198 ANOS PARAÍSO

Vocação pela aviação

Por: Roberto Nogueira | Categoria: Cidades | 25-10-2019 11:14 | 1687
Aeroporto Joaquim Montans Jr
Aeroporto Joaquim Montans Jr Foto: Reprodução

Para escrever este artigo, desde que me foi proposto fazer uma abordagem sobre um capítulo da história da aviação em São Sebastião do Paraíso, necessário foi fazer uma viagem ao século passado e adentrar em um mundo onde pessoas desbravadoras encaravam o futuro com coragem e sem medo do que estava por vir. Quase um século depois os avanços foram mais tecnológicos, pois várias mentes insistem em não entender que o caminho da evolução é percorrido ao caminhar para frente e em busca de novos acontecimentos.

Como falar do presente, sem embasar na história, eu não conseguiria. Então, nem a internet dos temos atuais me possibilitou chegar aos primórdios para pesquisar, conhecer e vivenciar algumas das façanhas da história da aviação em São Sebastião do Paraíso. Foi preciso recorrer à biblioteca e como nos velhos tempos debruçar sobre os livros para ter acesso às informações que a grande rede não possui. De repente lá estava eu com caneta e caderno na mão para consulta, como nos meus tempos de estudante.

Pois bem, corria o ano de 1925, portanto quase um século atrás, que os moradores de São Sebastião do Paraíso se reuniam para assistir saltos de paraquedistas. Conta a história que a antiga pista de pouso de aviões de pequeno porte da cidade tinha cabeceira onde hoje inicia-se a Avenida Itália e ela seguia em direção ao San Genaro, atualmente. O lugar era conhecido como "Campo da Aviação" e os registros de época datam que em 1.939 iniciava o funcionamento da pista de pouso e decolagem, local onde inclusive possui hangar que tinha capacidade de abrigar até seis aeronaves de médio porte.

Também neste tempo já funcionava por estes lados o Aeroclube de São Sebastião do Paraíso. A escola foi responsável pela formação de inúmeros pilotos, inclusive de outras localidades. O órgão foi detentor de alguns modelos de aviões para treinamento, como o mais recente deles ainda utilizado modelo Aero Boero AB-115, que segue sendo usado na formação de pilotos para a aviação civil.

As primeiras providências no sentido de incluir de vez Paraíso no rol das cidades interioranas dotadas não de simples campo de aviação, mas de um moderno e seguro aeroporto a ponto de servir também a região possui data em 1947. Façanha para a época, antes da metade do século passado, já que naquele tempo já se falava em escassez de recursos para estas finalidades. O campo de pouso e decolagem pertencia à família "Alves Pinto" que depois cedeu o espaço para exploração e administração do Aeroclube local.

Por outro lado, o País vivia um período de prosperidade, com crescente intercâmbio comercial realizado por empresários de Paraíso. Eles passaram a se locomover por outras regiões do Brasil através de táxis aéreos. Possantes aeronaves eram utilizadas e exigia o aperfeiçoamento do campo de pouso e decolagens. Também naquela época já funcionava o Aeroclube com a finalidade de formar pilotos civis, não só da cidade, mas também de outros municípios da região. Estes fatos são narrados no livro São Sebastião do Paraíso, História e Tradição, de autoria do historiador Luiz Ferreira Calafiori.

Também do mesmo autor, a obra Asas Voadoras, no céu de Paraíso, registra vários episódios, passagens e acontecimentos de Paraíso no campo da aviação. Antes dos anos 60 o transporte aéreo do município ganhou novo impulso, com os primeiros movimentos no sentido de se criar o novo aeroporto. O Aeroporto dos Pilões, posteriormente denominado Aeroporto Joaquim Montans Jr. foi construído no mandato do então prefeito Sebastião Montans em seu mandato entre 1952 a 1955. Esforços foram feitos pelos administradores da época, mas foi ao final da década de 70 e início dos anos 80, com a construção de grande hangar é que o local definitivamente passou a abrigar aeronaves de empresários locais e daqueles que aqui chegavam.

