APAC JUVENIL

Minas ganha a primeira Apac Juvenil do mundo

Projeto piloto em Frutal poderá receber até 60 menores em conflito com a lei
Por: Redação | Categoria: Cidades | 19-10-2019 07:27 | 682
Inauguração da Apac Juvenil marca o início de uma nova etapa na história das Apacs
Inauguração da Apac Juvenil marca o início de uma nova etapa na história das Apacs Foto: Cecília Pederzoli/TJMG

Frutal, no Triângulo Mineiro, entrou para os anais da história das Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs) com um ato pioneiro, celebrado sexta-feira, 4 de outubro: a inauguração, na comarca, de uma unidade dedicada ao público juvenil.

Na unidade, batizada de Apac Juvenil Centro Educacional Doutor Mário Ottoboni, será desenvolvido o projeto piloto de aplicação da metodologia apaquiana junto a menores em conflito com a lei. A experiência é inédita e a unidade é a primeira do gênero no mundo.

O valor da obra, cerca de R$ 770 mil, foi integralmente custeado pelo Poder Judiciário local com verbas de prestações pecuniárias. Iniciada em janeiro de 2019, a obra foi concluída em nove meses. Trabalharam na construção os recuperandos da Apac masculina da comarca, que tem também uma unidade dedicada ao público feminino.

Os recuperandos da Apac masculina trabalharam nas obras da Apac juvenil, concluídas em nove meses. Na inauguração, foram homenageados e se emocionaram.

Ao discursar, o presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), desembargador Nelson Missias de Morais, falou de sua emoção diante do momento. Lembrou que foi um dos primeiros a atuar na metodologia apaquiana, quando descobri que a Apac recuperava não apenas os apenados, mas também os juízes".

Temos trilhado um caminho altamente positivo na valorização do sistema apaquiano, disse aos presentes. Contou que o Judiciário mineiro apoiou a criação de centenas de vagas em Apacs, em Minas, e tem sensibilizado autoridades de todo o País a investirem no modelo.

Crescimento e maturação
O presidente ressaltou as peculiaridades da unidade que atuará com adolescentes. "Precisaremos de cautela, muita cautela, no trato com todos eles, de modo a que associem sua passagem por aqui, que será breve, à necessidade de se prepararem dignamente para uma vida feliz e produtiva", observou.

"Não poderemos nos comportar como carcereiros nem como meros tutores, mas não deveremos abrir mão de nossa responsabilidade de orientadores do processo de crescimento e maturação desses jovens, eventualmente infratores, mas potencialmente homens com um futuro a descobrir e construir", ressaltou.

Entre outros pontos, o chefe do Judiciário mineiro afirmou que a inauguração do Centro Educativo Doutor Mário Ottoboni "terá o condão de nos ensinar que precisamos construir também alternativas para o tratamento dos menores infratores".

"Sabemos todos que a solução, a "grande solução", só virá com o fim da nossa desigualdade social e econômica, que é imoral, e com o investimento na educação básica", disse o presidente Nelson Missias.

Divisor de águas
"Diante das circunstâncias vivenciadas pela comarca de Frutal no enfrentamento de menores em conflito com a lei, ter a oportunidade de inaugurar um Centro Socioeducativo Juvenil, sob a gestão da Apac, significa investir no ser humano em seu momento mais sensível", destacou o diretor do foro da comarca, Gustavo Moreira.

O juiz observou ser de conhecimento geral o fato de a maioria da população carcerária do País ter idade entre 18 e 25 anos. Boa parte deles pratica atos infracionais que não foram objeto de responsabilização ou aplicação de medidas socioeducativas.

"Assim, investir em um centro de ressocialização de menores tem por escopo buscar construir uma sociedade mais justa, pacificada e igualitária em oportunidades àqueles que se encontram em período de formação", disse.

Na avaliação do juiz, educar estes menores e reinseri-los em atividades educacionais, profissionalizantes e voltadas à proteção da família produzirá impactos nos números de criminalidade que afetam todo o território nacional.

