendo bem feito.




Jornal do Sudoeste: Tem que saber lidar com a derrota também, não é?
Rodrigo Francisco Teixeira: Sim. A derrota faz parte do nosso dia a dia e nós ensinamos as crianças a lidar com isso também. Eu mais perdi que ganhei e todos vão passar por isso. O aluno tem que estar preparado para saber lidar com a derrota, e se aprende muito com elas, é um fato. O que digo muito na academia é que eu preciso daquele colega de treino que vai bater em mim, porque se eu tiver aquele que eu apenas consiga derrotar, qual a evolução que vou ter nisso? Então tem que ter aquele cara que será um desafio e que eu vou aprender com ele.




Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz desses 33 anos e o que você espera para futuro?
Rodrigo Francisco Teixeira: Vivi muito bem meus 33 anos. Eu sou cercado de pessoas muito positivas e eu acho que isso é o principal em nossas vidas. Eu tenho o prazer de estar onde hoje eu estou, dando aula na Fight Club, eu não me via fazendo isso e está agregando muito na minha vida. Também dou aula no projeto social, que é algo que eu sempre quis, e que fazemos sem ganhar nada, sem apoio algum, é um desafio que está dando certo e está caminhando. Estou muito bem, hoje. E eu quero que meus alunos e minha equipe se destaquem para podermos elevar o nome do Jiu-Jítsu e mostrar o quanto esse esporte é importante e vai favorecer a sociedade.