Outro salto ocorreu 20 anos depois quando a pista medindo 1600x30 passou a ser toda pavimentada. As instalações do aeroporto receberam melhorias como aparelhos e acessórios para balizamento noturno, sala de embarque, check in e outras instalações. Reinaugurado em dezembro de 2002 no mandato da prefeita Marilda Petrus Melles, o Aeroporto Municipal Joaquim Montans Júnior passou a servir de referência para toda a região. Por ele passaram diversas personalidades do mundo artístico, políticos, empresários, tendo o local servido para diversos eventos relacionados à aviação, como apresentações da Esquadrilha da Fumaça e exposições de aeronaves diversas.

Salvando vidas
Uma de suas mais recentes vocações nos tempos atuais tem sido o de salvar vidas. O aeroporto bem localizado e melhor equipado passou a ser referência de voos pela vida. Equipes médicas aqui chegam com facilidade para a captação de órgãos que são encaminhados a pacientes que aguardam por transplantes. Diga-se de passagem, somente se tornou possível devido à modernização da Santa Casa de Misericórdia que hoje possui instalações adequadas e equipes capacitadas para estas finalidades.

Também passaram a ser frequentes as chegadas e partidas de aviões aeromédicos tendo os mais diversos destinos, seja do interior de Minas, de Belo Horizonte e até mesmo São Paulo. Inúmeras pessoas já foram beneficiadas pelo pronto atendimento e a agilidade que o aeroporto possibilita. Somente aqueles que já foram atendidos por estas medidas sabem dar o devido valor à estrutura existente e que acabou se tornando fator importante para o prolongamento da vida seja de um recém-nascido para se instalar na UTI Neonatal da cidade, ou de quem necessitou chegar até o Hospital do Coração. Daqui para outros lugares partiram aeronaves com pacientes rumo a outros hospitais, visando o prosseguimento da vida.

Em meio a estas medidas outras ações já foram planejadas, projetadas e continuam sendo arquitetadas no sentido de melhorar ainda mais o atual aeroporto. A história registra que em Paraíso já existiu até mesmo empresa de táxi aéreo. Novas apresentações da Esquadrilha da Fumaça, outros Paraíso Aéreos, ampliação de pista, instrumentalização, construção de pista de retorno e ampliações no terminal de embarque e desembarque são metas a serem estabelecidas. O município estava inserido no Plano de Aviação Regional, que foi abandonado pelo Governo Federal quando aguardava por investimentos.

Enquanto isso vale a pena mergulhar no passado e ver como aqueles homens empreendedores do século passado, que sem saber o que o futuro os esperava, foram corajosos em seus atos de desbravamento. Novamente este espírito de crescimento, de tornar-se referência, de estar inserido no contexto, de formar pilotos e de ser destaque neste mundo da aviação deve estar presente, ser constante e nunca se acabar. Os "ases" do passado certamente vão vibrar com os destaques e detalhes de um futuro distante, propostas de voos mais altos e distantes, tornando-se realidade no momento presente. Mais do que sonhadores, foram idealizadores, realizadores e construtores de tudo que se tem no campo da aviação atual.

* Consultas as obras: São Sebastião do Paraíso História e Tradição, 5ª Edição; Asas Voadoras, no céu de Paraíso, ambos do escritor e historiador Luiz Ferreira Calafiori

Aeroporto Joaquim Montans Jr
Aeroporto Joaquim Montans Jr
O lugar era conhecido como “Campo da Aviação” (próximo a Av. Itália) e os registros de época datam que em 1939 iniciava o funcionamento da pista de pouso e decolagem
Equipes médicas aqui chegam com facilidade para a captação de órgãos que são encaminhados a pacientes que aguardam por transplantes
Assinatura autorização para reforma do Aeroporto Joaquim Montans Jr.