Crimes em família assustam cada vez mais

Por: Redação | Categoria: Arquivo | 23-02-2003 00:00 | 637
Foto:

Tem aumentado ultimamente os casos de crime envolvendo membros de uma mesma família. Tal comportamento, além de surpreender a grande maioria da população brasileira, é motivo de preocupação nos lares. Em São Sebastião do Paraíso, o Jornal do Sudoeste ouviu várias pessoas de diferentes segmentos, mas que concordam em alguns aspectos da situação.
Casos como o de Susana Von Richtofen, ou até mesmo como o de um pai belo-horizontino que matou a própria filha, de dois anos, atribuindo o crime à separação da esposa, são os principais destaques dos últimos tempos em relação aos crimes familiares. 
Para o jovem paraisense Edson Sebastião Valdivino dos Santos, funcionário público, o grande problema é a falta de diálogo. "É importante que haja uma boa estrutura familiar, porque jovens de hoje em dia só querem diversão e drogas, o que acaba causando isso tudo. Uma boa solução para o problema, seria uma maior convivência em família, essencial desde a infância. Se houvesse mais compreensão entre os membros de uma família, com certeza, haveria menos crimes absurdos como o dessa moça que por causa do namorado mandou matar os próprios pais," afirma o rapaz de 23 anos. 
Já para o pintor aposentado e atualmente, vendedor de bilhetes de loteria, Aílton Ferreira da Silva, a principal causa de crimes envolvendo membros de uma mesma família são as drogas. "A partir do momento que o filho ou o pai partiu para o vício, é que começam a surgir os principais atritos. Para resolver o problema, o ideal seria ter bastante diálogo no lar e em último caso, um acompanhamento médico. O que predomina é a falta de crença. Uma pessoa que acredita em Deus com certeza irá pensar duas vezes antes de cometer uma tragédia," comenta. 
A religião costuma ser apontada como uma das bases de sustentação da família. Um líder religioso tem sempre a necessidade de instruir e aconselhar pais e filhos. "O temor de Deus, que é um grande dom do Espírito Santo, está esquecido e não dirige mais a consciência das pessoas. O provérbio tal pai, tal filho sugere que os pais transmitam para os filhos o Espírito de bondade, paciência, obediência e as demais virtudes que fazem da família um ninho de amor e paz, tranqüilidade e felicidade para todos," salienta Monsenhor Hilário Pardini.

Questão psicológica
Ao contrário do que muita gente acredita, o que pode resultar em crimes envolvendo pessoas de uma mesma família é a predisposição que acompanha o assassino desde o seu nascimento. "A criança já nasce com instinto violento e agressivo. Ao longo da vida a tendência é que ela se adapte às regras impostas pela sociedade, é aquela fase onde se percebe que nem tudo acontece da forma que a gente quer e às vezes é preciso aceitar as situações," afirma a psicóloga Rosiane Helena de Oliveira.
Contudo, muitas pessoas não conseguem aceitar isso durante a infância, tão-pouco na adolescência e é a partir daí que começam a surgir os sintomas de um possível psicopata. "Para a pessoa doente é difícil aceitar a opinião dos outros, é alguém que vive transgredindo regras e se acha acima de Deus. É uma pessoa onipotente, acha que tem o poder de tudo e acredita estar acima do mal. Para ela, não existe culpa ou remorso. Ela sabe que fez uma coisa errada, mas não se sente mal por isso," explica Oliveira.
A psicóloga conta que é difícil especificar causas gerais que poderiam levar uma pessoa a cometer um crime dentro da própria família, mas acredita que alguns fatores podem contribuir para agravar situações de conflito. "Uma causa única é difícil especificar, mesmo porque cada caso é um caso. O que ocorre é uma perturbação mental que deve ser estudada para se encontrar as causas. Muitas vezes uma pessoa age desta forma devido a traumas familiares como um estupro acontecido na infância. O uso de drogas altera o funcionamento normal do nosso cérebro e pode levar à mudanças de comportamento, mas nunca ser o único responsável pelo ato, pode sim ser um agravante no caso de uma predisposição natural da pessoa, é como se os entorpecentes acionassem um mecanismo na mente, mas apesar de ter uma parcela em casos como esse, as drogas não levam alguém a matar um membro da família quando não há uma pré-disposição desde o nascimento," explica.
Sobre a questão da fé, Oliveira comenta que realmente a crença pode ajudar a evitar assassinatos em família. "Pelo simples fato de que uma pessoa que acredita em Deus, acredita também que numa vida além desta, poderá ser castigada por seus atos . A pessoa temente a Deus tem medo do pecado e da punição, diferente de quem não acredita, geralmente disposto a fazer tudo porque não tem nada a perder," salienta.
Pessoas como a adolescente Susana, capaz de planejar a morte dos pais, segundo a psicóloga, são anti-sociais, não desenvolvem e respeitam regras e moral, quase sempre se achando maior que Deus. "É necessário que haja diálogo entre pais e filhos, uma boa estrutura familiar influencia a formação da personalidade. No caso da moça, ela alegava que os pais eram contra o seu namoro. Disse que eles eram autoritários e não permitiam que ela saísse. Nesse caso, houve uma falha no relacionamento. O que deve ser notado também é que geralmente, crimes como esse independem do nível social . A Susana era rica, inteligente e no entanto surpreendeu todo mundo," destaca.
Nesses casos viver em sociedade é impossível para o psicopata, mesmo porque a reação das pessoas é muito negativa. "Causa uma revolta muito grande em quem acompanha de fora, mas estas pessoas precisam de ajuda. É difícil acontecer uma recuperação, não temos um prognóstico bom para casos assim. Geralmente essas perturbações mentais exigem que a pessoas seja assistida o resto da vida por acompanhamento médico bem próximo. Não adianta prender, nem em 30 anos ela vai mudar. Pessoas como a Susana devem ser isoladas até mesmo pela própria segurança, mas com um acompanhamento psicológico" opina.
Para as pessoas que se identificam com o perfil psicológico mencionado por Oliveira, ou até mesmo para familiares de pessoas com tais sintomas, a psicóloga recomenda a procura por ajuda especializada. "Geralmente pessoas assim não assumem que precisam de ajuda, é a família que deve procurar orientação. Ao menos para ter mais conhecimento e ver se há algo de errado. Quando mais cedo se tratar, mais fácil será evitar que crimes aconteçam dentro de casa," concluiu.