Na edição anterior o Jornal do Sudoeste noticiou a denúncia de usuários do Sistema Único de Saúde - SUS, dando conta da ausência de médicos plantonistas no Pronto Socorro Municipal de São Sebastião do Paraíso. O fato teria ocorrido durante a noite de quinta-feira, 27 de março, e demais períodos que se sucederam.
Procurado pela redação, o Secretário de Saúde, Marcelo Soares Safatle, esteve impossibilitado de responder a denúncia durante a semana anterior, à edição passada.
No final da tarde de segunda-feira, 14, Safatle prestou esclarecimentos e explicou o que, segundo ele, teria acontecido. "Houve entre os dias 24 e 28 de março, a ausência do médico de plantão, Dr. Marco, da cidade de Itaú. Isso aconteceu porque ele sofreu um acidente automobilístico. Realmente houve um período sem médicos plantonistas, em que, eu, pessoalmente fui para o Pronto Socorro atender os casos de emergência," justifica.
O secretário conta que na quarta-feira, 26, o acidente com o médico surpreendeu a todos. "Há também o Dr. Bernardo Albergari, nosso ortopedista, que está acidentado, inclusive recuperando-se em Belo Horizonte. Mas, apesar disso, nunca ficou nenhuma noite sem plantão, aconteceu de ficar quinta à tarde sem médico, e eu dispensei algumas consultas minhas para cobrir esta falta, no final da tarde, às 6 horas," afirma.
Nesse período, nós removemos os casos de maior urgência para a Santa Casa. Mas, reafirmo que o plantão ficou sem médico apenas uma tarde, não uma noite. Na noite de quinta-feira, quem ficou de plantão foi a Dra. Raíssa e o Dr. Luiz Eduardo", informa.
Para Safatle, o que aconteceu foi uma fatalidade. "Às vezes acontece um acidente ou uma doença, então a equipe procura contornar. O Dr. Iaperi, diretor clínico, tem feito mais do que a obrigação dele. Quando falta alguém no plantão, ele se dispõe a ajudar sempre e sem reclamar. A população pode ficar tranqüila. Nós estamos ficando atentos. Eu tenho ido pessoalmente ajudar," salienta.
A grade de plantonistas do Pronto Socorro está toda completa, inclusive para o período da Semana Santa, todavia, há comentários de que a classe médica paraisense tem se recusado a atender na instituição pública municipal. "Tudo está fluindo normalmente. Depois que nós assumimos a Secretaria de Saúde, o preço da hora que o médico ganha no Pronto Socorro é o dobro do que se ganhava anteriormente. Foi feito uma pesquisa na região, e comprovou-se que o que se paga aqui é o que se ganha à média regional," afirma.
Como o problema do possível desinteresse dos médicos em trabalhar na rede pública, conforme opina, não é financeiro, Safatle acredita que o motivo pode ser outro. "O volume de serviço é realmente grande, a nossa população é uma população que procura muito o serviço público. Nós temos uma média de 1000 consultas por dia. Uma média de 350 consultas no PS, 350 no ambulatório, além dos atendimentos nos programas Saúde da Família, são 9 no total," enfatiza.
Quase todos os médicos que atendem no Pronto Socorro são da cidade, porém conforme Safatle, há profissionais que vêm de outras localidades. "Hoje no PS tem médico de Passos, que é o pneumologista Carlos Barretos, tem o Dr. Rodrigo, meu filho, que vem de São Paulo a cada 15 dias, tem o Dr. Marcos, de Itaú de Minas, que foi quem sofreu o acidente," enumera.
O secretário comenta que a Prefeitura está passando por uma crise, mas que tudo está perfeitamente controlado na sua Secretaria. "Não tem nenhum médico sem receber o salário pelo trabalho feito, aliás nenhum funcionário. Estamos com a folha de pagamento em ordem," ressalta. Enfatiza ainda que o motivo da desmotivação dos médicos em relação à saúde pública é a forma como a população utiliza o serviço. "O grau de exigência da comunidade aumentou muito, isso aí realmente eu tenho presenciado.
Há uma maior agressividade da população em relação aos médicos, há falta de respeito e isso realmente assusta o profissional. O número de pessoas embriagadas e às vezes drogadas que são atendidas diariamente é enorme. A nossa luta para conseguir plantonistas é grande, não é fácil.
Agora essa questão da comunidade, o nosso pedido é para a população ter um pouco mais de compreensão, educação, saber esperar. Quero também pedir para as pessoas que não estando passando por um problema de saúde urgente, procurar o ambulatório no dia seguinte, procurar o Programa Saúde da Família do bairro. Nós temos nove PSFs nos bairros além de Guardinha e Termópolis. O que acontece é o seguinte: vai uma criança doente, a mãe faz a ficha para os quatro filhos. Leva uma criança para ser atendida e quer que o médico olhe a garganta dos outros três. O PS é para atender urgência. O médico poderia estar atendendo um caso grave, ela tira a chance de outra pessoa receber socorro imediato," ressalta.
Para Safatle, com certeza, esta situação é o que faz os médicos ficarem insatisfeitos com o trabalho público. "Causa uma certa insatisfação porque a população não sabe usar o serviço. Quando eu vim para Paraíso, tinha 40 consultas por dia. Agora tem 350. Aumentou muito, não dá tempo do médico parar um minuto. Não existe verba nova para a saúde. Pelo contrário, até diminuiu. Então não tem como você arrumar novos médicos, a população pede para contratar mais, mas não tem como. Para contratar tem que pagar. Se todos colaborarem, com certeza o serviço de saúde ficará melhor para todo mundo" finaliza.
Elezângela de Oliveira