Tem se tornando cada vez mais frequente, pessoas ocupando espaços públicos em São Sebastião do Paraíso, boa parte fazendo uso de bebidas alcoólicas. Além disto, também há considerável número em situação de rua que, em sua maioria, segundo informações, não aceita ajuda ou não quer se submeter a regras de casas de acolhimento. Anteriormente se aglomeravam em determinados locais, mas atualmente, em grupos, ou solitariamente são vistos por toda a cidade. É uma realidade preocupante e que precisa de solução prática, já que, em alguns casos, tem ocorrido assédio por parte de pedintes que, segundo relatos, dizem palavrões quando não são atendidos, via de regra, pedindo dinheiro. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social afirma que tem realizado trabalho de apoio dentro das suas limitações, mas se diz de mãos atadas quando o cidadão nega a ajuda.
Enquanto corotes de bebidas são consumidos em goles compartilhados, há sempre um do grupo que costuma ir ao encontro de quem estaciona um veículo, ou passa caminhando por praças ou ruas, onde estão. O pedido é de ajuda para "um café", mas esse pretexto tem sido deixado de lado, e costuma-se ir "direto ao assunto", afirmando "ser morador de rua, e que quer tomar uma pinga". Embora sejam vistos com frequência durante o dia, de uns tempos para cá, também têm sido assíduos em alguns cruzamentos de ruas e avenidas.
Comerciantes entraram em contato com o Jornal do Sudoeste, e relataram que, em alguns casos pedintes permanecem na porta de estabelecimentos, ou nas imediações abordando clientes, causando constrangimentos.
Conforme explica o secretário de Desenvolvimento Social, Marcelo São Julião, a secretaria tem feito um trabalho de acompanhamento junto ao Centro de Referência de Assistência Social (CREAS) e andado pelas ruas para registrar esses casos. Segundo destaca, grande parte dessas pessoas, principalmente os casos envolvendo o bairro Lagoinha e região, é de pessoas que moram em São Sebastião do Paraíso, recebem aposentadoria, e ficam ali na Lagoinha, bebendo durante o dia e retornando para suas casas a noite.
"Temos buscado fazer um trabalho de conscientização com essas pessoas, buscamos identificar se existe algum migrante e se há o interesse dessa pessoa em ir embora. É um trabalho que é feito, inclusive, com o apoio da Guarda Municipal, para que não haja nenhum ato violento. Claro que também temos que respeitar o direito do cidadão de ir e vir e não podemos obriga-los a nada. Temos que fazer o nos é permitido dentro da lei. É um trabalho difícil de ser feito, já que é um público que, no caso das pessoas que são de fora, a maioria não tem documentação, e sem identidade não é possível conseguir passagem para que possam voltar para a terra deles", explica.
Conforme Marcelo é feito um estudo de como essas pessoas chegam até o município, e a maioria é de outras cidades que sabe que Paraíso faz esse trabalho para conseguir passagens e restituir esse cidadão a sua família, e acaba "despachando" essas pessoas para o nosso município. Em relação aos próprios morados de Paraíso, a maioria é alcoólatra, que fica na rua por vontade própria. "Conversando com essas pessoas, a maioria diz que a população de Paraíso é muito boa e sempre ajuda com algum dinheiro. Isto acaba por atraí-los".
A Lagoinha era um ponto que já vinha sendo trabalhado pela Secretaria de Desenvolvimento Social, além de outros como a Praça da Estação. "Agora esse pessoal está se concentrando nesses locais. Temos feito um trabalho de conscientização e agora estamos com uma parceria muito boa com a Chácara Pedacinho do Céu. Neste fim de semana, por exemplo, a previsão é de um período de muito frio, e já tem um pessoal nosso na rua orientando que caso essas pessoas que moram na rua queiram ser abrigadas para não passar frio, a Chácara irá recebê-los", acrescenta.
Entretanto, a dificuldade maior está no fato de a maioria não querer ajuda, já que para acolhimento em um abrigo a primeira coisa é tomar um banho e não pode fazer o consumo de bebida alcoólica. "Da última vez que fez frio e houve uma comoção muito grande na cidade, nós fomos aos principais pontos onde havia moradores de rua e conversamos com essas pessoas. A maioria se negou a aceitar ajuda, porque nesses abrigos existem regras, e essas pessoas não estão habituadas a seguir regras, e são regras muito básicas: você não pode beber e tem que tomar um banho assim que chegar", conta.
Para Marcelo, é uma situação que frustra bastante aos profissionais da assistência social, que buscam ajudar o máximo que podem, mas que não são reconhecidos já que esse trabalho não aparece para a sociedade. "Muito pelo contrário, nós temos atuado incansavelmente, mas não posso obrigar uma pessoa a fazer o que ela não quer, ela tem direitos constitucionais garantidos. O que buscamos, sempre, é ir atrás dessas pessoas e conversar, tentar convencê-la a ser atendida e ter uma condição de vida melhor. Se eu obrigasse essa pessoa a sair de onde ela está, usando métodos coercitivos, estaríamos violando o direito desse cidadão de frequentar lugares públicos", ressalta.
Todavia, Marcelo São Julião ressalta que, em contrapartida, entende que ficar abordando pessoas de forma coercitiva para pedir dinheiro, é uma violação de direito do cidadão e que pode vir a se tornar caso de polícia. Denúncias que chegaram até ao Jornal do Sudoeste dão conta de que uma mulher sofreu várias injúrias por parte de um desses pedintes na Lagoinha após dizer que não iria dar dinheiro a ele. "É uma situação complicada, porque foge um pouco da esfera de vulnerabilidade daquela pessoa e passa fazer parte de uma esfera criminal. Há casos e casos que precisam ser estudados e serem tratados cada um de uma forma", diz.
Outro problema, já ressaltado pelo secretário, é que grande parte desses moradores que são migrantes, não possuem identidade, e isto torna impossível o transporte rodoviário, já que é necessária a identificação para embarque em qualquer empresa. Há situações que a Assistência Social consegue viabilizar a documentação para essa população, buscando as informações por meio de uma investigação, até mesmo para tentar localizar a família dessas pessoas.
"Há um caso, de uma pessoa que mora em uma cidade no Sul de Minas. Fizemos um contato com a família dessa pessoa e nos disseram que mandavam o que era necessário e que receberia ele, mas que essa pessoa costumava ficar no máximo 15 dias e depois saía para a rua novamente. É uma opção que ele faz. Há casos em que não temos o documento e por isso esse morador de rua não pode viajar, então oferecemos a Chácara até que ele consiga o que é necessário e cai naquele problema que já comentei, como existem regras, a pessoa não quer ser abrigada", lamenta.
Por fim, São Julião destaca que este acaba sendo um trabalho ingrato, por não aparecer aos olhos da população e, também, pelos munícipes achar que pelo simples fato de reportar o caso a Secretaria, aquela pessoa irá desaparecer e não ser mais encontrada na situação que estava. "Há toda uma história de vida por trás de tudo. Nós temos feito aquilo que podemos fazer, e dentro da lei. Não são lixos humanos que eu vou empurrando. Temos que viabilizar um pouquinho de dignidade para eles também, mas em contrapartida cobrar deles o respeito com as pessoas que eles abordam", completa.