Através de pesquisas feitas nos registros históricos consta que o desbravamento na região que hoje compreende o estado de Minas Gerais se iniciou no século XVI, por meio do trabalho dos bandeirantes, em busca de ouro e pedras preciosas. Em 1709, foi criada a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, que, em 1720, foi desmembrada em São Paulo e Minas Gerais. Por estes tempos os integrantes da família Antunes Maciel por aqui chegavam para dar início ao marco zero da história de São Sebastião do Paraíso. Ela não para, e a cada dia tem um novo capítulo sendo escrito. Já são quase 200 anos de histórias, feitas de vários momentos: alegres, tristes, empolgantes, emocionantes e até hilariantes. Tudo isso merece ser revivido, recontado neste marco histórico para o qual caminhamos a passos largos.
Passaram-se os tempos do garimpo em busca das pedras preciosas. O que se consolidou por estas terras foi o ouro verde, fruto do café, derivado da cafeicultura que aqui se consagrou transformando-se na maior riqueza, na principal fonte de renda do município paraisense. Até os dias atuais é esta cultura agrícola o carro chefe que ainda move a economia da cidade, mas que com o passar dos anos e a evolução dos tempos vem cedendo espaços para que outras atividades venham ser agregadas no rol, entre tudo aquilo que faz girar a roda da existência de São Sebastião do Paraíso.
De tempos em tempos o mundo passa por profundas e intensas transformações nos seus mais diversos setores produtivos. Recordo-me dos meus tempos da Faculdade de Administração, do saudoso professor Alécio Tubaldini a nos ensinar que a revolução industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas. Foram fase distintas em épocas diferentes. Do século XVIII na Europa, na primeira fase, depois na segunda etapa já no século XIX, principalmente no pós-primeira guerra mundial e então no Brasil a partir da década de 30, resume-se em períodos de grandes transformações.
A esta altura Paraíso já era servida por importante linha férrea para o escoamento da produção cafeeira do município e da região. O sistema sucumbiu antes mesmo de outra grande revolução atingir no chamado mundo moderno, um universo inestimável de afetados desde continentes, países, estados municípios, e chegou, de forma avassaladora, alcançando empresas, famílias, pessoas, enfim o indivíduo. Refiro-me a tal da globaliza-ção, cujos modelos econômicos fez com que o mundo dos negócios fosse totalmente repensado. Tudo isso aliado às transformações tecnológicas que ganharam velocidade gigantesca fez com que o mundo fosse visto e vivido de maneira diferente do que era antes.
Mudaram-se os sistemas de negócios, as empresas tornaram-se mais dinâmicas e a indústria e o comércio também tiveram que se transformar. Com mais competitividade as empresas tiveram que reciclar. O fortalecimento das atividades existentes ou mesmo a diversificação dos meios produtivos possibilitou o surgimento de novas ordens na cadeia sucessiva da economia. Diante de todas as transformações, São Sebastião do Paraíso ficou arraigada na monocultura cafeeira e demorou para diversificar sua economia, sem muita profundidade.
Veio a fruticultura, estabeleceram-se pequenas e médias industrias, mas nenhuma delas conseguiu assumir a ponta e ser o carro chefe, função ocupada pela cafeicultura. Nos lugares onde outras atividades tiveram mais aberturas registrou-se mais equilíbrio nos tempos mais difíceis enfrentados pelas crises econômicas enfrentadas mundialmente. Certamente que cada setor se recupera em ritmo diferente e os efeitos são sentidos de maneira menos drástica, onde a maioria depende só de um e que este não responde de imediato as necessidades de toda uma cadeia produtiva dependente de uma monocultura.