"A iniciativa representa conquista ímpar à comarca de Frutal, que se destaca por ser a primeira em território nacional a investir em uma metodologia reconhecida nacionalmente pela eficácia e pelo baixo custo. Certamente, a unidade será um divisor de águas na recuperação de menores em conflito com a lei", declarou o juiz.

 

Novo desafio

O diretor-executivo da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), Valdeci Antônio Ferreira, explica que a Apac nasceu em 1972, na cidade paulista de São José dos Campos, por iniciativa do advogado e jornalista Mário Ottoboni. A FBAC é a entidade que assessora e fiscaliza as Apacs em todo o mundo.

"Toda a metodologia foi desenvolvida, inicialmente, para atender ao público masculino", observa. Foram somente três décadas depois, em 2002, com a metodologia já consolidada, que surgiu a primeira Apac Feminina, em Itaúna.

O diretor da FBAC ressalta que as adaptações para o atendimento às mulheres exigiram três anos de muito estudo e pesquisas. "Só depois desse período é que começamos a incentivar a multiplicação das Apacs femininas em Minas e outros estados do País", observa.

 

Validação

"A FBAC participou, deste o início, da elaboração do projeto pedagógico e do plano arquitetônico da unidade, pois para essa experiência juvenil precisam ser considerados vários fatores. Principalmente, o fato de que a psicologia do adolescente infrator é diferente do adulto infrator".

Outro aspecto que ele destaca é a legislação, que difere da aplicada ao público adulto. "A FBAC estará muito próxima desse projeto piloto. Precisaremos de tempo para fazer as devidas adequações na metodologia para esse novo público", declara.

De acordo com Valdeci Ferreira, será preciso, no mínimo, um ano para a validação da experiência. "Somente após esse tempo, poderemos incentivar sua adoção em outras comarcas. Nenhuma outra Apac Juvenil, além da de Frutal, poderá ser iniciada sem que a FBAC valide primeiro a experiência de Frutal", ressalta.

 

Modelo

De acordo com o presidente da Apac de Frutal, Natanael Silveira de Souza, o pedido de instalação de uma unidade dedicada ao público juvenil, na comarca, partiu do diretor do foro, juiz Gustavo, diante da necessidade de uma casa apropriada para receber menores em conflito com a lei.

A unidade juvenil entrará em funcionamento em janeiro de 2020. "No início, será preciso um trabalho de adaptação, mas estamos certos de que a Apac Juvenil de Frutal se tornará um modelo e essa experiência será expandida por todo o País, recuperando mais e mais jovens", avalia.

A Apac Juvenil de Frutal tem quatro mil metros quadrados de área total, sendo 1.206 metros quadrados de construção, divididos em área administrativa, regime semiliberdade, regime de internação provisória e regime de internação, com capacidade para abrigar um total de 60 jovens.

No espaço lúdico, na área externa, há uma área de jardinagem de mil metros quadrados e uma quadra de areia. A área administrativa é composta por recepção, sala da diretoria, sala de apoio aos plantonistas, sala administrativa e salas de atendimento odontológico, psicológico e de assistência social, cozinha, dispensa e varandas e banheiros acessíveis.

Em seu nome, o centro educacional homenageia o idealizador da metodologia apaquiana. Estudioso do sistema penitenciário brasileiro, Mário Ottoboni criou, na década de 1960, um grupo para avaliar de perto a realidade nos presídios e estudar o tema. Dessa experiência, e sob a liderança dele, surgiu o método Apac.

O que são as Apacs
As Apacs são uma alternativa ao sistema prisional comum. Consistem em uma metodologia que aposta na recuperação do ser humano que cometeu um crime, tendo como base de seu trabalho a humanização do cumprimento das penas privativas de liberdade.

(Assessoria de Comunicação Institucional - Ascom Tribunal de Justiça de Minas Gerais - TJMG)