Aos poucos depois de grandes solavancos e perdas inestimáveis em seu setor mais precioso, Paraíso novamente parte em busca de nova abertura para o mercado, para o mundo globali-zado, o mundo tecnológico. O mundo de hoje das grandes transformações tecnológicas exige ações concretas, ágeis, mudanças cirúrgicas e pontuais que a modernidade hoje exige. É preciso ser pontual na busca de novas vocações para agregar valores de imediato à sociedade, à economia, enfim em tudo o que se pensa em relação a uma cidade que pretende crescer e desenvolver ao ritmo dos acontecimentos dos tempos atuais.
São Sebastião do Paraíso novamente caminha para se tornar uma cidade universitária, algo que se tentou há cerca de 20 anos. Um projeto interrompido, mas que outros municípios souberam aproveitar e que hoje desfrutam dos benefícios conquistados. Cabe agora aos paraisenses abraçar a oportunidade que se apresenta e a partir desta abertura, de fato escancarar as portas para tantas possibilidades que já se aventaram para um paraíso de situações, que se antes tivessem se concretizadas, certamente teria colocado a cidade em patamares diferentes dos quais nos encontramos hoje.
Há necessidade de maior abertura para o novo, o inexistente, sem medo e sem reservas para mais tarde não lamentar que, poderia sim, ter tentado, do que fechar portas. Mais do que isso, importante saber qual é a vocação da São Sebastião do Paraíso do futuro, a partir destes 200 anos que estamos prestes a completar. Cidades mais jovens que optaram pelo novo, sem deixar o tradicional, sem abandonar a base de lado estão conseguindo se sobressair com maior e melhor desenvoltura.
Recordo que anos atrás foi realizado um levantamento e apurado um diagnóstico sobre o município paraisense. Vários foram os apontamentos feitos indicando os caminhos a serem percorridos, mas apesar da excelente iniciativa de apurar para onde ir, os passos seguintes ficaram presos, retidos e impossibilitados de prosseguir. De onde poderiam advir avanços e ganhos consideráveis, fatores que poderiam colocados em prática e ajudar a impulsionar no desenvolvimento de Paraíso não alcançaram os efeitos desejados, ao menos na dimensão que poderia ter ocorrido.
Mais do que necessário se faz que se tenha um projeto para Paraíso, principalmente estabelecendo metas, prazos e objetivos para serem alcançados. Em seguida é arregaçar as mangas e colocar mãos à obra. A cidade tem tudo para deslanchar, se tornar uma São Sebastião do Paraíso muito maior do que ela é hoje e se tornou assim pela grandeza de sua gente, a generosidade de seu povo hospitaleiro, pujante e determinado. Se forem criadas as condições possíveis, necessárias e essenciais para alavancar o desenvolvimento da cidade é certo que o paraisense e todos que aqui vivem estão prontos a abraçar esta causa.
A cidade do futuro será sustentável dos pontos de vista econômico, social e ambiental; e boa para viver, trabalhar, empreender e inovar. Não há nenhuma dúvida de que o futuro da humanidade está na cidade. Ela promove a circulação e o confronto de ideias, deve ser estimulante para os negócios, permitir o florescimento da cultura e das artes e ajudar a concentrar os recursos para oferecer educação e serviços de saúde de qualidade.
Já na Grécia de 2.500 anos atrás havia uma concepção da polis e a percepção de seus valores. A ideia era de que da convivência no espaço urbano, de onde nasceram a política e a democracia é que se consolidaria o mundo ideal para a sociedade da época. Com o passar dos anos, a evolução dos tempos, as inovações do mundo moderno e cada vez mais tecnológico é possível muito mais. Será que temos um projeto de futuro enquanto coletividade?
E o que é a cidade ideal nos tempos de hoje? E no futuro, o que será? Sustentável dos pontos de vista econômico, social e ambiental. Terreno fértil para a inovação. E, sobretudo, ambiente bom para viver, trabalhar e empreender. Essas são características desejáveis e perseguidas por cidades mundo afora. Que tenhamos um projeto exequível para a nossa Paraíso do futuro e quando chegarem os anos vindouros, se possa refletir que aquele momento presente, foi projetado no passado, como proposta de um futuro bom e de dias melhores no por vir.